TAUROMAQUIA- fim

— Olê, Arriba, Adelante!

Jubilava e gritava o público nos bancos, admirando o bravo toureiro Ramón Ortiz lutar tentando subjugar o touro negro, ferido com lanças e ensanguentado, prestes a tombar no solo e receber o golpe de misericórdia do toureiro, para terminar com a tortura de sua dor.

Membros presentes da SPAP e SUIPA da sociedade internacional protetora de animais, interferiram solicitando que o animal não deveria ser sacrificado, para o descontentamento e protestos da platéia. O touro negro hibrido DZO foi retirado do lugar com vida.

Outro animal foi trazido na arena. Um touro branco enorme, com chifres cor de ouro e olhos fulgurantes como dois diamantes e marcado na fronte com uma meia lua. O touro possante musculoso arrastava as patas dianteiras, bufava furioso, soltando bafo das ventas, diante do toureiro desafiando-o para o combate. As lanças atiradas pelos bandarileros feriam seus flancos tingindo-o de sangue. O animal andava ao redor de Ramón, como se estivesse a dançar, provocando o toureiro que rodava sua capa vermelha.

O touro branco ficou de costas e escoiceou com as patas traseiras no tórax de Ramón, que foi arremessado para os bancos da platéia.

Furioso e ferido o toureiro saltou novamente para a arena, tentando dominar o animal agressor. O boi gigante passou a soltar chispas das guampas e correr desenfreado, depois enfiou os chifres no abdômen de Ramón e saíu desfilando com o homem morto, transpassado nos seus cornos dourados, pela arena.

Aproveitando o tumulto do público, alguém soltou os outros animais, que passaram a atacar as pessoas, ocorrendo um corre-corre e muitos foram pisoteados, gravemente feridos e mortos.

O touro branco sacodiu a cabeça e atirou o toureiro morto no chão, destripado com as visceras à mostra. Num trote altaneiro deixou a Plaza Del Toro, durante a confusão e não foi mais encontrado, nem visto. Ninguém sabia explicar a origem do tal animal, pois não havia registro nenhum do proprietário, nem número de inscrição.

Dona Consuelo, a velha benzedeira praticante de wodoo, sorria assistindo o noticiário da chacina de sangue da tourada. Ela acariciou o amuleto de prata pingente no colo, com chifres de marfim do BOI- VAQUIM, conhecido como O TOURO DE OURO, que assombra os pampas e os vaqueiros do Rio Grande do Sul. Um touro branco como neve, com guampas de ouro puro, olhos de diamantes e solta chispas de fogo dos chifres, uma espécie de protetor-guardião da raça bovina.

A legislação da Espanha proibiu as touradas, sendo aderida a lei em vários estados espanhóis, os turistas com o tempo perderam o interêsse nas touradas e procuraram outras opções mais saudáveis e menos perigosas de divertimento.

Nos prados Riograndenses, os vaqueiros se perguntavam como a lenda do folclore do Boi-Vaquim foi parar na Espanha, tão distante do Brasil.

— Por certo foi assombração, tchê!

— Bah, e das brabas gaúcho, credo im cruiz. . .

FIM

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NACHTIGALL
Enviado por NACHTIGALL em 02/05/2021
Reeditado em 02/05/2021
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