SHAKESPEARE-MALDIÇÃO-fim

Ayla retornou ao instituto forense. Com solvente e uma espátula, retirou a massa de argila, subtituindo por um molde de cera do crâneo, e recolocou o verdadeiro no ataúde.

Com movimentos lentos e dificultosos, passou a remodelar a fisionomia de Shakespeare. Usando cabelos naturais nos cílios e fragmentos de cristais, obteve um olhar vivo. No tom castanho escuro moldou os cabelos, e alguns fios de barba. Ela escolheu uma pequena vitrine de vidro para colocar o perfil. No suporte havia uma placa de metal, onde gravou uma das frases famosas do poeta: ''Tudo que nasce deve morrer, passando pela natureza, em direção da eternidade.'' Finalmente o trabalho estava terminado.

O diretor do instituto e sua comitiva contemplavam a face remodelada, do seu grande Shakespeare, com admiração.

— O cadáver deve ser sepultado novamente na sua tumba, não precisamos mais dele. Devemos respeitar o desejo do escritor, deixar seus ossos em paz.

Assim a funerária depositou o caixão com os restos mortais completos de Shakespeare na sua lápide na capela outra vez.

Na clínica oftalmológica, Ethan acordou e olhou ao seu redor. As paredes brancas, a cortina azul, no canto uma mesa e uma cadeira. Ele havia recuperado sua visão.

Ele recebeu alta sob indicação de usar ainda óculos escuros, até se acostumar com a claridade.

Ayla no seu apartamento, lia seus emails no computador. Havia uma proposta do museu do Cairo, solicitando a remodelagem facial do jovem faraó Tutankamun. Ela conhecia bem a maldição e o significado dos hieróglifos no dorso da máscara mortuária de ouro do faraó.

Mesmo assim respondeu aceitando, afinal aquele era seu trabalho, reconstruir a aparência das múmias e ossadas dos grandes nomes da história.

Lá fora se ouviu o ganido agudo dum cão. No condomínio era proibido animais.

Ela afastou a cortina para ver. No pequeno jardim duma casa ali perto, havia um cão negro esbelto com olhos flamejantes.

— Anúbis o deus chacal, condutor dos mortos, veio assombrar!

Mas ela não iria se deixar intimidar por uma ilusão de ótica.

Finalmente ela poderia dormir tranquila, sem pesadelos macabros. Suas mãos adquiriam um tom rosado e os movimentos eram flexíveis.

No meio da noite, ela acordou com um barulho vindo da cozinha e levantou-se para ver. Antes carregou o cartucho de muniçao da pistola.

Silenciosamente, abriu a porta da cozinha e acendeu a luz.

A janela estava mal fechada e o vento havia derrubado e espalhado, o saco de lixo. Ela colocou a arma em cima da mesa e abaixou-se para recolher os objetos e recolocar no lixo.

Nisso a pistola disparou sózinha um tiro, atingindo sua cabeça.

Ayla tombou morta no chão.

Lá fora se ouviu o sinistro ganido agudo dum cão.

FIM

moral: Onde houver uma profecia ou maldição, é melhor ninguém meter a mão.

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NACHTIGALL
Enviado por NACHTIGALL em 26/12/2020
Reeditado em 26/12/2020
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