NAKUPENDA-MALAIKA-fim

O FILHO DAS SELVAS

Ao alvorescer do dia, surgiu o sol vermelho entre as nuvens, como uma grande bola de fogo, derramando raios de luz dourada sobre os vales e águas dos córregos, numa paisagem fantástica da natureza.

Dum jeep camuflado entre os arbustos, dois veterinários acertavam de longe, dardos com leves narcóticos nos animais para poder aplicar vacinas, enquanto estavam adormecidos e assim proteger e preservar suas espécies.

Eles escutaram o choro e seguindo o som, encontraram o bebê Malik,ao lado da mãe já morta. Ao perceberem que era um albino frágil, levaram com eles para a cidade deixando-o aos cuidados do conselho tutelar.

Algumas semanas depois ele foi adotado por um casal sem filhos, Niara e Ghedi, moradores da mesma aldeia, para onde sua falecida mãe desejava levá-lo. Os outros meninos de pele escura o chamavam de anjo por sua cor, e o tratavam com respeito e carinho.

— Voce é um Malaika, enviado do céu, por Baba Yetu (Deus).

Malik vivia feliz com sua família adotiva e a meninada na aldeia, escalando árvores, nadando por riachos, acompanhando os adultos nas pescarias, debulhando milho para alimentar galinhas, auxiliado por seu cão uhala, até completar dez anos de idade.

Devido as superstições, perseguições, tráfico e morte de albinos, foram decretadas leis para defesa e proteção dos mesmos. Militares e policiais revistavam as aldeias e os albinos eram transportados para abrigos nas cidades grandes, sendo resguardados por policiais armados.

Era permitido também famílias designadas pela justiça, assumirem a custódia de albinos em suas casas.

Malik passou a morar na casa confortável de Elon e Wanda, um casal de professores. Ele foi matriculado na escola e desejava estudar Ciência da Computação no futuro. Ao completar quinze anos, Malik decidiu ir junto com seus tutores, visitar seus pais adotivos Niara e Ghedi, na aldeia que havia crescido. Num jeep alugado eles tomaram o longo caminho, pela estradilha empoeirada de chão pedregoso que conduzia ao lugarejo.

Ao por do sol chegaram no lugar, sendo recebidos com satisfação pelos moradores.

Niara e Ghedi estavam felizes por reverem o jovem depois de tanto tempo.

— Nosso Malaika voltou, certamente teremos uma boa colheita esse ano, e chuva em abundância.

Logo o som frenético dos tambores ecoavam dentro da noite, animando a festa do ritual de boas vindas aos visitantes.

Elon e Wanda observavam Malik se divertindo misturado aos habitantes da tribo, vestidos com suas cangas e capulanas estampadas e coloridas, máscaras de animais típicas de africanos, dançando no ritmo do batuque dos tambores.

— Já entendemos Malik, voce quer ficar aqui junto dos seus, não é mesmo?

— Sim, na cidade eu me sinto como um pássaro preso na gaiola, só aqui eu sou realmente feliz.

Ao amanhecer Elon e Wanda entraram no jeep e deixaram a aldeia sózinhos, retornando para a cidade onde moravam, sem Malik.

No caminho Wanda ligou o rádio do auto para ouvir música, e sorriu.

Do rádio vinha a voz suave de Miriam Makeba, sendo levada pelos ventos espalhando-se pelos ares das selvas africanas, cantando a canção Malaika Nakupenda Malaika.

FIM

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NACHTIGALL
Enviado por NACHTIGALL em 27/08/2021
Reeditado em 20/02/2022
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