A flauta

Havia uma cidade no sul do Brasil chamada Anta Grande, de pouco mais de cinco mil habitantes, em que sua população mantinha um jeito pacato de se viver. Não havia favelas, nem latifundiários. Festas, só de casamentos ou do padroeiro. A maioria era de agricultores, que lidava no campo durante o dia, e queriam, durante a noite, o sossego de seu lar. Lares, que raramente se desfaziam. Uma sociedade ainda não muito contaminada com os tempos modernos. Exceto por um detalhe, eles estavam envelhecendo. A média de idade dos moradores, a cada ano, ficava, assustadoramente, mais alta. Cabelos grisalhos, eram a moda do local. Os mais jovens, paulatinamente, saíram em busca de novas oportunidades em grandes centros e não mais voltaram. A conseqüência disso é que: o que restou na comunidade estava acima dos cinqüenta, ou abaixo dos 15 anos de idade. E é neste cenário que se passa nossa história.

Mas, antes, gostaria de falar sobre o Tico. Não sei seu verdadeiro nome, mas, isso não importa, ele gostava de ser chamado assim. Era um rapaz franzino, que se vestia mal, gaguejava ao falar, pouco tinha freqüentado a escola. Morava numa casa humilde e com uma família bem humilde, num bairro pobre de uma grande metrópole do sudeste. Muito longe de Anta Grande. Trabalhava de carregador num atacadão de frutas e verduras. Feliz, ele era, porém, poderia ser mais se tivesse irmãos, sentia falta de companhia. Era tão silenciosa sua casa, que nem parecia morar alguém lá. Tico tinha um dom, era músico inato, e tocava qualquer instrumento de sopro com facilidade, e sem conhecer música, – acho que nem sabia que existiam pautas e partituras para estudar. A singeleza de sua vida não o permitia possuir um bom instrumento, aliás, o único, seu mesmo, era uma gaitinha de boca, herdada de seu tio Zé, desaparecido.

Certo dia, Tico recebeu uma gorjeta gorda de um caminhoneiro por ter trabalhado para ele extraordinariamente, carregando seu caminhão de madrugada. Era o dinheiro que precisava para resolver alguns problemas financeiros de sua casa, afinal, seu pai havia ficado alguns dias sem trabalhar por motivo de saúde, e mesmo já tendo voltado à ativa, não tinha recebido salário, ainda. Apesar de sua bondade e responsabilidade, sentiu um impulso muito grande de visitar aquela loja de antiguidades que vira no centro da cidade, na verdade, o fez sem se dar conta disso. De repente, estava lá dentro olhando tudo.

– Deseja algo rapaz? Perguntou o vendedor desconfiado, pelo aspecto mendiguesco do infeliz, é claro.

– Desejo, mas não sei o que é. Respondeu em voz bem baixa e insegura.

– Temos de tudo por aqui. Desde móveis do século passado, até os relógios mais antigos, mas são muito caros, – alertou. – Algumas dessas preciosidades pertenceram a condes e barões. Esta cômoda de jacarandá, por exemplo, foi de uma marquesa do Rio de Janeiro, raríssima, não é pro seu bico, – insistia em desfazer do rapaz.

– Olha moço. Pra falar a verdade não sei por que vim parar aqui. Sempre tive uma atração por este lugar, desde que era criança. Está vendo este dinheiro? Ganhei hoje de um homem de bom coração, que ajudei a carregar o caminhão dele. E quando dei por mim já estava aqui.

– Deixe-me ver quanto... É pouco.

– O que dá pra comprar com isso?

O vendedor se interessou, porque não era tão pouco dinheiro assim, afinal, grana é grana, não importa de onde venha, ganharia sua comissão vendendo para o pobre, qualquer daquelas velharias, e sugerisse:

– Vamos ver nas etiquetas os preços das coisas.

O vivaldino mostrou um monte de quinquilharias por preços exorbitantes, nada o interessava. Até que, subitamente, caiu de uma prateleira um objeto que chamou a atenção de Tico. Rapidamente foi até lá e o apanhou. Neste, não havia etiqueta alguma. Era uma flauta entalhada em madeira, lindíssima e empoeirada, sem inscrição nenhuma, e muito menos, qualquer indicação da época de sua fabricação.

