“Em busca da Rosa-Cruz”

- Conto Iniciático -

“Em busca da Rosa-Cruz”

O Cavaleiro adentrou no palácio de forma abrupta, sobressaltado e arquejante, os olhos estatelados nas órbitas, e uma expressão de desespero, como se mil demônios o houvessem possuído. Fitou de repente os presentes, que também olhavam-no surpresos.

Súbito caiu de joelhos, sua respiração arfante. Em sua destra uma rosa rubra de pétalas cintilantes. Um olhar de esperança no belo botão fê-lo sorrir por um instante. Antes que soltasse uma lufada de sangue.

__ S-sal-vem-na.. __ balbuciou. Entregando a rosa para uma mulher que correu a acudi-lo. Os guardas vieram prontamente e o carregaram antes que perdesse os sentidos, ainda pôde lançar um olhar de soslaio para o centro do salão, onde havia um enorme altar e sobre ele uma linda jovem deitada. Trajando vestido da realeza. Estava como se estivesse morta... Talvez estivesse, talvez não... A princesa, única filha do rei e herdeira por direito ao trono, fora vítima da inveja de sua madrasta e de seu proscrito filho, e por estes envenenada. Reza a lenda que somente uma Rosa que tivesse “brotado de uma Cruz de Ouro” poderia trazê-la de volta!

Deitada sobre o altar, sua tez pálida, porém não menos bela do que antes, já não trazia, contudo, o brilho radiante da vida! Por meses e meses a fio estivera naquele estado. Nem viva e nem morta, mas vivendo em ambos os mundos, um limbo, um purgatório segundo a definição Cristã. A angústia e a desolação tomaram conta daquele reino. E o Rei já não tinha mais vontade de viver, conseqüentemente todo o reino sucumbia. Até que o bravo cavaleiro, acompanhado por um séqüito de onze nobres guerreiros, partiu em busca da Rosa Mística. O Amor que sentia pela jovem e bela princesa animou-o desde o inicio a embrenhar-se nesta perigosa e desesperada empreitada. Sua busca cheia de perigos e armadilhas confirmava a cada passo da missão o que diziam os pobres camponeses e os Oráculos que encontrava pelo caminho: “Que aquele que partia em busca da Rosa Mística jamais retornara para contar que a encontrara..”

Tal como uma maldição o vaticínio fatal se cumpria, e a aventura outrora empolgante tornava-se funesta. E aos poucos um a um os nobres guerreiros sucumbiram ante o gélido flagelo da Morte. E só o nobre Cavaleiro permaneceu de pé, como se fosse o escolhido, o messias que traria a jovem princesa de volta a vida, a alegria novamente ao coração de um pai e a prosperidade de volta a um reino, tornando-se então consorte da bela jovem e príncipe daquele reino..

As memórias se sucediam umas as outras rapidamente, enquanto os soldados carregavam-no para fora do grande salão.

__ Esperem ... __ bradou ele num esforço de vontade, já quase sem forças, quase sucumbindo.. __ Eu preciso ver, deixem-me ver n-nem que seja a ultima coisa que... Oh...

Os guardas estacaram, atendendo ao apelo do Cavaleiro, contudo, não era sábio deter-se muito tempo, ele estava ferido, e precisava de cuidados médicos, perdia muito sangue. Havia uma adaga encravada em seu peito e vários ferimentos pelo corpo. Era um verdadeiro milagre que ainda estivesse consciente. Assim, num esforço de vontade, o Cavaleiro soerguido pelos guardas, acompanhou aquilo que pareceu um ritual, uma procissão de jovens moças entoando cânticos, formou um circulo ao redor do altar onde estava a princesa, e a que parecia ser a líder das sacerdotisas ergueu a rubra rosa para os céus, compenetrada numa fervorosa oração aos deuses, e no momento seguinte baixou os braços, e depositou a rosa na fronte da princesa. Uma estranha expectativa tomou conta dos presentes, como se esperassem por um súbito milagre, e por instantes que pareceram eternidades, nada aconteceu...

O rei caiu de joelhos desesperado, em prantos, e foi prontamente consolado por seus servos. O Cavaleiro que não abandonou um instante sequer sua fé, observou atento um fato curioso que começou a ocorrer, a cor rosada voltava às faces da princesa, ao mesmo tempo em que desaparecia a atmosfera de morte que reinava no ambiente. Suas pupilas dilataram, e ele observou outro fato, imperceptível demais para as pessoas comuns e não-sensíveis perceberem. Um campo luminoso radiante estendeu-se ao redor do corpo da princesa! E a rosa em sua fronte refulgia com um brilho dourado. O cavaleiro sorriu, fitava agora a princesa diretamente em seus olhos que se abriram e irradiaram o salão com sua luz de vida, deixando incrédulos todos os presentes, e num alento sua Anima retornou!

Súbito, o olhar do Cavaleiro tornou-se fixo, rijo como se concentrado no inevitável, tivera uma visão, sua última talvez; estava num túnel luminoso, caminhando, caminhando satisfeito. Afinal tivera êxito em sua missão! Próximo ao fim do túnel contemplou um brilho radiante e dourado, e caiu de joelhos. Cobriu os olhos com seu antebraço esquerdo para que a Luz não o cegasse, e diante de si estava a majestosa Cruz de Ouro, que ele contemplou com respeito e admiração, ela emanava uma aura irradiante de transmutação alquímica. E no Centro da Cruz começou a brotar uma Rosa Rubra! Extasiado, com a divina visão, o Cavaleiro já não via mais os eventos mundanos que ocorriam a sua volta. Assim, ele exalou seu ultimo alento e deixou este mundo.

O rei parado diante de seu corpo, ao mesmo tempo alegre e triste, agradeceu em silêncio, e fechou os olhos do Cavaleiro que partira para o Além-Vida, correndo em seguida para abraçar sua filha que retornara...

Tristan M L Florentini
Enviado por Tristan M L Florentini em 10/04/2009
Código do texto: T1532977
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