LUPUS HOMINIS- 2

Um homem vestindo roupas de couro e botas e um chapéu preto, se aproximou do carro e bateu no vidro:

- Que faz a madame nesse vilarejo perdido, a essa hora da noite?

- Me chamo Karen, eu errei o caminho, achei melhor esperar o dia amanhecer para seguir de viagem.

- Meu nome é Jean, sou veterinário encarregado do estado para cuidar dos lobos. Meus lobos conhecem humanos, não atacam ninguém. Siga-me com seu carro até minha casa, posso lhe oferecer um café e estadia melhor.

Karen observava o homem esbelto de cabelos longos presos numa trança, acariciando um dos lobos.

Ela estacionou em frente a casa onde ele parou. Uma espécie de vila de alvenaria, com dois andares e um porão. A casa era cercada por altas grades de ferro, havia uma espécie de canil no grande terreno, onde mais de trinta lobos passeavam. Num canto deslizava água duma fonte artificial de pedras. Do matagal ali perto vinha uivos de lobos inquietos.

O homem deixou os lobos com os outros e trancou o portão.

Os dois entraram na casa. Na cozinha ele serviu dois canecos com café e colocou na mesa.

- Sou o único morador do vilarejo. Eu cresci aqui, meu pai era o veterinário desse lugar. Depois de sua morte, continuei seu trabalho.

Preservar os lobos de extinção total. Muitos deles são raros exemplares.

Eles recebem vacinas e tratamento quando contraem alguma doença, depois os deixo livres no matagal outra vez. Vou na cidade a cada seis meses buscar vacinas, remédios e suprimentos.

- Admiro voce e seu trabalho Jean, dedicar sua vida por esses animais, viver isolado nesse povoado solitário. Aquele lobo negro, nunca vi nada mais lindo.

- Ele se chama Luxzor, é o único de sua espécie ainda.

Ele a levou até um quarto e abriu a porta.

- Fique a vontade Karen, durma e descanse. Não se assuste, os lobos costumam uivar durante a noite, coisa de animais.

Karen fechou a porta. No quarto havia apenas uma cama de metal e um antigo guarda roupas. Ela espiou entre as velhas cortinas da janela. Uma sombra se movia com agilidade entre as árvores do bosque.

Ela deitou-se na cama mas levantou ao escutar um barulho.

Devagar andou até o quarto de Jean e tocou na maçaneta da porta.

O aposento estava vazio, apenas a janela aberta.

No final do corredor ela abriu a porta de outro quarto. Numa poltrona havia um homem sentado de costas. Ao se aproximar dele, percebeu que ele estava morto há tempos. Ela levantou o lençol da cama, lá havia também uma mulher morta, uma múmia vestida de noiva.

Aquele homem era doente, um psicopata, um sádico, que ainda conservava os cadáveres dos pais mortos ali com ele. O isolamento e a solidão o fizeram perder o raciocínio lógico.

Ela voltou para seu quarto e trancou a porta. Era melhor fingir que não havia visto nada, quando ele voltasse.

Assim que amanhecesse, iria logo embora daquele vilarejo dos lobos. Deitada na cama, caíu num sono profundo, sem perceber

que no buraco da fechadura, Jean espiava ela estendida na cama...

* Segue no próximo capítulo

NACHTIGALL
Enviado por NACHTIGALL em 30/09/2020
Reeditado em 27/01/2021
Código do texto: T7076060
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