BELA SEM ALMA

No INBG (instituto nacional biogenética), trabalhava o mestre em genética forense dr. Ednei Seifer. Ele e sua bela esposa Raika esperavam com entusiasmo o primeiro herdeiro, a gestação completava sete meses. Ao chegar em casa do trabalho, viu que Raika dormia no sofá, com a televisão ainda ligada. Acariciou seu rosto sem obter reação, preocupado chamou uma ambulância. Pouco depois na clínica de obstetrícia, o médico obstetra urubu veio até ele com uma terrível noticia.

— Sua esposa entrou em coma por envenenamento de cadáver. Tentaremos filtrar o sangue contaminado, substituír por uma transfusão de sangue novo. A criança está morta já alguns dias no ventre materno, em estado de decomposição, faremos uma cirurgia de emergência. Existem mínimas chances de sobrevivência da mãe.

Depois de duas longas horas de tortura de espera, uma enfermeira se aproximou dele dizendo :

— Sua esposa faleceu alguns minutos atrás. Os corpos estão no necrotério, no andar inferior. Temos uma funerária aqui, se o senhor quiser providenciar o funeral.

Aqueles acontecimentos pareciam um macabro pesadelo de horror. A maldita morte genocida havia destruído sua vida em poucos minutos. Para morrer basta estar vivo, essa é a sina de todos.

No necrotério ele observava os cadáveres de Raika ao lado do menino, Jayden era o seu nome escolhido por eles.

Contratou a funerária do hospital para providenciar o funeral.

— Prefiro velar os corpos por algumas horas em minha casa, numa cerimônia particular, voltem no final da tarde para transportar para o cemitério local.

Assim os dois caixãos lacrados foram deixados em sua casa. Ele não iria comunicar ninguém, os pais de Raika já eram falecidos, sua única tia de 83 anos vivia num lar de idosos, portadora de demência e não reconhecia ninguém.

No final da tarde no cemitério, o pastor da funerária lia um salmo da Bíblia sobre "Deus receba suas almas", essas inventivas de religiosos. Espíritos, almas não existem, apenas matéria física. Os dois foram sepultados juntos numa única lápide, mãe e filho um ao lado do outro. Ednei depositou as flores no túmulo e deixou o sinistro cemitério.

Em casa, serviu uma dose de vodka. A casa vazia parecia ter perdido a vida, no ambiente reinava o silêncio da morte, a maior inimiga da humanidade. Arrumou diversas malas, enrolou o tapete persa, pegou o terrário com seus bichinhos, colocou tudo no carro.

Na manhã seguinte, escreveu uma carta de demissão no trabalho, retirou todas economias, encerrou a conta no banco, depois deixou as chaves da casa numa imobiliária para vender.

Iria para outro lugar distante, começar uma nova vida bem longe dali, onde a maléfica morte não poderia encontrá-lo.

Será ?

▬▬▬► segue no cap. 2

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NACHTIGALL
Enviado por NACHTIGALL em 03/01/2024
Reeditado em 03/01/2024
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