– Isto é uma flauta? Perguntou Tico, ingenuamente admirado.

– Mas é claro meu jovem.

– Qual o preço?

O vendedor afastou-se com o instrumento nas mãos, indo a um senhor de grossos bigodes, que ficava num canto meio escuro da loja, quem parecia ser um tipo de gerente. Conversaram por uns momentos palavras ininteligíveis, pelo menos para o Tico. Assim que voltou, respondeu:

– É exatamente a quantia que tens, meu jovem.

– Você não me daria um desconto, daria? – Pechinchou.

– Como o pagamento é à vista, te dou 15%, está bom?

Experimentou a flauta, sentindo a brandura do som, coisa não muito comum numa flauta doce e velha. Só então, disse:

– Ainda está caro, mas tudo bem.

Pagou e saiu.

Despercebidamente, caminhou até uma estação rodoviária, e de lá ligou para seus pais, ou melhor, para um vizinho que tinha telefone, dizendo que estava partindo e não sabia quando voltaria. Nenhuma insistência para ficar o convenceria naquele momento, e olha que sua mãe tentou. Alguma força o colocava naquele ônibus para percorrer uma distância jamais imaginada por ele. Um garoto, de dezoito anos, com pouco conhecimento geográfico e de mundo, que nunca havia se afastado de seu habitat, acabava de iniciar uma viagem, não se sabia para onde, contudo, fazia sem resistir. Era um bom garoto esse.

Anta Grande era pacata e tristemente silenciosa. Há alguns anos atrás, certos grupos de moradores começaram a se incomodar com a algazarra das crianças, comportamento comum para quem tem energia sobrando, mas a falta de maturidade dessas pessoas fez desencadear um movimento que proibia qualquer manifestação excessiva e barulhenta de qualquer criança que fosse, nas ruas e nas praças. A partir de então, as ruas silenciaram e não houve mais problemas no trânsito por causa das bicicletas, patinetes e skates se enfiando na frente dos carros. Quando elas saíssem de casa para a escola, para a igreja ou para outro lugar qualquer, teriam que se comprometer em não gritar, e falar só o extremamente necessário e, ainda por cima, somente acompanhado pelos pais ou responsáveis. Caso contrário, seriam punidas. Como a maioria (os mais velhos) aceitou as normas, foram cumpridas rigorosamente.

Alguém já tentou segurar água com as mãos? Por algum tempo se consegue, mas de repente ela some, é a força da natureza. A água não pode ficar represada entre os dedos pra sempre, uma hora ela vai sair, e não tem como evitar. Como as crianças não podiam se manifestar fora, elas se rebelaram dentro dos ambientes onde estavam, não porque queriam, mas como no exemplo da água, a força da natureza os impelia.

A indisciplina nas escolas se tornou uma coisa insuportável. Professores estavam enlouquecendo. Nas creches, a gritaria triplicou. Em casa, os pais e avós ficaram alucinados com o estardalhaço. Até o padre, que era pároco há quase cinqüenta anos ali, proibiu de trazer crianças às missas. O pastor também seguiu o exemplo. Cada família deveria levar a palavra de Deus para cada filho seu, em casa. Mas, nas ruas, e todo lugar, deveria prevalecer o silêncio. O barril de pólvora estava prestes a explodir. Foi então, que um senhor chamado Petrônio Conti, respeitado por ser criterioso em suas ações e peixe grande da cidade, com o consentimento do poder municipal, convocou a população a uma reunião em caráter de urgência. É claro que era proibida a entrada de menores.

– Senhoras e senhores antagrandenses, estamos aqui para deliberar sobre os últimos acontecimentos ocorridos em nossa cidade. É do conhecimento de todos, que vivemos tempos difíceis com nossos filhos e netos, e por que não dizer, bisnetos e tataranetos. Vou direto ao assunto. Que atitude devemos tomar para conter essa situação causada pelas crianças? Como evitar serem tão barulhentas? O que fazer para Anta Grande voltar a viver em paz? Quem teria uma sugestão para cada uma dessas perguntas? A palavra está livre.

