O Alvorecer da vida

Estava quase anoitecendo. O sol reluzia pouco entre a fresta da janela fechada pela cortina negra. Minha mãe Susana estava sentada no mesmo sofá velho, com os mesmo novelos de lãs e a mesma agulha fazendo o seu tricô. Meu pai trabalhava como um louco, já não o via há muito tempo. Não me lembrava mais de sua fisionomia, do seu cheiro ou até mesmo do seu sorriso. Acho que quando o visse seria como um estranho para mim. Eu fazia todos os dias as mesmas coisas. Jogava bola com os amigos, lia grandes gibis de terror e suspense e quando dava tempo assistia os desenhos animados da tevê. Era uma criança normal como qualquer outra.

Venho de uma família resguardada. Meus pais são como militantes, regras atrás de regras. Ordens atrás de ordens. Como sou novo ainda consigo me precaver de tudo isso. Acho que deve ter vindo da educação de seus pais.

Sou do típico curioso, quando coloco algo em minha cabeça não consigo tirar sem antes ter solucionado. Queria saber de minha família, meus ancestrais, de onde vim e para onde eu vou.

- Mãe onde está o meu avô?

- Não quero falar sobre isso – respondeu atônita.

- Mas eu quero saber – retruquei – todo mundo da minha escola tem uma avó ou um avô. Todos falam que sempre vão a suas casas aos domingos e comem um delicioso bolo de laranja ou de cenoura e tomam uma geladíssima limonada. Isso quando não recebem um abraço e ouvem o “Eu te amo eu filho”, ou “como você cresceu”. Por que não tenho isso?

Minha mãe levantou-se. Caminhou até uma escrivaninha, pegou um empoeirado álbum de fotografias e trouxe para perto de mim. Sua fisionomia não era a mesma. Largou o tricô de lado como se não estivesse fazendo aquilo. O tempo passava. O sol já estava fraco dando sinal que iria anoitecer. O frio chegava junto a noite, eu e minha mãe independente disso permanecemos no mesmo local.

- Este aqui é o seu avô! – exclamou apontando o dedo na foto que indicava um velho senhor robusto com uma feição rabugenta.

- Ele é o meu avô? – perguntei assustado – percebi porque nunca quis falar dele.

- Por que diz isso?

- Olha a cara dele! Parece um bicho raivoso que está me caçando pelos olhos. Estou com medo.

- Não precisa, isso era apenas uma máscara. Somos descendentes de espanhóis meu filho, isso é retomo como herança de família. A mesma feição, o mesmo jeito de se vestir e o mesmo modo de falar. Ele era uma pessoa boa.

- Era? Mãe como assim era?

Minha mãe não conseguiu conter-se. Chorou no mesmo instante que fiz a pergunta. Não compreendia o motivo pela qual ela estava chorando se não explicava nada apenas lamentava.

- Ele está bem longe agora!

- Está viajando? Morando em outro país?

- Não meu filho – respondeu deixando uma lagrima cair entre seus olhos – seu avô morreu a duas semanas.

Senti meu corpo tremer. Nunca ousei pensar que um dia ouviria isso. Meu avô morreu antes mesmo de conhecê-lo? E meu pai, onde estava? Por que não tomou nenhuma atitude em relação a isso?

- E onde está o meu pai?

- Seu pai... Seu pai está viajando como sempre.

- Mãe!

Eu sentia em sua fala que algo de estranho estava acontecendo e como sempre nunca conseguia entender o que era o porquê disso ou o porquê daquilo.

- Eu estou falando a verdade!

- Não me diga isso!

Ela pôs-se a chorar. Não sabia o que fazer naquela situação. Minha mãe chorando. Meu pai não era presente e tinha acabado de receber a noticia de que meu avô acabara de morrer. Por que tudo isso em apenas um dia? Eu era apenas uma criança.

- Seu pai não irá mais voltar filho – disse respirando fundo.

- Não? Por que não? Ele nos abandonou?

- Sim. Ele se foi!

- Como assim mãe? Não estou entendendo nada!

- Ele morreu com o seu avô. Eles sofreram um acidente de carro na estrada.

Agora sim podia-se dizer que não era o que eu queria pensar e muito menos ouvir. Agora eu conseguia entender porque nessas ultimas duas semanas meu pai nunca voltava para casa, porque ele nunca mandava um recado ou telefonava. Agora sim tudo estava acabado e esclarecido. Sem pai, sem avô. Tinha apenas a minha mãe como companhia. A dor começou a me tomar por dentro. Sentei-se ao seu lado e cai em um choro profundo. Meu coração palpitava como nunca tinha feito antes, eu chorava como nunca imaginava. Minha mãe nada fazia apenas me acompanhava com a dor de perder um ente querido.

- E minha avó? Ela está viva pelo menos?

- Sim! Estava pensando em ir visitá-la hoje. Quer ir comigo?

- Quero!

No final da tarde saímos daquela casa que mais parecia um martírio. Fomos à casa de minha avó buscar mais um ombro que pudesse nos confortar por toda aquela situação. Conseguir um lugar mais sereno para ficar. Não sei como minha avó deve estar, pois também perdeu quem ela mais amou na vida... Na verdade as duas pessoas mais queridas.

Aquele dia foi o pior momento da minha vida. Não queria tentar ao menos recordar o que fazia com o meu pai. Das brincadeiras, dos risos e de tudo. Apesar das broncas e poucas vezes as chineladas, eu o amava. Ele era o meu pai, o meu super herói. Só que neste momento ele ficará na história de um pequeno caderno envelhecido que com o passar do tempo representará o alvorecer de uma nova vida e daqui para frente serei o responsável por tudo onde deixarei de lado a criança brincalhona para me transformar num homem assim, como meu pai foi.

“Desculpem-me pela discórdia da escrita... É um texto sem sentido que veio em minha cabeça. Contudo, espero que gostem”

Well Rianc
Enviado por Well Rianc em 25/05/2009
Código do texto: T1613707
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