Aposta Mortal

Meu nome é Junior tenho 20 anos e vim compartilhar uma história que aconteceu comigo e meus amigos há nove meses.

Éramos nove amigos, Daniel, Leonardo, Renato, Julian, Jean, Cesar, Renato, Thiago e eu fazíamos tudo juntos, brincávamos, frequentávamos a casa uns dos outros, gostávamos de ouvir música, beber e vez ou outra fumar um baseado, mas o que prevalecia sempre era o álcool, eu trabalhava em um bar no centro de São Paulo, então todos os finais de semana pouco antes do encerramento do expediente nos reuníamos e bebíamos, saiamos do bar e íamos à galeria do Rock para trocar ideias, fazer nossas apostas e beber, quando digo que bebíamos, tenho que falar da exceção, o Daniel, mais conhecido como tio Dani por ser o mais velho da turma, ele não bebia e nunca usou nenhum tipo de entorpecente, mas nem precisava, mesmo sem beber e de cara sempre limpa ele era o mais louco da turma, não era tímido e topava qualquer desafio, quando nós fazíamos nossos desafios sem valer nada e também quando fazíamos nossas apostas valendo grana.

Já desafiamos um ao outro para ver quem tinha mais coragem de chegar nas meninas somente para conhece-las, outro desafio era nós nove dentro de uma balada vendo quem conseguia pegar mais garotas, tínhamos também os trotes que passávamos nas pessoas, pedindo ajuda sem necessidade com histórias absurdas, o tio Dani era o que sempre se saia melhor, parecia que não havia nada que ele não conseguisse fazer, era um ótimo ator, porque mesmo sendo algo atípico e incomum as pessoas acreditavam, tamanho era seu apelo quando desafiado, tio Dani dizia não temer nada, nem mesmo os mortos, ele já havia trabalhado como segurança em um hospital e em um necrotério no período da madrugada, dizia que já tinha visto de tudo e que nada mais poderia afetá-lo.

Nos finais de semana fazíamos nossas brincadeiras, nossas apostas, e como era de costume, saiamos do bar e íamos à galeria do Rock, bebíamos enquanto a gente brincava e desafiava um ao outro, conhecemos nesse último fim de semana umas garotas legais, devido ao número que andávamos, sempre um bando de nove, tinha um ou outro que sobrava e ficava de vela para os casais, saímos da galeria e fomos a um barzinho com karaokê na Liberdade, o bairro mais japonês de São Paulo, um lugar com muitos lugares legais para passar o tempo.

Então bebendo, e com as ideias fluindo para que a gente identificasse juntos o melhor desafio, aquilo que seria a melhor aposta, gostávamos muito de filmes de terror, e falávamos sobre o filme Cemitério Maldito de Stephen King, foi nesse momento que tive uma ideia, que na verdade me arrependo até hoje, pelo que ocorreu depois, desafiei ali a todos, perguntei quem teria coragem de entrar em um cemitério à meia noite de uma noite chuvosa, nós bebíamos e tudo, mas nenhum ali teve a coragem, entretanto, em nosso grupo de amigos tínhamos o tio Dani que era o único que não bebia, e é estranho imaginar que uma pessoas sóbria aceitaria um desafio assim, teria de ser muito corajoso, então os meses passaram e todos pensavam que o tio Dani havia aceitado o desafio da boca para fora, no calor da emoção, para se mostrar para todos, mas na realidade tio Dani já havia se preparado, comprado uma capa de chuva e galochas, também havia comprado uma bandeira com o nome de sua banda favorita o Iron Maiden, e o que ele estava esperando era a noite chuvosa, a meia noite com a tempestade.

Perguntamos o porquê da bandeira e ele respondeu que aquilo era a prova de que ele havia ido ao cemitério, ele iria pular o portão e cravar a bandeira no túmulo como prova de sua estada ali.

Nesse dia nenhum de nós bebeu, não acreditávamos que ele faria aquilo, eram 23 horas de uma sexta-feira chuvosa, então tio Dani se levantou e disse: está na hora, vou indo para o cemitério, quanto será casado (termo que usávamos para nossas apostas)? Então Julian se levantou e jogou sobre a mesa uma nota de duzentos reais, ele adorava colocar fogo nas apostas, então todos fechamos em nove vezes duzentos reais, totalizando mil e oitocentos reais para quem tivesse aquela coragem e para quem não tinha, valeria a pena pagar para ver o desafio sendo realizado por um de nós.

Então tio Dani com sua coragem, sua capa, galochas para chuva e sua bandeira do iron Maiden pediu um Uber e foi para o cemitério do Chora Menino, na rua Nova dos Portugueses, mas infelizmente ele desapareceu, após a meia noite ele não respondia mais as mensagens e nem as ligações, ficamos preocupados e fomos ao portão do cemitério ver o que poderia ter acontecido, no entanto estava tudo aparentemente normal, pensamos, aquele “arregão” teve medo e foi pra casa e agora não que responder a gente por vergonha, na manhã seguinte, tentei ligar para ele, mas não atendia, falei com meus amigos pelo grupo que tínhamos, e todos estavam achando a situação estranha, então Leonardo disse que iria na casa do tio Dani para ver o que havia acontecido, tio Dani morava com sua avó, e chegando lá ela disse que ele não tinha passado a noite em casa e questionou se estava tudo bem, Leonardo sem saber se Daniel estava bem, respondeu que sim, que tudo estava bem, para não preocupar a senhora Maria, e saindo de lá mandou mensagem para o grupo, então decidimos ir ao cemitério para ver se ele estava tentando nos pregar uma peça, chegando lá ao meio dia vimos viaturas no portão do cemitério, e fomos perguntar o que havia acontecido, e o coveiro disse que havia encontrado um corpo ao lado do tumulo de um soldado que diziam ser uma pessoa muito ruim em vida, nos desesperamos, como assim, aquilo não podia estar acontecendo, era só uma brincadeira, foi solicitado as imagens das câmeras, vimos ele pulando o portão do cemitério, caminhando com sua capa de chuva e sua bandeira na mão direita e o que parecia um mastro em sua mão esquerda, então ele caminhou até aquele tumulo, e fincou o mastro na terra como havia prometido que faria na aposta, então ele se virou e deu dois passos para frente e caiu, tio Dani faleceu com um ataque cardíaco fulminante, nas imagens não foi possível ver ele enterrando o mastro da bandeira na terra, mas os legistas disseram que o mastro foi enterrado na terra e que nesse momento esse mastro prendeu em sua capa de chuva, talvez o homem destemido tenha tido o ataque cardíaco por medo, medo de que alguém estivesse segurando sua capa de chuva, sendo que não havia mais ninguém ali, nunca saberemos se houve ou não algo sobrenatural, desde esse dia, paramos com nossas apostas e amadurecemos como pessoas, e eu carrego essa culpa, ela é minha, ela é de estimação, esse é o preço que pago por ter tido a ideia que custou a vida de um dos meus melhores amigos.

Cuidado com suas brincadeiras e cuidado com suas apostas, elas podem ser mortais.

Junior Lima (Messias)
Enviado por Junior Lima (Messias) em 11/01/2023
Código do texto: T7692410
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