O destino dos três - CLTS 26

Três homens conversavam animadamente em um bar. Já estavam bebendo a horas, iam lá para as tantas da madrugada e o dono do bar estava impaciente para fechar.

- E aí meus amigos, já tá tarde né, sei que a conversa tá boa, mas eu vou ter que fechar agora, amanhã tem mais labuta pra nois tudo.

Falava em tom lamentoso, para que eles não percebessem o seu incômodo. Eles viraram para o dono do bar ao mesmo tempo, olharam para o relógio logo acima do balcão e suspiraram. Realmente já era tarde.

-O rapaz, não é que o tempo voou mesmo, a conversa tava tão boa. Respondeu Jeremias.

Era um senhor de uns cinquenta anos, possuía um vasto cabelo quase todo grisalho assim como os pelos que cobriam seu corpo, uma barba espessa, barriga protuberante e um nariz bulboso. Usava um chapéu de palha, vestia uma camisa azul desbotada com os botões todos abertos, bermuda jeans velha e uma sandália de couro bem gasta.

-Eita! então vamo pegar o nosso rumo cambada, daqui a pouco a gente tem que levantar de novo! Exclamou Paulo.

Conhecido pelo seu pavio curto, tinha por volta de 40 anos, corpo magro e definido, queimado de sol, cabelo preto ligeiramente grande e liso, barba por fazer, seus olhos pareciam sempre semicerrados, possuía marcas de expressão entre suas sobrancelhas e nariz aquilino. Usava uma camisa regata branca encardida, bermuda de algodão marrom e um chinelo havaianas velho.

-Ééééé…a conversa rendeu mermo….Burp…será se eu vou consiguir me alevantar amanhã?…Deus me dê forças…irc. Tiago foi dizendo essas palavras enquanto se erguia com dificuldade.

Teve que apoiar os dois braços na mesa, estava muito mais embriagado que seus companheiros, era um bebedor nato. Usava shorts jeans, o tronco estava nu e sobre o ombro esquerdo estava jogada uma camisa preta. Possuía uma barba cheia de falhas, olhos castanhos, sobrancelhas finas, seu cabelo preto e cacheado estava sempre desgrenhado, sua pele branca vivia vermelha por falta de proteção contra o sol, era toda coberta por manchas. Acertaram a conta, se despediram do dono e ganharam a rua.

Iam caminhando e conversando em voz alta, lembrando sobre outras noites em que beberam, dos problemas que já tiveram e resolveram juntos. Nesse espírito foram saindo do centro da cidadezinha, até chegarem a uma estrada de barro, continuaram a caminhada margeando este caminho que levava as fazendas que circundavam toda a região. Assim que estavam a uma boa distância, Tiago que até então era o mais entusiasmado pelo assunto, mudou o semblante, os olhos ficaram vidrados, parecia ver alguma coisa, como se estivesse ali diante deles. Os companheiros notaram a mudança em sua feições, já sabiam, agora iria se lamentar novamente. Antes que pudessem agir para desviar os seus pensamentos, ele começou a falar com a voz pastosa.

-Simmmmm…meus amigos, sempre fiéis não é assim….um apoia o outro….burp, para o bem e para o mal…gurp.

Começou a vomitar. Passado alguns minutos se recuperou um pouco, limpou a boca com a mão, respirou fundo e continuou.

-Mas…está tudo certo…amigos tão fiéis merecem uma recompensa…Deus tem um lugar reservado pra gente…irc…no inferno. Gargalhou ruidosamente.

Jeremias e Paulo trocaram olhares enquanto meneavam negativamente a cabeça. Paulo irritado por ter que ouvir aquela conversa de novo, carregou o cenho e disse.

-Ouve só uma coisa cabra, não é a primeira vez que eu te aviso, esquece esse assunto, tem que deixar o passado quieto, larga de bestagem.

Jeremias viu que a reprimenda não surtiu efeito visível em Tiago, pois ele permaneceu caminhando com os olhos vidrados, resolveu acrescentar.

-Rapaz que besteirada, oque passou, passou…

Olha o Paulo e eu, nem nos lembrariamos mais, se não fosse você que fica toda hora mexendo nesse assunto.

