Contos da Galiza II

A MULHER DO CARRINHO

A multidão de jovens despregava na escadaria de pedra uma grande faixa em petição de uma melhora no currículo académico. O edifício centenário que albergava a faculdade de História no centro antigo da cidade era ocupado pelas forças vivas dos estudantes em protesto pacífico mas numeroso.

Já a polícia do Reino tinha tomado posições e observava os manifestantes desde as redondezas. Várias furgonetas policiais e uns vinte números aguardavam a ordem de dissolução do protesto que se prolongava mansamente dentro e fora das portas principais do prédio, abertas como um ventre no São Martinho.

Depois de uns minutos, o ar inflamado de tensão congelava a ruela e os carros pararam de fazer saltar as peças do pavimento, como é costume em aqueles hieroglíficos de bairros empedrados. Subitamente a polícia carregou sobre os manifestantes. Os berros intensificaram-se e na pequena praça ressoaram as corridas, as vozes e os sons metálicos dos uniformes.

No meio daquele caos ninguém se precatou da mulher que por ali passava empurrando um carrinho com quatro alvas e perigosas caixas de livros. A polícia, distraída em atacar os estudantes, também não se precatou.