CADEIRA MACABRA -2

De noite enquanto Eward dormia, na sala a sinistra cadeira deslizava silenciosamente para outro lugar. Ao amanhecer ele abriu a porta da saleta, e arregalou os olhos. O espelho de cristal estava trincado, o recinto totalmente infestado de baratas que desciam pela chaminé da lareira, a sua preciosa cadeira coberta dos repugnantes insetos. Fechou a porta e alarmou os criados. O jardineiro usava um inseticida, enquanto a camareira varria as baratas mortas e colocava num balde. Após tudo ser desinfetado, ele sentou-se na relíquia, tendo a impressão de ter sentado no colo de alguém.

Sentiu-se inquieto, o ar estava pesado e a cadeira emitia maus fluídos no ambiente. Levantou-se e abriu a janela para ventilar. Ao se virar, viu um vulto escuro sentado no seu trono. Ao se aproximar não havia mais nada, devia ser efeito de ótica, ele pensou. Recostou-se no estofado e acariciou a manta negra de pelos de gato. De súbito as periferias de seu corpo ficaram geladas, o semblante pálido, como se suas energias vitais o abandonassem. Ele tocou a sineta e o mordomo chamou uma ambulância. No hospital sofreu uma lavagem gástrica por intoxicação alérgica de crustáceos, sendo depois liberado pelo gastroenterologista.

Ao retornar para casa, escutou no corredor a cozinheira conversando com o jardineiro e a camareira:

— O patrão comprou a cadeira maldita, ela é a causadora dos últimos maus acontecimentos.

— Ouvi dizer que todos os últimos proprietários morreram, depois que se sentaram nela.

— Parem com essas estórias fantasmagóricas ! A cadeira pertenceu ao imperador Napoleão Bonaparte, me custou uma fortuna. Deixe a cadeira no mesmo lugar ao lado da lareira, quando for passar o aspirador de pó, e não troque mais de lugar! Desapontado, ele foi para o quarto repousar.

— Eu nunca retirei a cadeira do lugar, ela se move sózinha durante a noite. . .

— As folhagens e as flores no jardim murcharam, apesar de eu ter regado, creio que há um parasita.

— É obra satânica dessa cadeira amaldiçoada, com certeza. . .

* segue no cap. 3

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