Eles já vêm te buscar

Não lembro de como começou. Sei apenas a partir desse ponto. Estava brincando com meia dúzia de amigos em um galpão acinzentado. Corríamos, pulávamos, ríamos.

Entretanto de uma coisa eu sentia falta. Algo abstrato, uma mãe, um pai, alguém para cuidar da pobre criança que sou.

— Preciso ir, minha mãe deve estar preocupada.

Um amigo de roupa azul respondeu:

— Não precisa, eles já vêm te buscar.

Aceitei. Continuei a brincar com meus amigos.

Após alguns minutos quem apareceu foi meu pai, que disse:

— Vamos, está tarde.

Me despedi e meu pai pegou-me no colo. Deixando minha cabeça sobre seu ombro. Andamos pelas ruas até eu apagar.

Acordei em um jardim, numa maca, amarrado e com minha mãe chorando. Os médicos com jalecos impecavelmente brancos me levavam. Eu não conseguia falar, me mexer, e nem entender.

Entrei então no quarto, e um dos médicos fincou uma máscara no meu rosto, dizendo que era para meu bem. As agulhas da máscara entravam na minha pele, mas eu não sentia dor. Parecia estar anestesiado de loucura.

Continuei amarrado, com o frio da máscara de alumínio marcando a pele, e com o médico dizendo:

— Eles já vêm te buscar.

Otacílio de Almeida
Enviado por Otacílio de Almeida em 22/10/2023
Código do texto: T7914530
Classificação de conteúdo: seguro