Tiago percebeu que estavam irritados, Tirou a camisa do ombro e enxugou os olhos que estavam marejados e a recolocou no lugar. Após alguns minutos andando, agora todos em silêncio, Tiago decidiu continuar o assunto.

-Eu…não consigo esquecer…gurp, ela sempre vem…me visitar…nos meus sonhos…irc…é um inferno… isso começou tem um ano já…achei que ia passar…irc, mas não passa…eu estou cada dia mais triste e desesperado…quase não consigo suportar mais…gurp.

Ao ouvirem essa declaração, a irritação inicial que os outros dois sentiam foi dissipada, dando lugar a um sentimento de preocupação que se fez notar quando seus olhares se cruzaram novamente. Jeremias coçou a barba. Enquanto caminhavam, ele observou Tiago. Se aproximou, Inclinou o corpo em sua direção, jogou o braço sobre os ombros do amigo e falou.

-Como assim não consegue suportar mais ?

Conta pra nois direitinho o'que se passa nessa cabecinha de vento, deixa seus amigo cuida de você.

E puxou com força a cabeça do outro para perto de si. Tiago fez uma careta, teve que se esforçar para se desvencilhar do abraço. Quando conseguiu o empurrou, e foi cambaleando para o lado de Paulo, que agarrou seu braço esquerdo

com firmeza e acrescentou.

-Então é por isso que você virou um pé de cana, por causa de um sonho !...

Riu e continuou.

-Quanta bestagem, e faz um ano que você caiu de vez na cachaça, nem parece mais o mesmo, e que história é essa de “ não suportar mais “ ? explica pra gente.

Tiago viu a desconfiança em seus semblantes, o receio do que ele poderia acabar fazendo : “ Eles não entendiam, como poderiam ? As coisas que ele viu, muitas delas quando estava de olhos bem abertos. Nem ouviram o'que a garota lhe falou, será que eles acreditariam ? “. Pensou e resolveu tentar.

-Ela falou que vai pegar a gente…aquela menina…irc, já faz dois anos né…a gente acha que se safou…irc, ela vai se vingar…ela falou pra mim… eu comecei a sonhar… não via ela só em sonhos… ela começou a aparecer…irc, do lado da minha cama de manhã…amigos, ela falou que ia me pegar, não ia parar de me atormentar até o meu último dia…ela ainda anda com aquele vestido…os vermes…burp.

Paulo olhou sobre a cabeça de Tiago e fez sinal para Jeremias. Os dois foram diminuindo o passo, Tiago nem percebia oque estava acontecendo de tão absorto em seus pensamentos. Os dois começaram a cochichar.

-E então, o que tu acha ?

Perguntou Paulo, apontando com a cabeça na direção do outro que ia na frente.

-Ele tá ficando biruta, acho que a nossa festinha deixou ele bem mais abalado do que parecia, e óia que foi ele que mais brincou.

Jeremias riu baixinho, fazendo sua protuberante barriga mexer de leve.

-Acho que ele vai acabar dando com a língua nos dente. Completou.

-É tô contigo nessa, acho que o cabra aí tá quase entregando os ponto, esse papo de aparição é só na cachola dele, vamos te que resolve isso é agora, não gosto de brincar com a sorte.

Se aproximaram novamente de Tiago, ainda caminharam por mais uns vinte minutos. Tiago então estacou, olhou na direção da mata que margeava a estrada e se lançou dentro dela, os outros dois gritaram.

-Arre ome, oque você tá fazendo ? Volta aqui. Gritou Jeremias.

-Que loucura é essa Tiago, você vai acabar sendo picado por uma cobra, volta pra cá, desgraça.

Bradou Paulo com a voz carregada de cólera.

-Vocês acham…que eu não ouvi… eu sei oque querem fazer…irc.

Gritou Tiago do meio do matagal. A mata que margeou toda a estrada, possuía apenas 500 metros de largura e separava as propriedades rurais da estrada. Devido a escuridão era impossível distinguir de onde vinha exatamente a sua voz.

