CEIA de *NATAL*

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Dezembro de 2020, noite de Natal.

A idosa de 77 anos dona Rute, vivia sózinha na grande casa, desde que perdeu sua única filha Dagmar gestante de cinco meses e seu genro Tadeu, vítimas do vírus Covid 19. Nos ataúdes lacrados, sem poder se despedir deles, a máscara escondia sua dor, assistindo o sepultamento no cemitério, ao lado de muitos outros que também perderam sua vida para a pandemia maligna.

Ao lado da grande árvore de Natal enfeitada, estava a mesa servida e decorada como nos anos anteriores. Nas cadeiras sentados haviam dois manequins, vestidos com as roupas da filha e do genro. Um deles segurava no colo uma boneca, representando a criança que nunca chegou a nascer.

Ela colocou o peru assado na mesa, o suflê de verduras e a sobremesa e sentou-se para comer com eles. Serviu uma porção nos pratos deles e colocou um garfo em suas mãos.

- Feliz Natal meus filhos! Comam logo antes que esfrie.

- Sogra, o assado estava uma delícia. Passe-me a sobremesa.

- Mamãe, voce é a melhor cozinheira do mundo. Decidimos dar o seu nome para nossa filhinha, Rute assim como voce.

- Essa criança irá encher de alegria essa casa antiga. Mamadeiras, fraldas, brinquedos espalhados, como quando voce era pequena Dagmar.

Rute olhou para os bonecos imóveis e se revoltou contra a realidade.

Ela pegou o facão da carne e decapitou a cabeça dos manequins, depois passou a esquartejá-los em pedaços e espalhar pelo recinto.

- Isso é o que voces merecem por terem morrido e me deixado sózinha, seus mal- agradecidos!

Ela deitou-se no sofá para assistir na televisão a missa do galo, rezada pelo papa transmitida direto do vaticano. A missa iniciou com o coral cantando a clássica melodia natalina:

- Silent night, holy night

- Sleep in heavenly Peace...

Rute fechou os olhos para rezar junto a santa missa. O toque da campainha a despertou da prece.

A porta se abriu e entrou sua filha Dagmar e seu genro Tadeu, com as botas sujas de neve.

- Que aroma delicioso, o assado já está pronto?

Dagmar estendeu a ela um pacote de presente:- Feliz Natal mamãe!

Rute abriu a caixa, dentro havia um véu de tule como os das noivas.

Ela se enrolou no véu branco: - Estou pronta para me casar só falta o noivo! Todos sorriam das brincadeiras dela.

- Está na hora, não é mesmo minha filha?

- Sim mamãe, já é tempo...

Os três se afastaram de mãos dadas e saíram pela porta.

No dia seguinte a assistente social que ajudava nos afazeres três vezes por semana, tocou a campainha diversas vezes. Como ninguém atendia,

achou melhor avisar a polícia.

Logo uma viatura com dois policiais parou na frente da casa. Um deles arrombou a porta e se depararam com a chacina de corpos dilacerados e esquartejados. Ao constatarem que eram apenas bonecos, respiraram aliviados. Era apenas mais uma pessoa enlouquecida pela solidão, isolamento, dor da perda de familiares na pandemia.

No sofá estava dona Rute morta. Eles encarregaram uma funerária para cuidar dos funerais, depois trancaram a porta e se afastaram todos do lugar.

Na casa escura e vazia, o quadro com a fotografia de Rute ao lado de sua filha e seu genro, deslizou da parede caindo no chão, e o vidro se partiu em pedaços, fazendo tilintar o sininho pendurado no pinheirinho.

DLIM - DLOM!

FIM

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NACHTIGALL
Enviado por NACHTIGALL em 03/12/2020
Reeditado em 24/12/2020
Código do texto: T7126649
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