Lis

“ Certa vez recebi um e-mail que tinha como conteúdo um teste. A resposta a esse teste definiria se você tinha tendência a ser um psicopata ou não. A pergunta do teste era a seguinte: Uma garota vai ao velório de sua prima, nesse velório ela se apaixona por um garoto. Responda, porque a garota matou a sua outra prima, semanas depois? Se você responder que era para ver o garoto novamente então você possuí uma alta tendência a ser um psicopata”.

Doutor Schutt estava pronto para realizar a cirurgia, o procedimento foi marcado em uma clínica clandestina. No lado de fora do local muros pichados, lixo jogados na rua e apenas uma porta de ferro que dava acesso ao interior do centro cirúrgico. Na parte interna eram vistos os melhores equipamentos, máquinas que nenhum hospital ou clínica possuía no país.

Shutt dividiu sua equipe em três grupos. O primeiro grupo era responsável pela retirada da face da “doadora”, a segunda equipe responsável pela retirada da face danificada da outra garota e a terceira tinha o objetivo de colocar a nova face em Lis.

O cirurgião chefe entrou na sala só para realizar a última etapa do processo. Ele colocou a pele sobre a parte frontal do crânio da garota e, deu início ao processo de ligação dos músculos faciais ao novo rosto. Durante a cirurgia Shutt foi questionado por um dos cirurgiões de sua equipe:

- Doutor, você sabe que se descobrem que estamos fazendo cirurgia clandestinamente o resultado é a perca das nossas licenças.

- O dinheiro está na conta? Então fique quieto. - Reponde de forma ríspida.

- E a doadora? Quem é?

- Já te disse, a grana está no banco. Então não questione.

Lis esperou Gilberto na porta da sala de aula onde ele estudava, para aproveitarem o recreio ao máximo ao lado de seu amor. Ele demorou para guardar o material em sua mochila, Lis com os braços cruzados e batendo insistentemente um dos pés no chão aguardava. Quando ele sai na porta, Lis o agarra e beija desesperadamente. Gilberto vai até o refeitório com a garota pendurada em seu braço, andava quase arrastando-a.

No refeitório Gilberto pegou um sanduíche, mas não comeu até o fim. Lis deixou o garoto ir na frente, pegou o resto do sanduíche e guardou no bolso.

No final da aula os dois namorados se despediram. Lis foi levada para casa pelo motorista da família, em casa ela foi até seu quarto, abriu seu armário e retirou uma caixa de madeira, abriu a caixa, dentro da caixa eram vistas centenas de fotos do namorado, fios de cabelos e outros objetos. Junto a eles a garota colocou o resto do sanduíche do namorado, mas antes ela beijou o alimento.

O namoro dos dois durou algumas semanas e depois Gilberto termina tudo.

- Você me persegue o tempo todo, garota. Eu estou cansado disso, me deixa em paz.

- Eu te amo, por favor, só mais uma chance.

Gilberto odiava os excessos de ligações e ela grudada nele o tempo todo. O período era de aproveitar a vida, sem compromisso sério. Sobre as fotos e os chicletes ele nunca descobriu.

No mesmo período em que ficava com Lis ele estava ficando com outras garotas.

Depois do terminou do namoro Lis entrou correndo em casa, subiu as escadas, os pais estavam concentrados em seus afazeres. A mãe gerenciava a cozinheira no término do almoço, o pai conversava com o motorista. - Porque o atraso em trazer Lis da escola? Mais uma dessas você sabe, rua.

Foi até o quarto dos pais e fuçou em baixo da cama, puxou uma maleta preta para fora. Abriu-a, estava lá à espingarda de caça. Ela retirou ainda trêmula. Nunca havia pensado em suicídio a ação era por impulso. Aquele garoto era a paixão de sua vida, ela sabia que os outros não entenderiam.

Posicionou o cano da arma em sua boca, ela chorava muito. O estampido foi ouvido em toda a casa. A primeira coisa que seus pais pensaram foi que o barulho ocorreu por causa de algum defeito na rede elétrica. O cheiro de pólvora direcionou seus pais até o quarto.

O patriarca pegou Lis em seus braços e carregou para fora do quarto, instintivamente queria

carregá-la ate o carro, a mãe questionou. - Chama os paramédicos. - Disse para um de seus empregados.

Por sorte ou azar ela sobreviveu. A munição atravessou seu rosto pegando parte das bochechas, nariz e danificando grande parte de seu rosto, mas nenhum órgão que levaria a óbito.

Após o acidente a garota ficou no hospital durante vários meses e depois ficou em casa, poucas vezes saia . Foram contratados professores particulares para ministrar aulas no domicílio,e semanalmente ela era levada ao hospital para análise dos ferimentos.

- Oi como está a Lis? Sente alguma dor, náusea?

- Ela sente dor e náuseas, mas os remédios auxiliam para diminuí-las.

- Lis precisa ter calma, primeiro vamos reconstruir a estrutura de seu crânio, e depois encontraremos um doador compatível.

Ela precisava de um novo rosto, Lis queria ficar linda para reconquistar Gilberto.

- Não precisa se preocupar, você vai reconquistar o seu ex-namorado.- Disse Shutt para a menina.

Gilberto foi o motivo para ela ter tentado se matar e agora para querer voltar à escola. Não podendo falar ela digitava em seu tablet sobre a vontade de voltar a aula e principalmente de rever o seu príncipe.

No dia em que voltou a escola foi recebida com festa e abraço de todos, porém percebia que todos desviavam o olhar do seu rosto, Gilberto também. Mesmo usando uma máscara cirúrgica ela não conseguia esconder como havia ficado.

Voltou a ter aulas em casa e dias depois Shutt iniciou a reconstrução da estrutura óssea da mandíbula e nariz.

Meses após a saída da escola e o término do namoro Lis recebe uma notícia que a deixou sem chão. Uma das poucas amigas que não haviam abandonado trouxe até ela um convite de casamento, onde Gilberto e Gabriele assinavam.

Fraca quase desmaiou ao saber que amor de sua vida estava prestes a se casar com outra. Na manhã seguinte encontraram-na na banheira com os pulsos cortados. O desespero dos pais foram bem maior que da primeira vez. Será que vamos perder a nossa princesinha?

Sobreviveu a segunda tentativa de suicídio.

No dia seguinte a tentativa o pai de Lis entrou no quarto e entregou o tablet nas mãos da garota e pediu:

- O que você quer minha filha?

Lis digitou: Pai o que essa tal de Gabriele tem que eu não tenho?

O pai não disse nada, então ela continuou digitando:

Pai, se o Gilberto ama essa garota, então eu quero ser ela.

Juliano Marques
Enviado por Juliano Marques em 19/02/2019
Reeditado em 21/02/2019
Código do texto: T6578897
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.