A noiva na estrada

Madrugada de uma sexta feira no ano de 1943.

Voltava pra casa depois de uma semana cansativa de estudos na faculdade, estava preocupado com provas, com notas e com outros problemas pessoais.

A noite esta bem escura, a estrada que eu tomara não me parecia mais aquela por onde eu ia todos os finais de semana pra casa.

Quando me dei conta percebi que algo ou tudo estava errado de alguma maneira muito estranha.

Àrvores ladeavam a estrada que agora era de terra. Uma neblina começava a tomar conta de tudo.

E parecia ficar mais e mais escuro conforme eu avançava.

Ao fazer uma curva vi algo que parecia uma pessoa, uma mulher...e vestida de noiva, estava de costas para a estrada.

A cena me pareceu muito insana, improvável.

Parei o carro a uma certa distância.

Olhei por alguns instantes, depois abri a porta e sai. Fazia um frio estranho.

Chamei pela moça, parecia sim ser bem jovem. Não olhou, ficou ali inerte.

Tornei a chamar. Ela então se virou devagar. Era muito bonita, de uma beleza fria.

Muito branca e percebia-se que havia chorado, e muito.

Tremia, retirei meu paletó e coloquei sobre seus ombros. Aceitou.

Perguntei se podia ajudar de alguma maneira, ela disse que sim com um aceno de cabeça.

Encaminhei-a para o carro e disse que a levaria para sua casa, e que se pudesse fosse me indicando o caminho.

Ela me olhou com os olhos muito tristes e azuis.

Me disse que morava não muito longe dali, me indicando o caminho.

Fui tentando conversar com ela para descobrir o que ela fazia ali e o que havia acontecido.

Mas ela falava pouco, quase nada....

Andamos pela estrada por mais de hora, ela então já havia se soltado mais. Me disse que seu noivo a teria abandonado e ido embora sem deixar notícias e que algumas vezes ela acabava tendo umas crises e se perdia. Sua vida não tinha mais sentido.

Chegamos a uma casa grande, de dois andares. Ela agradeceu e me convidou para entrar.

Pensei que pudesse falar com seus pais e explicar o que havia acontecido.

Entramos. Era tudo muito limpo e belo.

Ela se mostrou muito feliz por eu te-la acompanhado até sua casa.

Me pediu para subir até seu quarto.

Eu estava meio que anestesiado, algo ali era familiar, como se eu estivesse já visitado aquela casa, visto os móveis, andado pelos cômodos...

Algo estava muito errado.

Ela estava feliz, sorria, conversava, mas era como se eu não ouvisse, como se eu não estivesse ali e ao mesmo tempo já estivesse.

Não havia mais ninguém na casa, nem os pais, nem irmãos, nem empregados.

Era madrugada, senti muito frio.

Ela olhou fixo para mim.

Senti medo. Ela se aproximava. Não sei descrever o que eu senti mas sabia que precisava sair daquela casa. Havia algo errado, muito errado.

Saí do quarto e desci as escadas correndo, atravessei corredores até chegar à porta principal da sala e saí.

Meu carro parecia estar bem mais longe do que eu havia deixado.

Corria até ele, liguei e saí. Meu coração estava disparado.

Dirigi por alguns minutos. Parei.

O que estou fazendo? Pensei.

Do que estou fugindo? Estou com medo de que?

Porque a deixei sozinha na casa?

Porque ela estava feliz, ela só tinha a mim, só agora percebi.

Virei o carro e voltei. A distância era muito longa, mas eu só havia dirigido por alguns minutos.

De repente vejo a casa.

Para meu espanto estava em ruínas, uma casa abandonada, com tábuas fechando as janelas com seus vidros quebrados.

O mato tomando conta de tudo.

A porta de entrada da sala estava aberta, como eu havia deixado quando saí correndo.

Entrei. Susto.

Móveis cobertos com panos. Quadros antigos.

A escada, o quarto no andar superior.

Ela estaria lá ainda?

Eu precisava saber. Subi devagar...

Entrei no quarto. Tudo coberto com panos também.

Um quadro jogado no chão me chamou a atenção. Peguei e passei minha mão para tirar a grossa camada de poeira.

Era ela na foto. Parecia olhar para mim.

Um jornal sobre a mesa aberto em uma página.

Me aproximei para ver se tinha algo importante.

O que vi impresso naquele jornal me deixou em desespero.

Uma nota obituária informando sobre o falecimento de um jovem.

Ele se perdeu voltando p casa depois do trabalho e entrou em bosque chamado Black wood

Acharam o carro dele preso no tronco da árvore.

Ele tinha 27 anos.

Chovia muito e era tarde da noite.

Informava também a data do sepultamento e onde seria.

O terror tomou conta de mim ao ler o nome do jovem, era Vincent Anderson.

Meu nome.

Esse jovem era eu.

A moça minha noiva.

Eu estava morto, estou morto.

Saí correndo, desci as escadas.

O carro não estava mais lá fora. Não está.

Na janela, vejo ela na janela a me olhar.

O que aconteceu realmente?

Ela sabe, só ela sabe.

Estou voltando para a casa, para ela.

Ela sabe.

Estou na estrada novamente dirigindo na noite fria e neblinada.

Ela está na beira da estrada. Está vestida de noiva.

O que aconteceu?

Conto baseado no clip de

uma música da banda Tristania, chamada Cease to exist