O silêncio que eles tanto prezavam se concretizou naquele momento.

Foi então, que uma senhora, de jeito bem encruada e mirrada, aproximou-se, lentamente do microfone e sugeriu em tom exaltado de voz:

– VAMOS AMORDAÇAR ESSAS PESTES.

Isso causou uma agitação imediata, até que um senhor, no fundo do recinto, levantou-se e concordou em gênero, número e grau. Agora os ânimos tinham ficado realmente exaltados. Uns, não achavam justo, outros, pensavam ser cruel demais, alguns aplaudiam, demonstrando aceitar qualquer veredicto, passivamente. De repente, um levantou-se em meio àquela confusão, e em alta voz disse:

– Eu queria que essas pestes sumissem daqui para que pudéssemos viver em paz.

Com apenas um segundo de reflexão, todos começaram a aplaudir em favor do pedido de seu João. Estavam decididos. E quando a confusão parecia interminável, ouviu-se um martelinho percutir sobre a mesa em que se encontrava o senhor Petrônio. Foram apenas duas ou três batidas, porém, eficientes. Todos se aquietaram. O que será que tinha a dizer?

– Já decidi.

O silêncio tornou-se tumular novamente.

– Observando o que esses infames são capazes de provocar em nós, decreto, com a aprovação de vocês, que nenhuma criança poderá sair de casa, ficando confinados em seus quartos até a maioridade, ou até terem criado uma consciência adulta, se isso ficar comprovado com toda certeza.

Comemoraram a decisão silenciosamente. E assim estava decretada a sentença pelo crime de, simplesmente, ser criança, em Anta Grande. Então, iniciava-se uma era de tranqüilidade na cidade dominada por uma mentalidade, absurdamente, retrógrada. E, apesar da atrocidade do ato, sentiam-se muito felizes.

A cada dia que passava, a pequena cidade, ficava mais linda e mais limpa, e como era começo de primavera, o arvoredo da praça central cintilava em vários tons de verde, contrastando com os jardins que rodeavam todas as calçadas, e esse ar bucólico e esplendoroso, despertava a curiosidade de quem por lá passava todos os dias, de carro ou ônibus. Contudo, ninguém sentia vontade de saltar para conhecer melhor o lugar. Isso causava aos antagrandenses uma certa indignação. Por que, mesmo com uma cidade tão linda, ninguém se sentia atraído por ela? A estação rodoviária tornara-se o local menos freqüentado do lugarejo. Não havia embarque, nem desembarque. As companhias de ônibus cerraram suas portas por falta de passageiros. Esta situação foi se instalando aos poucos, nem todos percebiam, tinham pouca visão das coisas.

Gradativamente, foram ficando isolados do mundo. Porém, um rapaz, de aparência simples, desceu de um ônibus, num final de tarde, quando o sol começava a se esconder no horizonte, causando um efeito colorido, em tons azuis, alaranjados e avermelhados, caminhou em direção à praça. Era espantoso para a população ver aquele moço andando por ali, sozinho, depois de tanto tempo sem terem contato com alguém daquela idade.

Todos o olhavam desconfiados, sem se aproximar. Houve até quem comentasse ser um fugitivo de alguma penitenciária. Idéia logo descartada, pois se mostrava muito pacato. De repente, tirou de uma sacolinha um objeto, cujo não puderam reconhecer de pronto por causa da distância que mantinham dele. E tentavam adivinhar:

– Parece uma arma.

– Não. É uma marmita.

– Claro que não. Acho que é uma maleta.

Era um estojo, na verdade, encapado de couro preto, com detalhes em dourado, que brilhavam, conforme manuseava. Subitamente, o abriu. Quem o observava, pulou de susto. Viram, então, tirar algo de dentro dela, com delicadeza incomparável. Esfregou uma flanela, limpando-a. colocou-a na boca, e começou a soprar.

– Que som é esse? É uma flauta?

– É uma flauta sim! Escutem que música mais linda!