Paulo fechou o cenho, tirou um punhal que sempre carregava na cintura e pulou no mato.

-Quer saber, cansei de ser bonzinho, eu vou te sangrar é agora seu miserável.

Jeremias exitou por um momento, a mata estava totalmente tomada pela escuridão, poderia se machucar e ele não era nenhum jovem para se arriscar assim.

Paulo gritava a plenos pulmões.

-Vem aqui seu desgraçado se for homem, a gente foi bom demais com você seu cabra mole, tá doidinho pra confessar né, vou te mostrar do que você tem que ter medo.

Ia empurrando galhos, desviando de raízes, enquanto observava o entorno a fim de captar algum movimento que denunciasse a presença de Tiago. Jeremias havia entrado na mata, estava no encalço de Paulo, mas devido ao receio de cair e se machucar, avançava vagarosamente. Resolveu gritar para que o esperasse.

-Ooooooo Paulo, péra um pouco aí, deixa eu chega perto pra ajudar você a procurar esse infeliz.

Paulo ouvindo o chamado respondeu.

-venha de uma vez, eu tô cá parado.

Enquanto aguardava, fez uma varredura completa. Ouviu o barulho característico de alguém caminhando na mata em sua direção. Após alguns minutos, nada de Jeremias aparecer se irritou e gritou.

-Aonde você tá véio desgraçado, desse jeito o miserável vai fugir.

A resposta de Jeremias foi imediata. Paulo teve a impressão que dessa vez, a voz veio de outro lugar.

-O miséria, você se mexeu foi ? Parecia que tu tava logo na minha frente.

Jeremias estava cansado.

-Paulo eu vou sair da mata, queria ajudar, mas pelo jeito só vou atrapalhar, não consigo nem achar você, tá um breo danado. Gritou Jeremias.

-Melhor mesmo véio, e agora se aqueta, esse verme não deve ter ido longe, bebo do jeito que tá, vou ir na surdina e pegar ele cagano.

Jeremias tomou um susto quando percebeu que a voz veio da escuridão atrás de si : “ Será que realmente estava muito mal das vistas, passou pelo outro e não o viu, ou a bebida fez mais efeito do que imaginava”. pensou.

Paulo avançou com cuidado, em volta apenas o som dos grilos. Então ele ouviu alguém caminhando. Quem quer que fosse, estava com a respiração irregular e vinha em sua direção. Se escondeu atrás de uma árvore, apertou bem firme o cabo do punhal, estava pronto para dar o bote. O barulho se intensificou e junto um choro abafado, ele se agachou armando o ataque. De repente, um gemido, e a mata fica toda iluminada o brilho é acompanhado pelos gritos de desespero de Tiago.

-Meu Deus tem misericórdia! haaaaaaaaaaa!

Paulo, Jeremias socorrooooooooooo!

Saiu de trás da vegetação, passou correndo e pulando, se jogou no chão, rolou convulsivamente e nada parecia fazer as chamas se extinguirem. Paulo ficou atrás da árvore paralisado, enquanto Tiago rolava de um lado para o outro, se debatendo, quando abriu a boca para gritar surgiram chamas vindas de seu interior, após alguns segundos ele virou de bruços e parou de se mover.

O cheiro de carne queimada tomou o lugar. Paulo arfava devido ao susto : “ Que diabos foi aquilo, quem poderia ter feito isso com Tiago ”. pensou consigo. Apesar do medo, saiu de trás da árvore e caminhou até onde o outro estava caído. Parou a poucos metros, queria ver o estrago o fogo havia consumido quase todo o corpo de Tiago. Enquanto ele olhava com espanto os restos de seu antigo companheiro de bebida, a risada de uma criança ecoou.

-hahahahahaha… e agora com quem eu vou brincar ?

A voz parecia vir de todos os lados da mata. Paulo arregalou os olhos e observou o entorno rapidamente.

-Ei tio, você quer brincar de esconde esconde comigo ?

