Zona Morta Santo André - Cap. 9 - "Eles arrombaram a porta..."

*BAM*

A porta escancarou-se. Eles entraram, as bestas que um dia já foram humanos.

-AHHHHHH !! SOCORRO !!!

-CORRE! CORREEE!!

-MÃÃÃEE!

-RENAN ! FECHA A PORTA !! FECHA A PORTA!!!

-ME ESPERAA !!

-VEM LOGO CAMILA !!

-AAAHHHHHHH!

Acordo num sobressalto e olho no relógio. 4:52. Saio correndo para a sala, meu pai e minha mãe já estão lá. A Bruna vem logo depois de mim.

Pai: - Eles tão com problemas.

Bruna: - Que aconteceu ? Que gritos são esses ?

Mãe: - Entraram lá...

Observamos pela janela da sala. Os doentes invadiram a casa da dona Teresa. A casa deles é quase igual à nossa. No 3º andar são os quartos e o que tem vista pra rua é o do casal. Eles estavam lá na varanda, gritando por socorro. As pessoas que moram nas casas ao lado também acordaram, vimos algumas luzes se acenderem. Eles precisavam de ajuda, mas quem iria sair na rua àquela hora, com todos aqueles doentes vagando por aí ? Alguém estava empurrando um armário na porta, mas pelo barulho, os doentes estavam esmurrando-a com toda a força. Renan, o filho mais velho, que empurrou o armário, pegou alguns lençóis e começou a conversar com os outros.

Bruna: - O que eles vão fazer ?

Vimos eles mexendo nos lençóis. O filho mais velho amarrou um na grade da varanda e jogou os outros pra baixo.

Eu: - Eles não vão fazer isso! Eles...

Pai: - Vão sim, mas tão demorando muito...

Realmente, parece que estavam com medo de descer. Ou provavelmente, pensando para onde correr depois.

Pai: - Querida, vem comigo.

Meu pai e minha mãe puxam o sofá da porta e saem correndo. Quando vejo, meu pai está abrindo o portão. Minha mãe grita:

- Teresa! Aqui !

Eles olham e conversam mais um pouco. Teresa desce primeiro e fica esperando para ajudar os filhos. Em seguida desce o filho mais novo, que já sai correndo em direção à nossa casa. Eu olho para uma das esquinas da rua, tem doentes vindo! A filha também desce e sai correndo. Os doentes estão chegando perto.

Eu: - Droga !

Bruna: - O quê ?

Eu: - Tem mais deles vindo!

Bruna:- Deles... quê? Onde você vai ?

Desço pra garagem. Todos já tinham chegado e meu pai estava fechando o portão.

Eu: - Pai! Tem mais deles !

Pai: - Mais doentes ?!

Eu: É !!

Pai: - Rápido! Todo mundo pra dentro!

Todos entram, meu pai apaga a luz e pede pra ficarmos quietos. Nas outras casas, as pessoas fizeram o mesmo, e as luzes se apagaram. Com cuidado, chego perto da janela e olho. Eles já estavam em frente ao nosso portão, e os que invadiram a casa da dona Teresa ainda batiam na porta. Eles sabiam que havia gente ali perto, mas como estávamos agachados, escondidos, não nos viram.

Mãe : Tudo bem com vocês? - se dirigindo aos filhos menores de dona Teresa, Camila e Vinícius.

- Uhum, tá. - Respondeu Camila, abraçada com o irmão menor, os dois em choque.

- A gente precisa fazer silêncio agora, eles tão bem aqui na frente... - Falou meu pai.

- Eles precisam de um lugar pra dormir... - Disse minha mãe.

- Não, Daniela, não precisa, a gente... - Interferiu dona Teresa, visivelmente embaraçada.

- Não, ela tem razão, vocês todos precisam descansar. - Respondeu meu pai. - Vamos arrumar uns colchões...

- Não, realmente não precisam se incomodar... - Tentou mais uma vez dona Teresa recusar.

- Teresa, escute, você não está pensando em voltar pra lá, não é ? - Falou minha mãe, apontando para a casa dela. D. Teresa balançou negativamente a cabeça e tentou contra-argumentar mais uma vez, mas foi cortada pela minha mãe: - Então, vocês precisam de um lugar pra dormir.

