Morgan e os Canibais - cap IV

 

MORGAN E OS CANIBAIS-CAP IV

- Morgan estava agora indo para outra cidade e no meio do caminho, não agüentando de tanta dor nos joelhos, resolve fazer uma pequena parada. A estrada parecia que não tinha fim e era uma reta infinita.Por um lado floresta e pelo outro, floresta também. Sobrou apenas o caminho de pedras e cascalhos afiados. Seus pés em carne viva não lhe davam sossego. Mas, Morgan ainda tinha a sua arma carregada ele pensou: ‘ eu poderia acabar de uma vez com esse sofrimento”. Ele pensou algo que não era conveniente, chegou a posicionar a arma em sua cabeça, mas, observou pelo chão, as formigas que trabalhavam sem parar, carregando folhas secas e gravetos. Pós se a observar aquele trabalho incessante , umas indo e outras voltando para o formigueiro. Ele achou aquilo muito interessante e por um tempo abaixou a arma e começou a sua reflexão, sobre a vida e sobre o livre arbítrio. Morgan era muito rude, brutal, não teve boa educação e nem tem amigos. Era um cara largado pelo destino e solto pelo mundo.
- Nunca trabalhou e nunca procurou um emprego, achava que era perda de tempo, queria ser político e dizia que eles não fazem nada, era tudo o que almejava. Mas, observando o trabalho das formigas, pode perceber uma conexão entre elas. A sua organização era algo espetacular e fascinante. Morgan, começou a chorar. Mesmo sendo aquele sujeito aparentemente burro, mas, ele tinha sentimentos também. Ele não sabia quem eram seus pais e nem como foi educado. Acha que jamais pôs seus pés em uma escola.

- Mas, de repente ele vê uma viatura se aproximando, ele estava com a arma nas mãos. Morgan não é tão burro assim, ele imediatamente arremessa a arma no mato. A viatura estaciona e o policial observa e lhe pergunta, mesmo com os vidros entre abertos.

“Alguma coisa que possamos fazer senhor”? - Morgan disse, não não, estou bem. Ele insiste “Se quizer podemos lhe dar uma carona até a um posto de saúde e tratar de seus ferimentos! seu joelho parece inchado, o que foi isto. Ele responde, eu caí... - Morgan, não aceita a carona e diz que está tudo bem. Os policiais se afastaram fecham os vidros e vão embora. Morgan continua andando em sentido contrário e se lembrou da arma e voltou para procurá-la.....E no meio do mato e com feridas abertas, o capim entrava na carne dos pés, Morgan gritava de dor e xingava o tempo todo e gritava tanto que os pássaros se assustavam e voavam dos seus ninhos.

