ESTÍGIA — ECOHORROR

📜 O calendário marcava o ano de 1858 em Londres. A cidade possuía esgotos insuficientes, envelhecidos e inadequados. Durante muito tempo dejetos humanos como excrementos da população e animais, efluentes industriais, eram despejados no rio Tâmisa. Eis que no verão aconteciam altas temperaturas e todo esgoto do Tâmisa começou a fermentar sob o sol escaldante, cozinhando o lixo no calor intenso. O cheiro de putrefação infestou a cidade com fedor animalesco. ☣️ A abominação pestífera criadora de tifo, difteria, escrófula, cólera, se alastrou pelos habitantes, resultando em centenas de mortes. Por não suportar a fedentina dantesca, moradores fugiam da cidade para outros lugares, os restantes permaneciam trancados em casa usando máscaras de oxigênio para se proteger e poder respirar. Da espuma borbulhante do Tâmisa exalava uma densa neblina escura e pegajosa, que flutuava pela cidade silenciosa, desenhando siluetas disformes, feito espectros errantes na escuridão da noite morta, cobrindo árvores e pontes com um véu negro e pestilento. O vento soprava o cheiro de podridão bestial, rumores de lamentos, retinir de dentes, maldições, praguejamentos de malgúrias. O cemitário foi abandonado, sendo os defuntos amontoados e queimados na fogueira, para tentar evitar a contaminação das doenças, causadas pela poluição do Tâmisa. Nas torres dos campanários, ao lado dos monumentos dos gárgulas, se empoleiravam corvos com seus grasnados sinistros, na espreita dos cadáveres caídos pelas ruas.

Contava-se que sobre as águas turvas do Tâmisa deslizava uma barca fantasmagórica, e uma figura macabra rodava o remo, escondendo sua cara de esqueleto, envolto num manto negro. Era Caronte, prego.

Químicos tentaram colocar na água cal de giz, hipoclorito de cálcio, ácido carbólico, para limpar a água, obtendo mínimos resultados. Biólogos decidiram aproveitar recursos da natureza, criando plantas aquáticas para despoluir as águas contaminadas, como murerês, aguapés, que retiram toxinas, diminuem a carga orgânica, neutralizam elementos químicos, palmeiras-bambus que purificam o ar, absorvem fumaça de tabaco e outros gases poluentes. As plantas aquáticas se proliferaram cobrindo o Tâmisa como um tapete verde, desinfetando e purificando as águas e o ar, sendo o mau cheiro eliminado e a neblina negra desfeita.

Para desagrado dos corvos e abutres grasnadores acampados pelas torres, que bateram asas e se foram, procurar sua refeição em outro lugar, grasnando de amargar. E o barco fantasma de Caronte, não tendo mais almas para levar, desistiu do rio Tâmisa, foi procurar outro rio para assombrar, dando lugar para os cisnes nadar.

🦢 🦢 🦢 🦢 🦢 FIM 🦢 🦢 🦢 🦢 🦢

* Estigio era o nome grego fictício do rio dos mortos,onde o barco de Caronte navegava transportando almas para o Hades.

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NACHTIGALL
Enviado por NACHTIGALL em 11/10/2023
Reeditado em 22/02/2024
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