Aquilo

Meu corpo velho e cansado não agüentava mais. Já tinha corrido mais de quatro quarteirões naquela noite e ofegante estava preste a cair no chão. Exausto.

Virei-me e o encarei. Mirei bem no meio daquelas esferas brilhantes que mais pareciam duas luas cheias, amarelas. E com a única bala que me restava da velha colt 45 que tinha herdado de meu pai, atirei.

Um grito ensurdecedor, seguido dum gemido agonizante.

Tinha acertado!

Meu coração, que batia em disparada, acalmou-se um pouco.

Estava ali. Caído no chão. A poucos metros na minha frente.

Matei-o, pensei.

Aproximei-me. Fui chegando cada vez mais perto daquilo.

Estava ali, estirado no chão envolto a uma poça de sangue. Gemia.

Cheguei mais perto. Encarei aqueles olhos amarelos que iam agora ficando negros.

Argh!

Ainda estava vivo.

Teve forças para desferir-me um golpe. Acertou-me o braço com suas garras afiadas. Eu sangrava. Contorcia-me de dor.

De repente...

O ferimento foi cicatrizando... sentia-me com a força de 300 homens... uma força... uma força... ah! como era prazeroso... não tinha mais aquela fraqueza de meu corpo velho e cansado do trabalho... eu tinha disposição... eu tinha forças... eu tinha... eu tinha... eu tinha fome... parecia que não tinha comido há dias... séculos... e aquilo... aquilo na minha frente... era um banquete dos deuses... aquilo... aquilo na minha frente já não era mais nada... eu precisava de mais...

Um barulho! Uma presa...