ESTRANHO
 
— Puta que pariu. E agora... — Gritou Marcelo preocupado.
­— Acha que alguém mora aqui. — Perguntou Laura.
— Acha mesmo que mora alguém aqui, aqui!
— Calma aí cara... — Falou Alex empurrando-o.
— Calma aí, é isso, se não tivesse me dado um soco, não estaríamos aqui.
Daniela segurou Alex pelo braço, impedindo que fosse para cima de Marcelo.
— Ei vocês dois, querem começar de novo... serio... — Disse Lucas separando-os.
Naquele momento o que mais importava era tentar encontrar alguma frequência no rádio para poder pedir ajuda, mas seria difícil já que todos os canais só tinham estática. A lancha flutuava a poucos metros da praia. Michele tirou a camiseta, inclinou-se da beira do deck e saltou na água. Lucas tentou impedi-la, mas não consegui.
— O que está fazendo maluca. — Berrou Lucas.
— Não vamos conseguir nada aí parados... — Respondeu Michele.
Mesmo que seu instinto lhe dissesse para não fazer aquela estupidez, Marcelo também não podia ficar parado sem fazer nada, não dentro daquele barco.
— Não quero ir... — Disse Laura. Alex beijou-a, e antes que ela pudesse impedi-lo, ele saltou na água.
— Vai me deixar sozinho...
— Vou com eles gata, só espera no barco.
— Alex volta para essa lancha...
— Já volto benzinho. Só fica aí e espera nos voltarmos.
— Está bem Marcelo? — Perguntou Daniele.
— Acho que sim. Não está doendo mais. Porque pergunta?
— Não sei! Só fiquei um pouco preocupada. — Entreolharam-se.
— Para falar a verdade, enquanto estava apagado tive um sonho estranho, sonhei que estava perdido, não tenho certeza aonde, só me lembro de fleches, mas...
— O que?
— Havia uma coisa se aproximando. Não tenho certeza do que era, mas estava chegando perto. Enquanto tentava me esconder, eu ouvi todos vocês gritando de dentro da floresta, e quanto mais tentava me aproximar mais suas vozes se afastavam...
— Vão ficar conversando na água ou vão nadar.
— Vá se foder Alex. — Falou Marcelo.
Lucas foi o primeiro a chegar na praia e logo que caminhou pela areia encontrou dúzias de corvos mortos, apodrecendo pela praia, todos bem enfileirados numa linha reta. O cheiro da carniça era quase insuportável.
— O que será que aconteceu aqui? — Perguntou Lucas cobrindo o nariz.
— Será que estavam doentes? — Disse Michele.
— Não... eles foram abatidos, não está vendo... e depois os agruparam eles em linha reta.
— Que doente faria isso com eles...
— Não sei, mas acho melhor nem descobrirmos.
Alex cutucou um dos corvos com um pedaço de graveto, e notou que alguns deles ainda estavam vivos e próximo dali havia um par de pegadas seguindo para dentro da floresta.
— Vejam, acho que estavam aqui a pouco tempo.
— Pelo menos sabemos que tem gente. — Respondeu Marcelo.
­— Quer mesmo pedir ajuda para pessoas que fazem isso.
— Talvez seja parte da cultura... vou ver se acho eles, fiquem aqui que já volto.
Marcelo caminhou pela areia inquieto e nervoso, desconfiado e apreensivo. Ele franziu a testa quando Michele pediu que a deixasse ir junto, e mesmo que estivesse excitado suficiente para aceitar, ele recusou.
— Fique com os outro. Eu volto logo. — Beijou sua mão.
Ela acompanhou Marcelo com os olhos até sumir entre as arvores.
— Deixa ele Michele. — Falou Lucas.
Michele sentira uma sensação diferente, e sua velha coceira na nuca confirmara que algo estava errado.
As arvores nodosas se entrelaçavam como trepadeiras nas copas, como se todas tivessem sido amarradas intencionalmente. Ele seguiu uma linha reta, pois se por acaso se perdesse pensava ter só que voltar pelo mesmo caminho. Seus lábios estavam secos e logo se lembrou que não tinha comido desde de manhã, e já estava quase escurecendo.
Restava menos de duas semanas para deixar a cidade e voltar para Alagoas. Marcelo gostava do Rio de Janeiro, mas não poderia ficar para sempre, na realidade só esperava terminar a faculdade para partir.
— Fique longe dos porcos... — Ouviu uma voz ressoar pela floresta. — Arranquem sua carne até o osso e depois descansem sob o Norte. Louvada seja aquela que emana sangue para seus filhos... Louvada seja a mãe...
Marcelo avistou uma senhora parada próxima de um monólito negro, esculpido na forma de uma cabeça feminina que parecia chorar.
— A relva... — Gemeu uma voz aguda de todas as direções.
A senhora que vestia apenas uma saia feita de folhas e cipós virou o rosto na direção de Marcelo, que ficou envergonhado ao ver que estava com os seios desnudos, grandes tetas caídas e enrugadas.
— Oi, pode me ajudar, meu barco ficou sem gasolina, sabe se tem algum tipo de comercio na ilha.
— Sangrais filho do barro. — Respondeu ela arregalando os olhos amarelados.
Ele sentiu que não deveria ficar e correu, procurando o caminho de volta, mas suas pegadas haviam desaparecido e a velha peladona se aproximava correndo com uma expressão fechada.
— Volte filho do barro.
Enquanto corria desajeitado cortou o braço em um galho cheio de espinhos. Ele olhou para trás de relance, certificando-se que a tinha perdido de vista, então encostou em um carvalho, rasgou um pedaço da camiseta e enrolou na ferida que começara a arder.
— Que merda de lugar é esse... — Perguntou-se ofegante.
Momentos depois enquanto tomava folego, algo estalou sobre a arvore onde estava. Uma sombra ergueu-se do alto e então um vulto veio sobre ele.

 

Continua...
 
Vinícius N Neto
Enviado por Vinícius N Neto em 11/08/2018
Reeditado em 12/08/2018
Código do texto: T6416465
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.