👺-PINÓKIO

O magista ventríloquo Renan, se apresentava na televisão no show de Supertalentos. Ele costumava atuar em asilos para idosos e festas em orfanatos de crianças, por poucos trocados. Com seu fantoche, o boneco de madeira de pinos Pinóquio, iniciou seu número. Atrapalhado e desengonçado foi vaiado pelo público, não conseguindo se classificar entre os finalistas.

Decepcionado, magoado e furioso deixou o estúdio, retornando para seu pequeno apartamento, numa cidade vizinha. Atualmente os bonecos foram substituídos por robôs, hologramas neon, outros efeitos da tecnologia moderna.

Ele precisava de algo novo, diferente, inovador, para atrair atenção e adquirir fama.

No dia seguinte ele foi até a biblioteca municipal, buscar informações em livros escritos por mágicos especilistas no ramo.

📚 Achou uma Bíblia antiga, contendo os dez evangelhos de Moisés. Os de números 6 e 7 foram excluídos pelos religiosos, porque ensina magia negra, conjurações de demônios, fórmulas de domínio sobre pessoas e objetos inanimados. Ele anotou uma receita, decidido a tentar para melhorar sua situação financeira:

💀— Ralar o osso do crâneo duma caveira, misturar o pó obtido com enxofre, gotas do próprio sangue e cebo de carneiro preto, despachar no cemitério, em ponto de meia-noite, quando os ponteiros do relógio se tocam. Ao ouvir ladrar o Cadejo, o cão do inferno, é sinal das trevas que o feitiço surgiu efeito. ☠

Renan providenciou os ingredientes e durante a noite esperava em frente ao cemitério, observando impaciente o relógio.

Finalmente os ponteiros marcaram a zero hora. Entrou no cemitério silencioso, deitou o boneco Pinóquio ante a cruz mestre, salpecou o pó em cima, e ficou aguardando o resultado. Não escutou nenhum cão do Hades latir e nada aconteceu.

— Pura besteira, para enganar os idiotas e os induzir a gastar dinheiro com porcarias.

Enfiou Pinóquio na mochila, tomou um ônibus para voltar para sua residência. Dentro do ônibus não escutou o uivo sinistro dum cão, vindo do cemitério.

No final do outro dia ao chegar em casa, se deparou com as gavetas abertas e reviradas, as portas do guarda-roupas abertas, roupas espalhadas. A porta e as janelas estavam trancadas, sinal que o ladrão ainda estava lá dentro. Observou ao redor e viu dois sapatos em baixo da cortina longa e escura. Ao puxar a cortina ele se deu de cara com Pinóquio. O boneco andava com os braços estendidos em passos lentos na sua direção. Tomado pela surpresa do que via, ficou imóvel sem reagir.

Pinóquio foi até a cozinha, pegou uma faca tentando atacá-lo.🔪 Renan chutou uma cadeira contra o boneco, que perdeu um dos braços caindo no chão. Ele levantou-se e continuou a caminhar batendo os sapatinhos de madeira, perseguindo Renan pela sala, empunhando a faca.🔪

A magia negra havia dado certo, mas tornando Pinóquio um zombi boneco assassino. Ele olhou para o baú de madeira onde guardava suas coisas. Abriu a tampa e esvaziou o conteúdo. Jogou um lençol sobre o boneco cegando-o e atirou ele dentro do baú, depois trancou com o cadeado. Pinóquio batia, dava pontapés e se debatia, tentando se libertar e sair para fora da arca.

O vizinho tocou a campainha reclamando.

— Se voce não parar com esse barulho, irei chamar a polícia.

Ele se desculpou mentindo que estava fazendo uma faxina. Maldito macabro Pinóquio! Ele precisava se livrar daquele boneco infernal. Arrastou o baú pelo corredor, colocou no porta malas do carro velho e deixou a cidade.

Na auto estrada havia uma ponte sobre um rio. Tendo cuidado para não ser visto, atirou o baú no rio. Permaneceu alguns minutos, vendo o caixote sendo tragado e afundar nas águas. Aliviado foi para seu apartamento dormir.

No outro lado em baixo da ponte, nas margens do rio, acampavam em barracas alguns moradores de rua.

Uma mulher e seu filho de 8 anos viram o baú junto ao lixo jogado no rio.

— Talvez seja um animal abandonado ou uma criança. . .

Ela entrou na água e retirou o caixote. Com um martelo, quebrou o cadeado.

— Há apenas um boneco de madeira molhado, com o braço danificado.

Ela pegou uma chave de fenda e parafusou o braço no lugar.

— Fique com o Pinóquio para voce brincar filho.

Pouco depois o menino saíu da barraca ferido e chorando.

— Que aconteceu, voce caíu ?

Não. Foi o Pinóquio que me bateu, ele é mau. Eu não quero ele, jogue-o de volta no rio !

A mãe vendo o filho agitado, com uma crise de nervos, sorriu dizendo:

— Eu tenho uma idéia melhor. Vamos aproveitar, queimar a madeira e fazer fogo, esquentar nossa sopa de verduras.

Com o machado 🪓 ela cortou o boneco Pinóquio em pedaços, juntou no monte de lenha e ateou fogo. 🦿🦵 🦾 🦵

A mulher não disse nada a ninguém, mas juraria que vinham gemidos de dor, das labaredas do fogo. . .

FIM 👺

▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬

NACHTIGALL
Enviado por NACHTIGALL em 27/04/2022
Reeditado em 29/04/2022
Código do texto: T7504390
Classificação de conteúdo: seguro