Herança Maldita

Já completava um ano e meio da morte do velho coronel. 18 meses que aquele velho podre de rico e ganancioso bateu as botas. Um baita mausoléu na necropole. Marmore, ouro, prata e ouro branco. Tudo de primeira. O melhor que o dinheiro pode comprar. O melhor que o trabalho quase escravo dos trabalhadores das minas do coronel pode comprar. O velhote foi enterrado com anéis , correntes e dentes de ouro. 24k. Pouca gente sabia. O velho morreu sufocado com um moeda que ele mesmo mandou forjar. Adorava ficar mordendo a moeda com a face dele. Pra provar que era ouro mesmo. Pouca gente sabia mesmo. Klaus sabia.

Por isso ele estava arrobando o mausoléu do coronel. Abriu a gaveta onde se encontrava o caixão. Aproveitou e arrancou também os puxadores de ouro. O lugar foi empesteado com um cheiro podre. O caixão ja mostrava algumas avarias. Klaus arrombou o caixão. Pra sua surpresa o defunto estava intacto. Como se estivesse morto a 15 minutos. Mas fedia. Podridão. Embalsamado? Pensou. O que importava? Queria mesmo o ouro! Retirou os anéis. A espada com punho em ouro e detalhes de esmeralda. Com um alicate arrancou os 6 dentes de ouro. Quase vomitou quando abriu a boca do defunto. Feriu o dedo em uma lasca da corrente de ouro. Palavrões. Terminou. Fechar o caixão? Pra que? Pistas? Preocupações? Tinha uma boa quantia em jóias, quem precisa de preocupações??

Quando Klaus chegou em casa finalmente, o relógio ja marcava 4:30 da madrugada. O ferimento doia terrivelmente. Um corte de aproximadamente 1 cm. Pequeno. Mas doloroso. Ainda sangrava. Lavou. Foi como se tivesse ateado fogo ao dedo. Foi dormir. Feliz.

4 horas depois acordou assustado. O velho tinha ido reclamar o ouro e estava sufocando-o com as mãos. Chegou a sentir os dedos magros e gelados em volta do pescoço. Levou a mão a garganta dolorida. Não devia ter feito isso. Dor. O dedo ferido. O corte de 1 cm. Como pode infeccionar a mão toda? Pus. Cheiro acre. Klaus não pode responder. Fumaça. Tabaco. Com certeza, mas tinha outro odor por baixo. Carne podre. Cheiro rançoso. Defunto.

E lá estava. Defunto. Sentado ao lado da mesa. Fumando. Cheiro de tabaco. Klaus não acreditou, até esqueceu da sua mão apodrecida.

- Vai devolver meu ouro moleque?

- ...

-Que foi? Perdeu a fala? O meu ouro apodreceu até sua lingua?

- Filho da puta... porco ganancioso! Mesmo depois de morto ainda quer dinheiro?!?

- Se fosse só eu né moleque?

- O ouro é meu ...

- Seu nada. Ta vendo sua mão?? Esse ouro é meu, é ouro amaldiçoado... apodreceu sua mão... no meu caso minha alma...

- Num adianta vir com histórinha porra!

- Ta bom...vou ter que tomar a força...

Quando percebeu, 4 escravos ja estavão segurando Klaus. O coronel caminhou lentamente. Klaus então viu. O velho tinha o peito aberto. Nele algo pulsava. Algo se movia. Duas coisas. Um coração podre. Repleto de musgo. E dentro da sua caixa toraxica, almas agoniadas imploravam, murmuravam. Incompreensivel. Incompreensivel mas logo entendido. Precisavam amaldiçoar outro ganacioso. Do peito putrefato do velho saiu mais um escravo. Saiu como uma sombra e tornou-se um homem. Klaus tentou gritar... mas vomitar o coração o impediu de dizer uma palavra sequer. Inexplicavelmente , Klaus continuou vivo. Ou algo perto disso. O suficiente pra ver o homem de combra entregar o orgão pro velho trocar o coração podre pelo seu novinho em folha....apenas 31 anos de uso!

- Bom acho que ganhei um novo companheiro. Seja bem vindo moleque. Desculpe pelo cheiro, mas porcos gananciosos como nós nos acostumamos facil né?

O corpo apodreceu em um piscar de olhos. Apenas um cheiro de podre restou.

Arashi
Enviado por Arashi em 27/02/2008
Código do texto: T878817
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