PSICOSE- fim

Enquanto o corpo de Almir repousava em coma induzida, sua mente retrocedia em cenas do passado, torturando sua alma instável e debilitada.

— O menino é um inútil, inválido, um retardado mental. Preferia que ele tivesse nascido morto. A culpa é sua por ele ter nascido assim. Eu tenho outra mulher e irei morar com ela. Fique sózinha com seu filho debilóide.

— O médico falou que ele sofre de transtorno dissociativo de personalidade, múltiplas identidades. Ora assume ser um palhaço, um xerife, ou um índio. Eu também estou farta das loucuras dele, irei interná-lo numa clínica de psiquiatria. Não irei sacrificar toda minha vida, para ficar tomando conta dele, nem aguentando suas crises de esquizofrenia.

No seu quarto o menino de 12 anos Almir fazia cortes nos braços com uma gilete, escutando a briga de seus pais, por sua causa. Silenciosamente pelo corredor foi no quarto deles, que ficava ao lado. Remexeu no guarda-roupas e retirou a pistola do pai, sargento aposentado, e carregou a munição. Empunhando a arma enfrentou os pais:

— Se voces não me queriam, deviam ter me abortado! Eu odeio voces dois!

Disparou um tiro certeiro na cabeça do pai, que caiu morto ao chão, com os olhos esbugalhados.

— Olha o que voce fez seu demente, matou seu próprio pai. Irei chamar a polícia e voce irá parar num reformatório para recuperação de psicopatas assassinos, por muitos anos, só sairá de lá depois de velho.

Ela dançou no ar, ao ser atingida por um tiro no coração.

Almir enfiou os corpos na lareira e fez fogo. O cheiro de carne queimada era repugnante.

— Estou livre de voces para sempre, ardam no inferno junto com os demônios !

No dia seguinte juntou as cinzas e restos mortais, e misturou na terra dos canteiros no quintal.

A ruela onde ficava a casa, ainda não era asfaltada e havia apenas quatro casas de moradores pobres. Todos sabiam que seu pai tinha outra mulher e foi morar com ela. Uma única vez uma vizinha perguntou sobre sua mãe.

— Ela ficará internada bastante tempo no hospital, para se curar do avc cerebral que sofreu. Eu sei me cuidar sózinho.

Usando o cartão de crédito do pai, retirava dinheiro da conta para viver, sem nunca ter sido descoberto.

Algumas semanas depois os médicos suspenderam os medicamentos e Almir recuperou a consciência. Durante a noite, o enfermeiro veio trocar a infusão. Estando ele de costas, Almir bateu sua cabeça diversas vezes na parede. Deitou o enfermeiro na cama, retirou as roupas e a máscara protetiva e vestiu no próprio corpo. Observou quando o corredor estava vazio e fugiu da clínica pela saída dos funcionários. No dia seguinte alugou um carro numa locadora de automóveis, voltou para sua casa, deixando o auto na garagem. Pela porta interna que dava pra cozinha, levou o boneco manequim de loja, vestido com as roupas da mãe morta e colocou no banco traseiro, no outro a boneca inflável segurando um nenê, depois deixou a cidade.

— Almir para onde estamos indo ? Quem é essa mulher sentada ao seu lado com um bebê no colo ?

— Mãe essa é minha esposa Carol e meu filho Caio. Iremos começar uma nova vida em outra cidade, todos juntos como numa grande família.

— Que surpresa agradável, meu filho. Voce finalmente decidiu se casar e me dar um neto ! Estou orgulhosa de voce meu filho querido. Sua esposa já sabe que voce é louco varrido ??

Almir se virou dizendo: — É inútil sua megera demoníaca, voce não consegue mais me prejudicar. Eu retirei os órgãos internos do seu corpo e coloquei dentro da boneca, assim seu espírito ficará preso eternamente, esse é seu castigo.

Almir sorria satisfeito. Ligou o rádio que tocava uma música de Raul Seixas:

"Voce se esforça pra ser um sujeito normal, eu aprendendo ser louco, na loucura real, controlando minha maluquez, misturada com lucidez, ficarei com certeza maluco beleza, maluco beleza".

🚗 FIM

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NACHTIGALL
Enviado por NACHTIGALL em 14/09/2022
Reeditado em 11/11/2023
Código do texto: T7605667
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