-Mas ele não desiste e continua procurando aquela arma e até que já estava quase desistindo e solta um chute numa moita de capim arrancando-lhe a metade do capim e lá estava a danada da arma e novamente solta um grande urro, pois ele acaba de acertar seu dedão no cano da arma. Agora, para completar as suas desgraças, ainda estava com o dedão todo lascado. Nestas alturas, a unha foi embora e estava dependurada por um pequeno pedaço de pele. O sangue estava jorrando de seu pé. Isto na perna direta, pois a esquerda quase ele não estava usando pelo motivo da lesão no joelho. Agachou-se com dificuldade, apanhou a arma e com muita raiva fez alguns disparos e xingando todos os nomes que lhe vinha na mente. Rachou cabaça desta vez de tanto nomes feios. Ele decide então retornar à estrada e acreditava que uma viva alma ia lhe socorrer, mas, o tempo começou a fechar e já se ouviam os estalos das gotas de chuvas na floresta. Eram trovões e raios por toda a parte. Começou então, uma verdadeira tempestade e Morgan seguiu pelo meio da estrada, não quis se esconder em árvores por temer algum raio. De repente uma forte luz branca e seguida de um estrondo bem perto dele. Foi um raio que caiu num jequitibá logo à sua frente e ela foi rachada ao meio e parte dela caiu na estrada, interrompendo o trânsito. Ele não tinha forças para nada, estava somente um trapo humano e totalmente em frangalhos se arrasta até perto da árvore caída. Ele chora de dor, mas ninguém irá lhe ouvir, pois, naquela hora, quase chegando a noite e com uma tremenda tempestade, ninguém passaria por ali com certeza. E a chuva torrencial aumenta e se torna mais grossa ainda. Morgan estava ensopado, com frio, fome e dor. Para completar as suas dificuldade, começou a doer um dos seus dentes. Morgan estava quase louco de tanta dor de dente.
- Ele não tinha nada para remediar essa sua dor, que o enlouquecia. Sua boca babava e sua língua estava quase um palmo de fora, Morgan parecia um bicho do mato. Ele lembrou-se novamente da arma que carregava e pensou “não tem outro jeito, vou ter que usar esta maldita arma”. Morgan, encostado na tora de jequitibá, que a poucos minutos foi atingida por um grande raio, encosta a sua cabeça no tronco, segura a arma com uma das mãos, prepara-se e de um só golpe e com muita força atinge o dente com o cano da arma. Pedaços de dente para todo lado são espalhados e o sangue jorrava de sua boca e ele aproveita a enxurrada para pegar um pouco de água e mesmo chorando de dor e gritando, consegue colocar água em sua boca, faz um bochecho e ainda cospe pedaços de dente. Mas, nem tudo estava resolvido o desgraçado do Morgan acabou por atingir dois dentes, mas, atingiu o dente errado e a dor ainda persistia. Morgan se levanta e sai correndo e gritando aos berros debaixo daquela tempestade. Ele veio ao solo novamente, ele não tinha mais forças para pelo menos tentar arrancar este outro dente e cai no meio da estrada e ali dorme, ou desmaia de tanta dor. A noite passou e os primeiros raios de sol acordam Morgan, que estava todo sujo de lama, pois, dormiu debaixo de chuva e enxurrada. Ele ouve passos de um animal e sem se levantar, com a cabeça rente ao solo, percebe que vinha um senhor montado num cavalo. O cavaleiro desce, mexe com Morgan, então ele retorna do seu atormentado sono e com os olhos e boca inchados tenta dizer algo, mas, o senhor do cavalo não entende o que ele quer dizer e só vê que a boca está sangrando muito. Morgan fala mais ou menos em seu dente, mostra e pede ajuda para que seja ele retirado de sua boca. O velho cavaleiro não tinha nada em mãos que pudesse lhe auxiliar, no sentido de retirar este abominável dente. O velho cavaleiro se lembrou de quando era criança, que, para retirar dentes de leite, amarrava-se o dente com uma linha e ao mesmo tempo a amarrava no monjolo e assim que ele subia, esticava-se a linha e o dente saia. Porém o velho pensou, mas não temos monjolo por perto, então o que fazer. Ele foi até aos arreios de seu cavalo, encontrou alguns barbantes e pensou, “com estes eu arranco este danado”. Pegou os barbantes chegou até Morgan, lhe pediu que abrisse a boca, amarrou o dente que estava a doer, na parte inferior e em seguida amarrou no rabo de seu cavalo. Em seguida subiu no cavalo acenou para Morgan, para ver se estava pronto, Morgan disse positivo, então o velho sentou a espora no cavalo, este deu uma tremenda de uma arrancada, que Morgan foi também arrastado e gritando, mas, o cavalo não para de galopar, pois, o dente, que não era de leite e sim, da 2ª dentição, sendo permanente, estava firme ali. O cavalo aumentava o galope e o velho olhava para traz e só via um monte de carne se arrastando e com aquela bocona aberta e gritando o tempo todo, pare esta desgraça de cavalo, seu filho da p.. De repente se soltou. O velho volta alguns metros e pergunta a Morgan se o dente saiu, ele passa o dedo na boca e vê que ainda está lá. O velho amarra novamente o dente e diz que fará uma nova tentativa, Morgan não tinha muita escolha e a essas alturas, todo dolorido e ralado até embaixo das axilas, não queria parar e o jeito era mesmo tentar de novo. O velho amarra o dente e dá mais uma grande arrancada e desta vez a raiz se soltou, voou sangue para todo lado ele pega uma massa de barro e coloca na boca para ver se parava de sangrar. Mas o sangramento continuava, o velho não sabia mais o que fazer, coloca Morgan em sua garoupa e parte para a cidade mais próxima. Pelo menos lá poderá ter atendimento, foi o que pensou, mas o velho morava ali perto e resolve passar em seu rancho e fazer algum emprasto, usando raízes, óleo de peroba, retirado das árvores, com meio de remediar a dor e estancar o sangue. Ele juntamente com sua velha, uma índia amassa raízes de várias qualidades e colocam na boca de Morgan. Agora, parece que está fazendo efeito, pois eles colocam tudo aquilo amassado na boca de Morgan e amarram o queixo com um pedaço de pano e dão um nó no alto da cabeça.