Não demoraram a criar coragem e o rodearam, encantados pela canção. Como começou, parou de tocar. Inevitavelmente a tempestade de perguntas caiu sobre o misterioso músico: “Qual o seu nome?” “De onde veio?” “Onde aprendeu tocar assim?” “O que veio fazer aqui?” “Tem parentes aqui?” “Quer comer algo?” “Tem onde ficar?”...

Com um olhar vazio, respondeu:

– Não se preocupem, eu me viro.

E saiu com sua sacolinha à tira-colo, tocando sua flauta até desaparecer na escuridão da noite que se fazia criança ainda.

Em cidades pequenas, as notícias se espalham como fogo em palheiro. O simples fato de ter aparecido alguém estranho, foi motivo para tirar o sono do muita gente, imagine sendo um jovem totalmente desconhecido! O que teria vindo fazer aquele indivíduo por aquelas paragens? Contudo, não parecia um perigo iminente, mas, por via das dúvidas, naquela noite, reforçaram as trancas das portas e janelas. E nada mais adequado ao lugar do que o velho ditado: “O seguro morreu de velho”. Mas, a noite os embalou, como sempre fazia, silenciosamente.

Já era madrugada, e a lua nova brilhava tímida num cantinho do céu, quando ao longe, o som de um instrumento ecoava solitário. E pouco a pouco, as lindas canções podiam ser ouvidas mais e mais de perto. E alguns começaram a acordar, curiosos, sentindo vontade de ver o que era, porém, ninguém ousou abrir a janela. Seus sentimentos eram uma mistura de encantamento, medo e pena do pobre rapaz solitário. Ele tocou até quase o sol nascer e, subitamente, parou.

Uns lamentaram e outros, sentiram alívio. Mal sabiam eles o que os aguardava...

Naquela manhã, os galos não precisaram cantar, nem os despertadores soarem, muito menos foi preciso o badalar do sino da igreja matriz para despertar aquele povo, porque os gritos de desespero das mães, avós e familiares, foram suficientes para deixar toda a cidade em polvorosa. Imediatamente a polícia foi acionada. Os homens logo se reuniram e formaram grupos de busca. Não sobrara uma criança em um só canto da cidade. Agora, as belas músicas ouvidas naquela noite, foram substituídas por choros.

Durante todo o dia não cessaram as buscas. Com tanta gente procurando, não restou, até o escurecer, mais nenhum lugar para se vasculhar, isso contando com toda a área rural. Teorias e mais teorias se fizeram para explicar o sumiço, mas continuavam sem entender. Seqüestro não podia ser, quem levaria tantas crianças ao mesmo tempo, e nas portas, não haviam sinais de terem sido forçadas. Pensou-se até numa fuga em massa, mas fazia tempo que as crianças não se comunicavam. Tudo, realmente era uma incógnita. Não tendo mais o que fazer durante o período, a igreja lotou para uma vigília. Orações misturadas à lágrimas, não foram suficientes para reaver as crianças, mesmo vigiando a noite inteira e implorando.

O dia seguinte foi como o anterior, cheio de incógnitas, e sem nenhuma resposta. No entanto, na manhã do terceiro dia, quando o chefe de polícia, juntamente às autoridades da cidade, resolveram pedir ajuda de fora. Foi quando, ao longe, ouviram um som de flauta se aproximando lentamente. Engraçado, que o som era baixo, mas todos ouviam. Era o estranho rapaz músico, do qual haviam esquecido. Sentou-se no mesmo banco de quando chegara à cidade, e, enquanto tocava, uma multidão o cercou. E ele, brandamente, foi parando de tocar. Todos foram se aquietando. Levantou a cabeça e olhou nos olhos de cada um, com um meigo sorriso, e lhes perguntou:

– Vocês estão felizes agora? Espero que sim, pois, vim aqui trazer a felicidade a vocês.

Imediatamente, todos acordaram do transe, e como num insight, perceberam que aquele rapaz era o responsável pelos desaparecimentos. Quiseram linchá-lo. Contudo, os mais experientes perceberam que só conseguiriam seus filhos de volta se o mantivessem vivo. Então, o levaram para a delegacia a fim de interrogá-lo. Surpreso com a decisão, lhes perguntou:

– Posso saber porque me tratam assim?

