Bela Flôr

(Para a jovem escritora Indianara Milani Alf)

Trancada em meu quarto, fico vasculhando meu passado. Relembro as travessuras da infância e as desilusões próprias da adolescência. Nem mesmo o dia do meu casamento foi bom...Não gosto de falar dessas coisas mas sinto necessidade de desabafar...então...Meu casamento...

enviei os convites...organizei a festa...meses de preparação. O dia esperado chegando. E chegou mesmo! Banho de espuma-relaxante-perfumado, maquiagem suave e outras delicadezas mais. Distração: banheira já cheia, continuando a encher e o gás da cozinha vazando...

Compenetrada fui vestindo a "farda" para a grande batalha da minha vida. A vizinha ofereceu ajuda(mais por curiosidade que por solidariedade)que foi aceita sem rodeios. Finalmente pronta! Atrasada, claro! como noiva que se preza. Na pressa o lenço foi esquecido num canto qualquer: não enxugaria nenhuma lágrima curiosa.

Caminho da igreja, uma rápida parada no cemitério(morada oficial e atual de meus antepassados), pedi en oração para que as boas almas me acompanhassem ao Altar e me dessem forças...aparentemente não obtive resposta favorável pois um silêncio total pairava em meu ar...estariam eles desapontados com minha decisão de NÃO unir-me a eles e SIM criar raízes e perpetuar minha especie trazendo à luz uma extensa prole?

Mesmo sem o consentimento deles fui em frente: Decidi casar!, ser feliz(pelo menos tentar) e ser (mais) humana.

O trajeto parecia longo.;..muito distante mesmo...na verdade eram apenas alguns quarteirões ... mas a impaciência...

Na igreja todos esperavam a chegada triunfante da noiva-pensei-porém não era bem essa a realidade. Eu não sabia ao certo se realmente queria entrar...pedi ao motorista que esperasse alguns minutos enquanto arrumava minhas ideias...pensei...repensei...muito.

Decidi encarar meu destino. Desci do carro, olhei para o céu que ia se modificando lentamente como a acompanhar meus passos vagarosos.

O esplêndido Sol apagou seu brilho e o azul do céu tomou tons plúmbeos. Galguei os degraus, um por um, antevendo o êxtase(ou decepção) e, finalmente adentrei na igreja. Nesse instante desatou uma tempestade memorável...o vento varria toda classe de imundicie do chão e fazia árvores gigantescas beijar o solo...repentinamente as almas escondidas deram o ar de sua graça infestando o ar da igreja.

Ninguém entendia nada...a não ser eu...

Durante a cerimônia, nada de tão insólito oocorreu como o que viria acontecer quando visivelmente emocionada eu pronunciei o ansiado "SIM": Nesse exato momento o chão se abriu...uma espessa fumaça branca cegou minha já embaçada vista...todos desapareceram durante alguns instantes...a fumaça se dissipando pouco a pouco, até desaparecer por completo, descortinando-se assim um belíssimo dia...ensolarado...o mesmo de antes da descabida cerimônia. As pessoas sumiram, a igreja vazia, eu sozinha vestida de noiva, vestido encarnado...encarnado?...sim, manchado de sangue...meu sangue...alguma maldição caíra sobre mim?

A meu lado meu noivo-marido(?)sorria para mim...para mim ou de mim?!

Chorei...pensei que chorava mas lágrimas não havia, cerimônia não havia nem mesmo vestido encarnado ou encharcado de sangue, havia.

Sozinha...sou um robô?...estarei viva?...estarei tomada de parvoisidade?...que chocarrice é esta?Meu vestido de noiva, ninguem viu...não havia ninguem na igreja, não houve casamento pois...

eu já não pertenço ao mundo dos vivos...

Sou a ROSA mais bela do cemitério.

(IMA IMA IMA IMA IMA IMA IMA IMA IMA IMA IMA IMA IMA IMA IMA)

Pedro Gonzalez
Enviado por Pedro Gonzalez em 23/08/2008
Reeditado em 23/08/2008
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