-Ah, certo, muito obrigada Dani. - Teresa disse, com os olhos lacrimejando.- Mas por favor, não se sintam incomodados...

- Não, magina. Vem, vamos lá em cima arrumar as coisas.

E foram, agachadas até a escada, e subiram. Meu pai disse para sairmos da sala, então fomos até a cozinha. E ele também subiu as escadas, e nos disse para esperarmos e não fazermos barulho. A Bruna começou a conversar com a Camila, as duas eram amigas, e ela começou a contar como haviam invadido a casa dela:

- Tipo, eu tava dormindo, aí eu acordei porque ouvi um barulho, aí eu desci pra ver o que era, e nisso eu acendi a luz da sala e fui pra cozinha, mas não era nada, só o Vini que tava bebendo água. Mas nisso a gente ouviu uma batida forte na porta, e fomos ver, né. Mas quando a gente chego na sala, eles entraram, arrombaram a porta. Aí eu gritei pro Vini correr pra cima, mas essa coisa inteligente voltou pra cozinha. Aí eu fui atrás dele né. Peguei, puxei ele pelo braço e fomos pra escada, mas nisso um daqueles... você sabe... pegou a minha perna, mas eu chutei a cara dele e subi. Eu tava indo pro meu quarto, ia me trancar lá, mas eu vi o Renan saindo do quarto dele e correndo pro da minha mãe, aí a gente correu pra lá também, mas eles já tinham chegado lá e bateram na porta também, aí o Renan empurrou a prateleira na porta e fez aquela corda de lençol...

- Nossa! Mas... como eles entraram, digo, passaram pelo portão ? - Eu perguntei

- Não tenho idéia, a gente não ouviu o portão abrindo, nem sendo arrombado. Só se ele já tava aberto... - Ela respondeu

- Bruna, a Camila vai dormir no seu quarto tá? - Disse meu pai, aparecendo na porta. - E o Vinícius no seu. - continuou, apontando para mim. - Vamos logo, já arrumamos tudo.

Ele voltou pela escada, e nós fomos atrás. Lá em cima, Bruna e Camila se dirigiram ao respectivo quarto. Eu e Vinícius também, mas não sem antes ouvir:

- Ele pode dormir no quarto do Lucas também...

- Não, não, já tem o Vinícius lá, pode deixar, nós dois dormimos na sala, sem problemas.

Entramos, ofereci a minha cama para o garotinho, que aceitou prontamente. Eu deitei num colchão velho, mas ainda confortável, que tinhámos em casa pra quando algum amigo meu ou da Bruna viesse passar a noite aqui. Eu também tinha um saco de dormir, que comprei uma vez por que estava em promoção, mas nunca usei. Dinheiro gasto a toa. Apaguei o abajur que ficava ao lado da cama e dormi.

[...]

Acordei e olhei no relógio, eram 8:15 da manhã. Olhei pra minha cama, o Vinícius ainda estava dormindo. Me levantei bocejando, desci as escadas e cheguei na cozinha. Lá, minha mãe estava no fogão, fazendo alguma coisa, dona Teresa e o filho Renan estavam na mesa, tomando café da manhã. Dei bom-dia à todos e fui pra geladeira pegar o leite. Fiz o meu copo de leite com achocolatado e fui me sentar também. Minha mãe trouxe à mesa um prato de rabanadas e comemos. Estava um silêncio que chegava até a ser contrangedor. Depois de terminar, fui para a sala, e lá estava meu pai vendo televisão:

- Algo de novo ? - perguntei.

- Não muito. Tão dando listas de abrigos... e mostrando como estão as coisas... ainda tem muita confusão...

- A gente vai pra algum abrigo ?

- Acho que não temos motivo por enquanto, disseram pra não sair de casa...

- E a comida ?

- Como assim ?

- Ué, uma hora a comida vai acabar, ainda mais agora que duplicou o número de pessoas aqui em casa. Como a gente vai fazer quando isso acontecer ?

- A gente dá um jeito...

Começamos a ouvir uma conversa animada na cozinha, as duas garotas já devem ter levantado.

[...]

The Kinslayer
Enviado por The Kinslayer em 06/04/2008
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