O vento nordeste era fraco e a  tarde de outono tinha um ar nostálgico para se voar.
O velho piloto abriu sozinho o angar, impecavelmente limpo, dirigiu-se aos cabides e pegou o capacete e as luvas, as mesmas usadas quando o velho bombardeiro Ju 87 Stuka, alemão, combatia a RAF e seus Spitfires e Hurricanes.
Mas a guerra era uma lembrança que ja fazia 40 anos, e essas velhas máquinas ja não levavam mais bombas, mas
apenas a história de heroismo dos dois lados.
Manobrou na pista e voou, em direção sul para uns dias de férias no oceano índico, em Papua.
As baixas nuvens logo ofuscaram a sua vista, mas os bem conservados aparelhos de navegação o conduziriam na viagem.
Com a noite veio o céu claro e o frio natural das altitudes.
O ronco do Stuka indicava que estava tudo em ordem, mas a oeste, nuvens negras eram um surdo prenúncio...
O  piloto divisou algo que brilhava sob os clarões dos relampagos a oeste.
Seria um avião? Aproximou-se, mas perdeu o objeto da visão.
Agora encontrava-se sob a enorme nuvem ameaçadora e a chuva ja era visível.
O forte vento desestabilizava a aeronave e volta e meia corrigia o trajeto.
O contato com qualquer aeroporto era impossivel, deveria estar viajando sobre o mar, calculou.
Altura estável, velocidade regular, tudo em ordem.
O ronco ininterrupto do avião lhe dera um leve sono, mas somente na madrugada teria um lugar para pousar.
Viajava dentro da escuridão e volta e meia um relampago lhe reanimava da sonolencia.
Num desses relances de luz, o mesmo objeto que viu brilhar anteriormente,  surgiu na escuridão a 20 metros da sua asa esquerda.
Guinou a esquerda para aproximar-se...nada, desapareceu.
Os relampagos intensificaram-se e o gelo formou-se nos vidros do avião...
Gelo? Indagou-se o piloto. Estava ao sul do equador em áreas tropicais e a altitude em que viajava não era possivel, estremeceu.
Um solavanco, e o motor do Stuka rateou, mas restabeleceu a regularidade em seguida.
O gelo em nada atrapalhava a sua navegação, era ralo e inconstante.
Uma luz entre as nuvens o alertaram...Eram 2 horas da madrugada e pela experiencia so veria a luz do dia as 6 da manhã.
Um forte raio fez a aeronave mergulhar no vazio e estabilizado novamente, um arrepio lhe percorreu a espinha, a luz tornava-se cada vez mais forte, estava amanhecendo o dia...
Improvável, inacreditável, os ponteiros congelaram em duas horas da madrugada.
Quando saiu das espessas nuvens, o branco interminável no solo, era como se ja não estivesse mais na terra.
Há 500 metros de altura o ar ja era rarefeito, e o brilho sobre as montanhas...
O mesmo que o acompanhou desde a sua saida.
O seguiria de longe agora.
Nas poucas vezes que pode se aproximar do objeto teve certeza, era mesmo um Zero , caça japones da 2ª guerra.
Mas porque? A guerra ja havia acabado a muitos anos porque o seguia, e mais, não eram inimigos,
os japoneses eram aliados dos alemães na guerra.
Olhava fixamente o zero, quando um vulto surgiu atraz de sua asa direita...mais um agora.
Mas...eram dois Hurricanes, meu Deus onde estava, murmurou em desespero.
Iriam abatê-lo sem piedade...concluiu. Se quisessem ja o teriam feito.
Mas não era isso que queriam....Alinhou aos dois.
Os distintivos da RAF nas asas estavam nítidos, eram aviões novos....Novamente um arrepio lhe desceu na espinha, mas como?
Estava agora no meio dos dois hurricanes, sendo escoltado por eles.
Contra o sol da manhã sentiu os primeiros impactos da esquadrilha japonesa,
em frente deles...Meu Deus estava de volta ao inferno, como isso era possível?
Voltara no tempo ao entrar naquele maldito avião. Neste momento viu um hurricane megulhar no vazio com a cauda em chamas,
e o outro afastar-se também em queda. Cessou o bombardeio, incompreensível, surreal, murmurou.
Não o derrubaram.
O ar ja estava agora mais ameno e o mar era agora o seu chão.
Dois zeros japoneses aproximaram-se e como os hurricanes começaram a escoltá-lo.
A temperatura aumentava e sabia que estava voltando ao equador, às regiões tropicais.
As nuvens tropicais negras e nervosas estavam esperando os tres aviões...
Ao sul via-se um enorme ciclone, teriam que desviar...
Os motores rateavam, olhou ao lado e os dois zeros haviam desaparecidos...
Os motores pararam, Meu Deus era o fim... pensou.
Entrou neste turbilhão negro e ameaçador, quando acordou, o seu pequeno Stuka, planava sobre as águas do índico, com Papua sob seu olhar, pousou na ilha.
Olhou tudo em volta, e o brilho no final da pista o chamou a atenção...
A um dos guardas do aeroporto perguntou...
Que brilhos eram aqueles, pareciam familiares.
Senhor...Disse o guarda, trata-se de dois aviões japoneses zeros da segunda guerra, derrubados por aviões ingleses, somente sucata, concluiu.
A brisa suave do índico, tinha muitos mistérios ainda a decifrar.

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 27/03/2009
Reeditado em 28/07/2010
Código do texto: T1509334
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