Crônicas de Vicky

I

O som abafado do banheiro da boate me irritava. Não era a primeira vez que cometia o mesmo erro em ir para uma boate em Copacabana, onde só se ouve lixo. Sinto falta do bom e velho Rock 'n Roll, aquele que já vem embrulhado num pacote negro escrito "Live fast, die young" em letras garrafais vermelhas, junto com um cartão que está escrito em minúsculas letras: "Faça bom proveito".

Não que precise de cartão, ou de embrulho chamativo. Mas é disso que sinto falta. Ou talvez esteja apenas falando asneiras... Visto que, estou procurando alguém nesta merda que tenha um cigarro de verdade. É impossível não ter mais uma pessoa fumando Marlboro vermelho nesta espelunca. Estou maneirando meu vocabulário. Maneirar, maneirar... Mas que se foda... Eu preciso de um cigarro decente. Estou num ponto tão deplorável que neguei até farinha!

II

Caminho pelos cantos da boate e encontro uma garota que conheço de vista pagando prum cara. Meus pensamentos não conseguiam se desviar de “Eu sabia que ela tinha cara de boqueteira!”, minha amiga morreria de tanto rir com tal informação. Mas parecia que hoje a noite era para as putas. Todas essas vadiazinhas que ouvem esse lixo eletrônico, e ficam dançando uma dança de mãos, fazendo uma espécie de círculo, e os caras aproveitam. Claro que as vadiazinhas estão chapadas de bala, assim dão pra qualquer um. Neste tipo de lugar é muito fácil ser cool. É só se fingir de idiota, tomar bala, e dar gritinhos dizendo que conhece todas as músicas, mesmo percebendo que todas as músicas tem exatamente a mesma batida. Que seja...

III

Desistindo da minha busca desenfreada a porra do cigarro Marlboro vermelho, de preferência Box, avisto meu salvador. Corri em direção a ele, mas meu salto não ajudava e tive de me segurar no corrimão que havia nas pontas da enorme pista de dança. “Sapato escroto!”. Eu ia conseguir, “eu vou conseguir”, dizia a mim mesma enquanto escorregava levemente. Ao chegar no canto onde o meu salvador se encontrara, estavam as portas do banheiro.

De volta ao inicio.

IV

O som abafado do banheiro da boate me irritava e continua me irritando. Nunca mais venho para esta merda de boate ouvir esse lixo. Sinto falta do bom e velho Rock 'n Roll... Mas para a minha surpresa era hora dos hits antigos.

Começou a tocar Joy Division, e eu cantava “Love will tear us apart” de olhos fechados, reparando como a letra dessa música é irônica, eu começava finalmente a relaxar.

O meu salvador está sentado ao meu lado, ele também canta, mas procurando o Box de Marlboro nos seus bolsos. Ele faz meu tipo. E eu faço o tipo dele. Sinto que nós nos veríamos no café da manhã, mas enquanto isso, eu mexia as pernas ansiosas, precisava de um cigarro. Um marlboro.

- Putz, só tenho mais um.

V

Meu ânimo foi para os ares... Tirei a merda do sapato que estava me incomodando, levantei da porra da escada do banheiro, liguei o foda-se pra maneirar no meu vocabulário e me dirigi à saída. “Lugar de Merda”, saí gritando tais palavras como se fosse um rosnado.

Todas as bancas de jornal estavam fechadas, e eu carregava meus sapatos com as mãos, e minha mini bolsa na outra. Ouço passos que correm atrás de mim, e é meu ex salvador, que abandonou sua parceira tão fiel a cada momento no ultimo segundo.

- Vem, divide esse cigarro comigo.

É, eu sabia que iria vê-lo no café da manhã.

Anastásia Ottoni
Enviado por Anastásia Ottoni em 31/03/2009
Reeditado em 31/03/2009
Código do texto: T1516342
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