A invasão dos ratos chineses - IX
Rumávamos para a casa de Karen quando ouvimos um ruído estranho no banco de trás e, ao mesmo tempo, viramo-nos para ver o que estava acontecendo. Eu não conseguiria descrever a nossa surpresa ao ver um rato sentado, olhando ora para mim, ora para ela. Inexplicavelmente, no entanto, não senti medo, nem raiva, embora o fato não inspirasse indiferença, de forma que me ocorreu uma ideia idiota. Sob o olhar curioso dela, coloquei a mão no bolso, tirei uma barra de chocoloto, abri e joguei um pedaço ao rato. O bicho cheirou, olhou para mim, para Karen, depois abanou o rabo peludo e, enfim, comeu rapidamente, parecendo muito faminto.
– Ei, você é um rato, não um cachorro! – Falei.
Como resposta, o bicho arregalou seus olhos e passou a sacudir o rabo de maneira frenética.
– Certo, você quer mais, não é? – E joguei-lhe mais um pedaço, que foi rapidamente devorado.
– khui. Khuiiiiii. – Eu podia jurar que aquele rato estava querendo me dizer alguma coisa. O bicho deu mais uma sacudidela no rabo, mantendo o mesmo olhar pidão.
Embora possa parecer estúpido, aproximei outro pedaço de chocolate de seu focinho.
– Vamos ver do que você é capaz... – Eu disse ao rato.
O bicho tomou o chocolate de minhas mãos, alçando as suas patinhas delicadamente e, em seguida, comeu-o com rapidez. Terminou e pôs-se a me olhar novamente.
– Acabou seu guloso! – Mal terminei de dizer isso e presenciei uma cena realmente insólita: ele sorriu para mim.
Ainda perplexo, percebi que naquele instante Karen olhava para a frente, demonstrando que não estava gostando nada daquilo.
– Veja Karen! Ele está sorrindo! – Falei empolgado. Mas ao tempo que ela dirigiu seu olhar, o animalzinho desfez o semblante risonho, como se quisesse desmentir-me.
– Às vezes acho que você não é certo... – Ela disse, meneando a cabeça.
– Eu juro, Karen! Não falo de um esboço de sorriso, mas era um sorriso de verdade!
– O que você quer que eu diga? Que um simpático rato invadiu o carro e resolveu sorrir para você como um gesto de gratidão por ter sido alimentado? Ótimo, agora dê-lhe um nome e leve-o para casa. E não esqueça de colocá-lo numa coleira. Tenho certeza que você vai adorar levá-lo para passear no parque aos domingos.
“Roberto”, pensei.
Quando chegamos em sua casa, reparei que ela não estava nada contente com a presença do rato no carro. E, como se adivinhasse meus pensamentos, abriu a porta e enxotou o bicho. Fez isso sem qualquer receio ou medo. No entanto, ele se postou ao lado da porta e ficou ali, abanando o rabo.
– Desculpe, mas estou intrigado com isso, Karen... Esse rato me parece muito diferente dos outros...
– Leve-o para casa, então!
– Vamos ver se ele está com sede?
Júlia abriu o portão e foi entrando, sem responder. Eu a segui.
– Roberto, venha garoto!
– Khuiiiii. – Ele respondeu, parecendo um pouco indeciso, mas veio atrás de mim.
Confesso que eu não sabia muito bem o que estava fazendo.
– Desculpe, Karen, mas talvez ele possa nos ajudar. – Justifiquei-me.
E ela também me pareceu sorrir enquanto Roberto matava a sua sede, olhando-nos furtivamente, entre um gole e outro.
– Khuiii! – Ele agradeceu ao terminar.