Morgan se sente mais aliviado no outro dia e já pensa em ir embora, mas, quando acorda não vê ninguém por perto, mas, somente um grande tacho de água fervilhando, com alguns legumes. Morgan ficou surpreso pelo tamanho do tacho e um grande caldeirão enorme de barro, cabiam uma três pessoas dentro e ficou observando deitado, pois seu joelho ainda doia e a bala estava alojada. Ele tentou se levantar, mas, estava completamente imóvel, pois, ele fora amarrado na cama. De repente o velho e a velha adentram no recinto, um velho quartinho no rancho, Morgan olha por debaixo de um catre que está logo em sua frente e vê crânios de humanos empilhados. Morgan começou a se preocupar com aquilo. “pensou será que são comedores de gente? Não, acho que não, pois, o velho foi muito bom para mim e ele não iria fazer isso comigo! Mas, Morgan estava quase certo e o velho e a velha índia estavam preparando um jantar e o prato principal seria ele, pois, ele achava que estava na casa de canibais. Morgan disse pra si mesmo, “ o que foi que eu fiz para sofrer tanto?” Vim parar justamente nas mãos de “canibais” . De repente lá vem os dois e Morgan finge que está dormindo. O velho esbarra nos pés de Morgan para acordá-lo, mas, Morgan não quer acordar e acha que dessa forma eles acabarão desistindo de comê-lo. O velho se cansou de chamar sem ser atendido, pega uma cuia enche de água quente e joga em Morgan. Ele grita de dor e aos berros pede para soltarem ele. Ele se debate naquele velho catre e grita e xinga como ninguém. Até que, de tanta gritaria dentro da casa e os canibais temendo que outros da tribo ouvissem e viessem lhe tomar a prenda, resolveram soltar as amarras de Morgan. Foi o primeiro erro deles, pois, assim que soltaram, Morgan segura a velha pelas pernas e atira dentro do grande caldeirão de água fervente, raízes, coentro, tomates, cenouras, rabanetes, cebolinhas, alho. Ela não se mexe mais, depois seguiu o velho, que também foi atirado dentro do caldeirão fervendo também e Morgan não esperou mais para ver o resultado, saiu correndo do rancho, agarrou o velho cavalo e seguiu correndo pela estrada. Agora Morgan está montado em um cavalo alheio e armado, uma receita perfeita para se fazer um bandido.

No meio da estrada, lá vem a polícia de novo e os mesmos policiais do dia anterior. Eles abordam Morgan lhe indagam sobre o cavalo, de onde veio este cavalo com arreios, se estava sem ele no dia anterior. Morgan quase não pode falar, pois, sua boca esta amarrada ainda com aqueles remédios e não pode retirar temendo que tudo voltasse a doer.

Eles têm um retrato falado de Morgan e lhe dão voz de prisão. Morgan desce do seu cavalo, os policiais lêem seus direitos e encaminham para a delegacia da outra cidade. Lá ele está sendo acusado de matar 4 pessoas numa só noite, agora de porte ilegal de armas e roubo de animais. Morgan está agora atrás das grades e com uma encrenca das grandes. Dias depois, chegam na delegacia o velho e a velha, que por sorte não morreram também e vieram fazer denúncia contra Morgan. Na qualificação dos velhos eles eram artesãos e fabricavam cabeças de bonecos. Perguntado sobre as queimaduras , eles responderam que foi arremessado por Morgan , tanto ele quanto sua senhora, que preparava um banho para este ingrato, pois, eles cuidavam das feridas de Morgan e foram tratados com violência dentro de sua própria casa.

Pelo jeito, Morgan não é dos melhores para perceber as coisas e cometeu dessa forma mais uma dupla tentativa de homicídio e agora terá que responder pelos crimes cometidos.

Ele está preso e passa as noites acordado, não dorme nada e está muito magro, pois, não come também e está definhando a cada dia que passa. Morgan agora já não vale mais nada é um sujeito que não tem parentes e nem amigos.

Agora só pensa na fuga , mas será um novo pesadelo?

Abraços ej.
16-02-2021.
Ejedib
Enviado por Ejedib em 16/02/2021
Reeditado em 17/02/2021
Código do texto: T7185560
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