A voz veio de trás, se virou e o pouco de coragem que ainda possuía ruiu. Uma menina de mais ou menos um metro e meio, vestido apodrecido, metade do rosto era descarnada e se via que a cavidade ocular estava vazia, na outra parte achava-se repleta de vermes e o globo ocular estava pendurado pelo nervo óptico, seus braços e pernas soltavam pedaços de sua carne, dos dedos da mão sobraram apenas os ossos e seus pés estavam calçados com sapatinhos tão destruídos quanto sua dona.

Paulo saiu correndo, só queria fugir da presença daquele monstro, nem viu para qual lado estava indo. Bateu em plantas e árvores, tropeçou e com a agilidade de um gato se recompôs. Parou após um tempo já sem fôlego e quando se recuperou, procurou ver o lado da estrada. Resolveu seguir para a direita : “ Uma hora vou achar ou a estrada ou a cerca de alguma fazenda. Pensou. Antes de tomar rumo, se lembrou que durante a fuga teve a impressão de ter ouvido Jeremias chamar, logo deixou essa ideia de lado : “ o véio já devia estar longe” .

Jeremias ouviu os gritos de Tiago, deu meia volta e viu uma luz entre as árvores se movendo e parando.

-O que será isso ? O'Que Paulo fez com aquele infeliz… tsc, tsc, tsc… eu vou é sair daqui e depois eu pergunto o'que sucedeu.

Continuou sua caminhada rumo a estrada.

Nesse momento ouviu alguém vindo em sua direção. Seja quem for estava rápido, o barulho de galhos sendo quebrados e o farfalhar de folhas vinha aumentando. Com medo ele resolveu indagar.

-Paulo é você ? Falou alto e com a voz receosa.

Passou próximo e seja lá quem era, nem deu resposta. Esperou, o barulho foi diminuindo e se afastando, após um tempo mais nada, apenas os sons dos insetos. Iniciou novamente a sua marcha. Quando completou dez passos, ouviu uma risadinha e a voz que denotou certo divertimento.

-Ei, ei, tio…você também vai brincar comigo ?

Vai ser tão divertido brincar com vocês de novo hahahahahahahaha.

O velho se arrepiou. Quando se virou, lá estava ela em meio a escuridão, era possível distinguir sua silhueta. Ele forçou a vista para tentar reconhecela.

-Ei garotinha, o que faz aqui ? Por acaso está perdida é ? Perguntou com voz vacilante.

A garotinha riu de novo e falou.

-Ué tio não lembra mais de mim, a gente já brincou junto, você era o bicho papão hahahahaha… lembra ?... O bicho papão vai te pegar… você e os outros tios falavam assim… vocês conseguiram me pegar daquela vez, agora é a minha vez de pegar vocês hahahahahahaha.

Jeremias quase caiu para trás : “ Aquela menina, será que Tiago estava certo, ela veio nos atormentar, não, não pode ser verdade ”. Enquanto estava mergulhado nessa dúvida, a menina se aproximou. Ele ao vê-la mais nitidamente, percebeu seu estado e grita.

-Ave Maria, Jesus amado me proteja… vá de retro satanás.

Se virou para tentar correr. Sofregamente ia pela mata e o tempo inteiro a menina aparecia entre as folhas próximas gritando.

-Eu vou te pegar hahahahaha, o bicho papão vai te pegar, não adianta correr hahahahaha… o bicho papão gosta de almoçar velhos tarados hahahahhahahaha.

O infeliz desesperado, começou a chorar e a implorar.

-Por favor menina, me perdoa… eu não queria fazer aquilo… os outros me obrigaram, me deixa em paz pelo amor de Deus.

-O bicho papão não quer saber de choro… você se esqueceu… o bicho papão só quer saber de brincar hahahahahaha… corre velho tarado… hahahahaha.

Ele prendeu o pé, caiu e para sua desgraça acabou torcendo. Gritou de dor, se arrastou até uma árvore se sentou e apoiou as costas. Olhou em volta e viu o rosto da menina em um arbusto próximo, engoliu seco e começou a se lamentar.

-Por favor, por favor, por favor, me deixa ir, eu prometo que eu vou mudar… vou ir para igreja, eu não queria nada daquilo eu juro… mato os outros dois se você quiser.