Um, mais exaltado, foi lhe dando logo um bofetão, que só não o acertou porque ele era velho e lento demais para aquele jovem, que desviou a tempo.

O chefe de polícia perguntou-lhe, irritadíssimo:

– Onde estão as crianças da cidade? Você é algum mensageiro do bando que veio pedir resgate? Vamos rapaz. Responda logo.

– Não. Eu só vim porque vocês quiseram.

– E o que queríamos? – retrucou, extasiado, alguém que estava ao lado.

– Como vocês têm memória fraca. O que vocês pedem à noite, já esquecem de manhã. Isso é coisa de velho gagá.

– Mais respeito, seu pirralho. Ou eu te quebro os dentes.

Eles estavam realmente irritados com o ceticismo do estranho moço, e nada podiam fazer contra ele, pois sabiam que era a única ligação entre eles e as crianças. Apesar do rapaz ter uma aparência tão terna, poderia ser um seqüestrador cruel, – na maioria das vezes, o mal vem disfarçado de belo. Teriam que contornar a situação com astúcia. Então, se reuniram num canto da sala e deixaram-no com sua flauta de madeira entalhada nas mãos. Ao voltarem lhe propuseram:

– Quanto você ou eles querem para libertar as crianças?

– O que me dão?

– Eu não falei que era um marginal perigoso?! – seu Petrônio esbravejou lá do fundo.

– Elas só voltarão, dependendo do que derem, – insistiu.

– Quanto? Quanto? Fale pelo amor de Deus! – gritaram uníssonos, desesperados.

– Quanto não! O quê.

– O quê?! O que você quer dizer com isto? – surpreso, replicou o chefe de polícia.

– Amor.

Um silêncio tumular envolveu os ouvintes. O moço continuou:

– Elas só voltarão, se derem amor, e tocou uma música suave com sua flauta.

Um olhou para o outro, refletindo sobre suas últimas atitudes com suas crianças.

– Você é um bruxo ou um anjo? Como sabe das nossas particularidades?

– Não sou nada. Aliás, nem sei porque estou aqui. Só sei que tenho uma missão a cumprir. Agora respondam para si mesmos: Vocês querem mesmo suas crianças de volta para amá-las e respeitá-las como elas são?

Silêncio se fez no recinto, novamente, enquanto algo lhes tocava profundamente os corações. Não precisaria ser sábio para saber o que pensavam e sentiam. Dor e arrependimento saltavam em seus olhos. Os senhores durões começaram a ceder. Assim que se evidenciou o remorso, o flautista propôs:

– Reúnam todos na praça, pois já sei o que farei com vocês.

Em menos de meia hora, todos estavam lá para ouvi-lo. É obvio, que quem não presenciou a conversa, o escarnava. Porém, nada disse, nem respondeu, só pegou sua flauta e pôs-se a tocá-la. Todos se lembraram da história do menino flautista que livrava a cidade dos ratos com sua flauta encantada, e esperavam ansiosos a volta triunfante das crianças para a cidade. Não foi isso que aconteceu.

Ao ouvirem as canções que a todos encantava, seus corações começaram a inquietar-se. Não conseguiam mais ficar parados no mesmo lugar, esperando. Cada qual rumou em direção às suas casas, e a medida que chegavam, abriam as portas dos porões e sótãos, mostrando a luz do dia a suas amadas crianças. E elas saíam alegres, sorridentes e brincalhonas, como a infância deve ser.

Muitas vezes impedimos a liberdade de outros em função do nosso egoísmo. A convivência deve ser pacífica entre pessoas de qualquer idade, apesar das diferenças de comportamento. E na cidade ninguém mais tocou no assunto desde então. Em ferida fechada não se mexe.

E o Tico?

Desapareceu sem que ninguém percebesse, e voltou ao convívio de sua família.

Wilian Aparecido da Cruz
Enviado por Wilian Aparecido da Cruz em 14/03/2006
Código do texto: T122871