GERONTOFOBIA

O técnico em computação Aldrin Thorn, tinha 39 anos, nunca havia se casado e vivia sózinho, desde que sua mãe já viúva falecera aos 95 anos, num lar de idosos. Aldrin tinha aversão, pavor mórbido e medo patológico do processo de envelhecimento. Envelhecer é sinônimo de doença, incapacidade, feiura, sentença de morte. Ele sentia horror intenso de ver sua imagem refletida no espelho, havia retirado todos eles e evitava lugares onde existiam espelhos. Além disso há lendas que dizem que quem quebrar um espelho sofre sete anos de azar, algo ruim acontecerá, refletem-se seres sobrenaturais, vultos e fantasmas, e durante a noite espelhos tornam-se ainda mais assustadores. Ele havia retirado também todos os relógios da casa, o movimento dos ponteiros indicava o tempo passando e o envelhecimento chegando. Para ir ao seu trabalho na firma de computadores, escutava o vizinho sair com o carro perto das seis horas da manhã, então levantava também. Ele tinha uma sala única onde trabalhava, assim o contato com colegas era reduzido, não precisava escutar queixas de reumatismo dos mais velhos, nem ver suas rugas e cabelos grisalhos.

Só é bonito, valoroso, aquilo que é novo, jovem, sem marcas do tempo, ficar velho é tabu, tema incentivado e motivado pela indústria de cosméticos, e procedimentos estéticos, para manter a aparência jovial, vendendo a ilusão da juventude eterna.

Aldrin já havia procurado ajuda com um psiquiatra, mas interrompeu a terapia quando o médico confrontou-o com um grupo de pacientes idosos e cadeirantes. Ele não aguentou ver tantos velhos ao seu lado numa sala fechada, sofreu um surto psicótico e fugiu do lugar. Ele também havia pensado em se suicidar antes de ficar velho e adquirido uma arma, o medo de fracassar e ficar paraplégico, ter que depender dos outros o impedia, ele era covarde demais para se matar. Havia perdido o ânimo de viver, a morte era a solução, teve a ideia de contratar um pistoleiro profissional para matá-lo. Numa página na internet encontrou um matador experiente que oferecia seus serviços. Ele exigia pagamento adiantado de vinte mil dólares. Aldrin enviou o valor para a conta dele, seu nome, enderêço e lugares que costumava frequentar. Logo a página do pistoleiro foi desativada, para não ser encontrada pelas autoridades.

No noite seguinte ele acordou com um estrondo e uma correria lá fora. Aldrin havia deixado o auto estacionado na frente da casa. Um homem tentou furtar o carro, ao ligar a ignição aconteceu uma explosão, o ladrão tinha morrido no lugar dele. A polícia constatou que foi uma bomba proposital colocada no carro.

— Maldito ladrão imbecil, justamente o seu carro ele havia inventado de roubar ?

Após responder as perguntas dos policiais, se ele tinha algum inimigo etc. foram embora. O pistoleiro agia rápido, fora ele o autor da bomba no auto, aquele ladrão idiota havia estragado sua chance de morrer. Ligou para a seguradora onde tinha seguro contra roubos, iria receber um carro alugado por alguns dias, até entregarem um novo. No final da tarde do dia seguinte, foi num pequeno restaurante frequentado só por jovens, escolheu uma mesa perto da janela e pediu a refeição. Num prédio ali perto um homem empunhava uma semi- objetiva, o ponto vermelho do Laser marcava direto para sua cabeça. A garçonete servia a água mineral no copo, exatamente quando Aldrin se virou para agradecer, a bala acertou a garrafa, saltando cacos por todos os lados. A polícia foi chamada, mas não encontraram nenhum suspeito. Era mais uma tentativa fracassada do pistoleiro, todas pessoas querem fugir da morte, mas parecia que a morte estava fugindo dele. . .

💀 ▬► segue no próximo capítulo

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NACHTIGALL
Enviado por NACHTIGALL em 26/03/2024
Reeditado em 28/03/2024
Código do texto: T8028322
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