A caverna perdida de Fernão Dias...

O homem que ligara marcando o encontro não aparecera.

Autran observa o movimento da rua das Flores.

Em frente a livraria Curitiba, dezenas de pintores anônimos deixam suas pinturas em cavaletes adaptados para exposição. O frio não parece atrapalhar os curiosos e nem os artistas.

Sentado em um dos bancos do calçadão Autran percebe que alguns quadros possuem requinte admirável, ele já havia visto esses quadros na feira do largo da ordem, que ocorre aos domingos no centro histórico da capital paranaense. Alguns transeuntes param em frente ás obras dos pintores e comentam, mesmo que nada entendam de arte.

Não há sinal do sol. O céu está cinza e há ameaça de chuviscos. Um homem levanta uma espécie de tenda, onde abriga seus materiais de pintura. O tempo em Curitiba se mantém nublado com uma constância irritante para as pessoas que não são da cidade. Um vento frio e contínuo faz com que muitas pessoas procurem abrigo debaixo das marquises em frente a galeria Tijucas, ao lado da livraria Curitiba.

Ele percebe que o centro de Curitiba atrai mais pessoas idosas que os jovens, pelo menos naquele horário e naquele local.

Um microônibus estilizado, do teatro Guaira, pára próximo de onde Autran está. Descem algumas pessoas.

Súbito sua atenção é tomada pelo barulho que vem da loja macdonald´s onde alguns operários usam furadeiras e lixadeira para arrumar um balcão.

--- Tem horas? - pergunta um senhor com um rapaz ao lado.

Autran levanta o olhar. Não vira o velho se aproximar.

É um homem de uns 70 e poucos anos, barba grossa, óculos, perto de 1,70 de altura, com uma barriga saltando á vista.

O homem sentado no banco da praça olha para frente e aponta para o relógio grande, no alto de uma coluna na saída da praça Osório.

---- É nove e dez, senhor!

Então ele repara melhor no rapaz que está ao lado do velho.

Alto, mais de 1,80, loiro, cabelo curto, ombros largos e fortes, cara fechada. Aproximadamente 30 anos. O homem não pisca ante o olhar de Autran.

---- Desculpe-me! Não tinha visto. Não sou daqui!

---- Sem problemas!

----- A vista de um homem de 76 anos mesmo com óculos, nos prega peças, sr. X!!

Autran levantou-se de um pulo.

---- O que disse!? O que falou??

Ao pular do banco, o homem loiro de cabelos curtos rapidamente se moveu se colocando entre Autran e o velho.

----- Calma Roger! O senhor X e eu vamos tomar um cafezinho e conversar. – disse o homem batendo com a mão no ombro do homem.

---- Creio que o senhor está equivocando. Provavelmente me confundindo com alguma outra pessoa. Meu nome é Autran. Não conheço nenhum senhor X.

----- Deixe-me apresentar-me primeiro. Sou Nelson Borges, colecionador de obras de arte, especialmente livros raros. Fui eu quem lhe telefonou na quarta-feira passada. Só não sei o porquê deste mistério.

---- Que mistério? – pergunta o homem loiro sem entender.

---- Aonde podemos conversar mais a vontade? Aqui no meio da rua esse frio está congelando meus ossos. – reclamou Nelson Borges.

--- Tem um local logo ali na esquina, o Luca café, me acompanhe!!

Já no café os três homens começam a conversar.

---- Então Sr. Borges, foi o senhor que marcou o encontro, mas como me achou? E o porquê disso?

----- Por isso que disse não entender esse negócio de Sr. X. Te achar não foi tão difícil.

----- Mas também não foi fácil, garanto.

----- Bom, fácil, fácil, não foi. Para ser honesto tive que me mexer bastante e dar alguns telefonemas. Um amigo me indicou uma livraria em Rosário, na Argentina. Lá, o proprietário do antiquário Guevara Art me falou dos serviços que o senhor prestou a ele em uma oportunidade. Nos disse que não tinha seu número e sim o número de um editor de Madri, que era um contato com o Sr..

---- Aproveitei para conhecer o Santiago Bernabeu! – disse o guarda-costas do velho. Em seguida olhou sério para os dois e calou-se como se dando conta que fora inoportuno.

---- Bem, agora que me encontrou que tal me falar do que se trata?

---- A dois anos atrás fui participar de uma feira de Artesanato e antiguidades em Vigo, na Espanha, e lá entre uma conversa e outra com meus conhecidos, ouvi falar que o Sr. Rubinsteins, um antiquário de Amsterdã, havia encontrado um manuscrito antigo, segundo ele, de Fernão Dias Paes. Algo parecido com um diário.

---- Nossa, isso realmente é novidade para mim. Fernão Dias, não é nome do homem que deu origem a Rodovia que liga São Paulo a Belo Horizonte? Não escutei nada sobre isso.

---- Eu sei! O sigilo é o maior valor em nossa categoria. Precisamos primeiro poder provar o valor do que temos em mãos para só então anunciar. E esse é um caso muito particular. Difícil de se provar. Sabe que não podemos nos expor demais. É um círculo fechado de informações sobre o que se tem, o que se compra, o que se vende. Bem, você até pode se encaixar neste círculo, com algumas restrições.

----- Sr., Sou apenas um explorador. Um caçador de tesouros. Não vivo em feira ou exposições. Eu encontro o que me pedem para encontrar, quando é possível. Mas ainda não entendi onde me encaixo nisso.

----- Bem, consegui com o amigo de Amsterdã uma cópia do dito “Diário de Fernão Dias Paes” e há uma citação pormenorizada de um local, uma caverna, onde segundo ele há esmeraldas maiores que um ovo, e que de tantas, a parede parece uma selva verde.

----- sério mesmo?! ....

----- Acha que eu iria vir do Rio de Janeiro até Curitiba por brincadeira?! A questão que me traz até o sr. É a seguinte, Quanto quer para encontrar essa caverna? Esse será o seu serviço, encontrar a caverna perdida de Fernão dias....

Ivair Antonio Gomes
Enviado por Ivair Antonio Gomes em 22/08/2009
Reeditado em 04/09/2013
Código do texto: T1768699
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