O Japa !!!

Ele se aproximou, era por natureza curioso. Estava com ânsia de vômito. A névoa se dissipou e Kurutta pode ver.

Um amontoado de corpos mortos deixados para trás. Uma cena que nenhum se humano deveria presenciar. Pés, braços e pernas retorcidos e quebrados de todas as formas possíveis. Roupas e cadáveres chamuscados. Crianças, velhos, mulheres e jovens formavam uma massa disforme. Vermes rastejavam por cima e por baixo das carcaças de pele, carne e sangue. Uma turba de ratos cinzas se banqueteavam junto as infinitas moscas, e até brigavam por pedaços de intestinos. A pele dos defuntos tinha uma textura pegajosa, outros tinham a parte do corpo carbonizada, podiam se ver vários buracos feitos por urubus durante o dia em todas as partes. O vento passava por cima daquela cena dantesca e arrepiava os pelos dos roedores. Em alguns momentos o chão tremia devido aos disparos de artilharia próxima dali. Escombros e entulhos rodeavam todo o setor. Mesmo com o barulho, ele podia ouvir o movimento contínuo das larvas e o mastigar dos ratos. Um líquido preto escorria pela rua como se fosse uma gosma. Um dos ratos conseguiu tirar um pedaço de tripa da boca de outro parente seu, e saiu correndo ligeirinho para uma toca próxima dali. Um dos pequenos malditos ficou preso e foi soterrado por uma carcaça que caiu sobre ele. Alguns dos finados tinham as barrigas inchadas, que estouravam e exalavam um odor pútrido e fétido. Um cheiro de carne assada no ar. Tudo ali fedia. Podiam se ver órgãos à mostra e ossos descarnados. As vísceras estavam a mostra. Tinham olhos gelatinosos, vazios e sem vida.

Ele acordou aos berros na cela do manicômio, o pesadelo o atormentava a semanas. Kurutta já havia perdido totalmente a noção de tempo naquele lugar, a porta de sua atual residência se abriu, o enfermeiro e o médico responsável pelo caso entraram, o interno não parava de gritar:

– A PILHA DE CORPOS, A PILHA DE CORPOS! – Ele gritava, babava, soltava relinchados como um animal chicoteado.

O médico se aproximou e esbofeteou o rosto de Kurutta:

– Pare de gritar, você está louco, não existe pilha de corpos, está tudo na sua cabeça. – Bateu novamente na cara dele, e se dirigiu ao enfermeiro. – Dobre a dosagem da medição, o caso dele é sem solução.

Kurutta estava preso a camisa de força, não podia fazer nada a não ser gritar.

O enfermeiro aplicou a medicação.

Quando fecharam a pesada porta, ainda se ouvia o grito que virou murmúrio:

– A PILHA DE CORPOS! A pilha de corpos! Mamãe!

E dormiu!

Telly S M
Enviado por Telly S M em 23/06/2023
Reeditado em 23/06/2023
Código do texto: T7820452
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