♫ PIED PIPER- fim

No instituto de geologia e arqueologia, Elder desinfetava e limpava os orifícios entupidos da flauta misteriosa. Dentro havia resquícios de cristal quartzo, a ponta era folhada com uma camada de ouro. Ele soprou algumas notas. A flauta emitia um som estranho, desagradável aos ouvidos. Concentrado na análise do material do solo, da montanha Arco-Íris, ficou até tarde no museu solitário, monitorado por vídeos de segurança. Seu trabalho foi interrompido pelo ruído das sirenes de ambulâncias e bombeiros. Foi até a janela ver, a rua estava infestada de ratos, pessoas se debatiam tentando se livrar deles.

Haviam feridos, cães e gatos mortos estraçalhados por centenas de ratazanas canibais Bosavi. Alguém falava num auto falante, pedindo para ninguém sair de casa e protegerem seus animais de estimação. 🐀 🐁 🐀 🐁 🐀

O que teria atraído tantos ratos para o bairro ? Seria acaso o som daquela flauta de tíbia de abutre ?

Escutando barulho, espiou pela fechadura da porta. Os ratos haviam entrado pelos tubos da calefação. Mais de quinhentos ratos, reviravam tudo que viam. Ratas assassinas de 50 cm tentavam roer a porta de madeira para entrar, outras comiam os ratos menores. Ele precisava sair da sala ou seria atacado. No armário havia um overal de proteção e botas de borracha. Vestiu o uniforme por cima da roupa e calçou as botas. Na gaveta achou material usado pelos reconstrutores faciais. Misturou gesso com a água da garrafa posta em cima da mesa, improvisando uma máscara, deixando orifícios para os olhos e a boca. Esperou secar alguns minutos, colocou a máscara e prendeu com fitas adesivas, para segurar. 🐀 🐁 🐀 🐁 🐀 🐀

Ficou atrás da porta e abriu de sopetão. Centenas de ratos famintos entraram no recinto, derrubando objetos, subindo nas estantes. Pisoteando e chutando, já com as costas cobertas de ratos, conseguiu sair pela porta central. Andou pela rua se defendendo como podia, do ratedo. Duas quadras adiante, retirou a flauta do bolso, levou aos lábios e começou a tocar.

Minutos depois olhou para trás e avistou a multidão de ratos que corria em sua direção. Aquela era a flauta de Hamelin, ela existia de verdade, não era apenas uma lenda. Sua música encantava e atraía ratos. 🐭 🐭 🐁 🐁 🐁 🐀

Elder caminhou quatro quilômetros para fora da cidade, seguido pelo crixado infernal do bando de ratos. Na auto estrada interrompida pela polícia, entrou no matagal mais próximo, subiu numa árvore, e parou de soprar a flauta. Os ratos se espalharam pelo bosque, virando presa de corujas e predadores noturnos.

Tomou o celular da bota para ver as notícias. Na internet já apareciam vídeos e filmes dele:

— Misterioso Pied Piper, flautista de Hamelin mascarado, soprando flauta desvia os ratos da cidade.

— Flauta mágica de Hamelin, encantadora de ratos, desloca a peste roedora da metrópole Cusco.

Esperou uma hora e desceu da árvore, jogou a máscara de gesso entre os arbustos. Pegando caronas, retornou pra cidade e foi para sua casa descansar.

No dia seguinte, uma fábrica de limpeza se ocupava de reorganizar a anarquia e limpar o intituto de arqueologia.

Elder guardou a flauta no devido lugar, na redoma de vidro.

Durante a tarde foi continuar seu trabalho de análise do solo, na montanha Arco-íris. Estava findando o dia quando sentou no gramado, fazer uma pausa. Soprava um vento frio outonal, retirou da mochila o poncho listrado e a flauta de Pã, comprada dos camelôs em Cusco. Levou a flauta de Pan aos lábios e começou a tocar a melodia 🦅 El Cóndor Pasa.

Pouco depois um grande condor planava suas asas sobre a cordilheira dos Andes, e foi pousar no pico da montanha Arco-Íris, piando seu canto de liberdade. ♫ ♪ ♫ 🦅 🦅

🦴 FIM

▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬

NACHTIGALL
Enviado por NACHTIGALL em 23/04/2022
Reeditado em 24/04/2022
Código do texto: T7501424
Classificação de conteúdo: seguro