O Nada

“O nada”

Foda fácil, bunda certinha, empinada, pronta pra ser comida. O peito deveria ser silicone, mas ele estava se lixando. Chegou perto da morena ‘foda fácil’ e já agarrou sua cintura.

- Ai, que isso... Quem é você?

- O cara que ta a fim de você na minha cama hoje.

Ela riu, riu, riu... Riu como uma puta histérica ri quando sabe que vai faturar uma grana imensa, ou quando se é um travesti saindo com um jogador de futebol.

- Onde você mora?

- No céu, eu moro no céu... Ou no Inferno...

Ele deveria ter cheirado muito pó. Eu deveria ter cheirado muito pó. As vezes apenas vejo as situações acontecendo como se fosse um protagonista de meus atos, e os narro em terceira pessoa. Aquela Foda Fácil ia ser apenas um consolo para mais uma noite tediosa do Rio de Janeiro. Ele poderia ter qualquer bunda lá existente, mas quis o dessa morena... O nome dela já tinha esquecido... Só sabia que tinha um Y no meio do nome, e por isso preferiu esquecer.

- Sua casa é longe?

- Na estrada do Inferno.

E a putinha ria. Ria de que? Eu tava falando sério, ela não ia dormir essa noite. Ou talvez fosse dormir para sempre. O nome... Lembrei o nome... Kathyanne. Com cara de quem tinha apenas dezessete, mas se fazia de mulherzinha de vinte só pra poder entrar na boate como uma garota maior de idade. O segurança sabe que a carteira dela é falsa, todo mundo sabe, mas com um corpo daqueles, você prefere ignorar. E lá estava ele, eu, levando Kathyanne pro Inferno, ou céu. É tudo uma questão de ponto de vista. A bunda dela era grande, mas podia ser siliconada que nem o peito. Mas foda-se, era bonito de se olhar, assim como a estrada passando rápido pelo vidro do carro. O vento batia no rosto dela, e ela estava com um brilho vulgar nos olhos. Eu queria matar essa puta só porque ela existia e eu sabia que ela nunca seria só minha. A curva estava pra chegar. A grande curva. Não a curva do seu corpo, a curva da estrada mesmo. Era hora rapaz...

- O que você acha que vem além do universo?

- O que? – perguntou a vadia

- Alem do universo, tem o que?

- Infinito?

- Levando em consideração que o infinito é nada, o que é o nada?

- O nada é o nada ué, que papo de doido. – me espantei com sua capacidade de pensar.

- Como você define o nada? Tem uma curva chegando, o carro vai derrapar e a gente vai morrer, como você acha que é o nada?

- Que?!

- Como você acha que é o nada?

- Não! Eu to perguntando da curva? SEU MALUCO!

- Eu sempre quis descobrir.

E por uma fração de segundos, a curva chegou, levando meu carro para um imenso buraco negro. A morena sangrava como nunca havia sangrado antes, seu cilicone deveria estar em seu ânus, eu supus, e eu saí ileso. Adoro o Air- Bairg.

Ela agora talvez saiba, o que é o nada.