A menina foi caminhando em sua direção, aproximou-se e o cheiro de podre se intensificou, chegando aonde o outro estava, falou.

-Shhhhhh, não chora, já te falei que o bicho papão não gosta… o outro tio me queimou e por isso o bicho papão queimou ele também hahahahahha… e você…?

Pulou para cima de Jeremias. Seus dedos esqueléticos cravaram fundo em sua garganta. Enquanto ele lutava para se desvencilhar, abriu a boca tentando respirar, os vermes caiam do rosto dela lá para dentro. Tentou se levantar e ela apertou mais forte ainda, foi perdendo as forças, seus olhos começam a ficar injetados, veias saltavam por todo seu rosto, estava completamente vermelho. Começou a perder a consciência, a visão foi enevoando, lágrimas caiam de seus olhos a vida foi deixando seu corpo e sua derradeira visão antes do fim, foi a impressão de um riso satisfeito na face pútrida de seu algoz.

Paulo cansou, caminhou um bom pedaço, e nada de estrada ou cerca : “ Não era possível que a mata tivesse todo esse tamanho “. pensou. Se sentia aliviado de não ter visto mais a assombração, só de pensar o estômago embrulhava. Ele parou, se apoiou em uma árvore, e comentou.

-Meu Deus ! Me tira dessa, não tô aguentando mais andar não.

Assim que terminou de falar a voz da menina surgiu da escuridão.

-hahahahaha… te achei…te achei, foi muito divertido brincar com vocês hahahahahaha… o bicho papão vai te pegar também.

Ele pulou de susto, olhou em volta e viu a menina atrás de uma árvore, aparecia só a metade do rosto. Sacou o punhal e se pôs em posição defensiva.

-hahahahaha… o tio quer brincar de luta né… eu lembro bem, você gostava de bater… hahahahahahaha.

Paulo estava com o coração quase saindo pela boca, não parava de tremer. A menina caminhou em sua direção. O cheiro de podre aumentou, quando ela se aproximou, ele arremeteu com o punhal. Transpassou o corpo da menina com facilidade, usou tanta força que a mão com o punhal saiu nas costas. Tentou se soltar, mas ela estava grudada em seu braço. Bateu o corpo da menina nas árvores, tentou puxar com a outra mão e nada adiantou. Começou a socar com a mão que estava livre, com toda sua força. Os vermes voavam para todos os lados, carne podre soltou do corpo, enquanto ele girou de um lado ao outro com ferocidade.

-hahahahaha… nossa tio você tá fraquinho em hahahahahahaha… você me bateu com muito mais força na última vez… bom agora é a vez do bicho papão bater.

A menina fechou o punho e deu um soco no braço de Paulo. Pareceu que uma pedra enorme atingiu o local onde a menina bateu, o braço quebrou e o osso rasgou a pele fazendo o sangue jorrar. Paulo gritou.

-Aaaaaaa sua desgraçada, eu vou te matar.

A menina riu.

E deu outro soco no mesmo lugar, o braço foi arrancado e o corpo da menina caiu. Paulo cambaleou para trás e caiu também. Estava no chão apertando o ferimento e gemendo. A menina se aproximou segurando o braço decepado e fez uma provocação.

-Acho que você perdeu isso hahahahahaha… agora eu vou fazer igual você fez comigo… hahahahahaha.

Jogou o braço decepado em Paulo. Ele, que até então, estava tomado pela dor excruciante, ergueu seus olhos e falou com a voz carregada de fúria.

-A gente sempre brincava de bicho papão com as nossas amiguinhas… não me lembro de você, mas com certeza deve ter sido muito bom.

E cuspiu na menina. Nesse mesmo instante ela saltou e caiu sobre o seu peito. Os olhos de Paulo foram da irá ao desespero em segundos. Ela começou a socar o seu rosto. O homem gritava, mas logo sua voz deu lugar a um gorgolejar sufocado. A menina socava com ferocidade, dentes voavam a cada investida de suas mãos, enquanto ela falava e gargalhava.

-hahahahaha… a brincadeira acabou… o bicho papão pegou todo mundo… hahahahaha.

Seu riso ecoou por toda a mata.