BAXTER MOTEL- 2
Lenan sorteava os objetos deixados no porão, para se desfazer de trastes inúteis. Numa caixa havia alguns vestidos e sapatos, perucas loiras, usados pelos artistas no filme Bates Motel. Num baú havia animais empalhados, esquilo, coruja, cão, ratos, e aves. Estendeu todos sobre a mesa de madeira comprida e ficou admirando.
Lena foi até o porão, para pedir ajuda para misturar as tintas.
— Lenan, vamos deixar esses animais macabros e todas essas coisas nas caixas, eles podem retornar para buscar.
— Eu gosto dos bichos, são obras de um preparador de animais, irei levar alguns para meu quarto. Veja quantos vestidos bonitos, experimente algum.
— Está certo, mas depois venha me ajudar com a pintura da parede. Vire-se de costas.
Lena vestiu o vestido de flores minúsculas, sendo um pouco apertado.
— Coloque a peruca loira também, vamos fazer uma foto.
Agora sim, voce está parecendo Norma Bates, só falta a lente de contacto azul.
Dois dias depois Lena notou que Lenan ainda não havia levantado da cama, e foi chamá-lo.
— Voce irá se atrasar, perder o ônibus para ir na escola.
— Eu estou indisposto, com febre, ficarei descansando em casa.
— Irei ferver um chá e trazer um ibuprofen para voce.
Da cozinha ela escutou um baque e subiu a escada correndo.
Lenan havia caído da cama e não conseguia levantar sózinho.
Preocupada com a debilidade do filho, o arrastou até o carro e levou-o para o hospital no centro da cidade.
Pouco depois o médico veio avisar que ele ficaria internado para exames, até no dia seguinte.
No outro dia, Lena foi buscar o jovem no hospital. Ela escutava o médico relatar o resultado dos examees físicos.
— Seu filho se debate durante o sono, fala e chora alto. Foi constatado uma hiperatividade cerebral. Talvez algum trauma de infância que não foi trabalhado está se manifestando agora. Sugiro a clínica neurológica em Weilmuster, com acompanhamento de um Hipnoterapeuta.
Em casa Lena conversava com o filho sobre a situação.
— O médico indicou uma clínica neuropsiquiátrica, mas voce não precisa ir se não quiser.
— Eu irei decidir depois. Deixe-me dormir, estou cansado.
— Sim Lenan, descanse. Irei chamá-lo quando o jantar estiver pronto.
No quarto escuro Lenan olhava os animais empalhados na estante. Um esquilo desceu da prateleira e se aproximou de sua cama, e ficou olhando fixamente para ele. De repente o esquilo saltou sobre ele aranhando seu rosto com as garras, enquanto ele se debatia para se defender do animal. A coruja empalhada em cima do guarda- roupas começou a cantar uma balada fúnebre. Todos os animais empalhados passaram a choramingar numa barulheira infernal dizendo:
— Eu não estou morto, eu não estou morto !!
▬▬► segue no cap. 3
♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