Gênese do Universo - Gênesis bíblico reescrito

No princípio era o caos. Nada existia e não havia luz. O universo estava mergulhado na escuridão. Então Deus disse: faça-se a luz. E a luz existiu.E o Universo tornou-se luminoso e quente.

E Deus viu que isso era bom, e descansou uma eternidade.

No princípio era o caos. Nada existia, e o universo estava em escuridão absoluta, pois se nada existia, a luz não existia. Mas o caos tornou-se o grande organizador do universo. Partículas que não eram nem matéria, nem energia e nem espírito, eram simplesmente nada, espalhavam-se no universo de forma caótica, e por isso algumas se encontravam muito próximas de outras. Até que em algum momento duas delas estavam no mesmo lugar. Esse acontecimento pode ter demorado bilhões de anos, e outros bilhões de anos se passaram até que essas duas partículas formassem, por sua junção, a primeira força primitiva do universo: a atração. Do mesmo modo em outros lugares do universo, devido ao caos, outras partículas do nada se encontraram. Manifestou-se então, em postos distintos, a força primitiva da atração, e duas partículas atraíram mais outras, e cada vez que se juntavam, a força aumentava, até que em determinado momento o universo possuía muitas partículas dotadas da força primitiva da atração. Não havia concorrência, todas se atraiam inexoravelmente.

Esse fenômeno foi se desenvolvendo de maneira cada vez mais rápida, até que poucas partículas de grande massa atrativa estavam formadas, atraindo umas às outras a um só ponto. Por bilhões de anos as partículas convergiam a esse ponto, até que uma massa enorme se formou, todas as partículas do universo convergindo para um só lugar, produzindo uma força atrativa tão insuportável que em seu ponto central surgiu uma inversão, uma segunda força: a repulsão. Então, pela força da repulsão, o universo explodiu, e numa fração de tempo as partículas de forças invertidas do centro desse aglomerado libertaram-se em todas as direções, mas não eram em maior quantidade, por isso no instante seguinte o universo novamente se contraiu, numa velocidade vertiginosa.

Porém a reação entre atração e repulsão gerou movimento entre as partículas, surgindo daí energia, e no limite máximo da contração, essa energia aumentou, gerando o calor. No auge da contração universal, a segunda explosão, acompanhada de calor, e este provocava desequilíbrio das partículas, e algumas delas escapavam de uma partícula repulsiva a outra, gerando uma manifestação luminosa, e o universo todo se iluminou. Tendo a segunda explosão aumentado o número de partículas de repulsão, todo o universo se movimentava, e as partículas se organizavam nesse caos, criando partículas maiores, mais organizadas, que foram lançadas em todas as direções. O universo tornou-se luminoso e quente.

Mas o Universo luminoso e quente ainda era vazio. Então Deus disse: Faça-se a matéria. E surgiram galáxias de matéria quente e luminosa, separadas umas das outras por imensidões vazias. Eram ainda informes e desorganizadas.

Então Deu disse: Façam-se as estrelas e planetas, e todos os astros para popular o universo. E em todas as galáxias, astros e estrelas se formaram, uns mais frios, outros mais quentes. E se organizaram em movimentos harmônicos, as galáxias em relação ao universo, as estrelas em relação ao centro de suas galáxias, os planetas em relação a suas estrelas, as luas em relação a seus planetas.

E Deus viu que isso era bom, e descansou a segunda eternidade.

Grandes aglomerados de partículas organizadas se formaram, e exerciam força de atração em suas proximidades. O universo se organizou em galáxias informes, extremamente aquecidas e luminosas. Ocorriam contrações e explosões nessas massas galácticas, como repetições fracionadas da explosão universal. As explosões galácticas, no entanto, condensavam e organizavam cada vez mais as partículas, criando massas incandescentes e luminosas, com formações de partículas complexas. Surgiram então partículas maiores, umas com tendência à atração, outras à repulsão, e outras ainda equilibradas, tendente à neutralidade. Partículas atrativas tendiam a atrair as neutras e as repulsivas. Surgiram os aglomerados de partículas. Os mais simples formados por uma partícula atrativa e uma neutra, que permaneciam juntas. Esse arranjo acabava atraindo uma repulsiva, que por sua natureza não se deixava juntar, mas não tinha força suficiente para escapar, então se movimentava freneticamente numa zona de tolerância, onde as forças tendiam ao equilíbrio, gerando assim uma energia própria. Assim surgiu a matéria, o átomo. Alguns simples, outros mais complexos, com maiores quantidades de partículas arranjadas. Os arranjos muito grandes acabavam desequilibrando-se muito facilmente, e quebrando-se em arranjos menores.

Cada um desses agrupamentos galácticos pulsava em ciclos de contração e explosão, cada vez mais lentos, e cada vez mais organizados em forma de matéria, até que em algum momento todas as partículas do aglomerado estavam suficientemente organizadas, e convergiam a um núcleo comum da galáxia.

No entanto, devido à enormidade da massa, esta não podia sustentar-se, e numa última explosão galáctica, matérias foram expelidas em todas as direções, e nesse movimento, pedaços juntavam-se. Isso se dava em cada aglomerado galáctico. A organização diminuía a instabilidade, e a energia das partículas diminuía de ritmo, diminuindo também a força atrativa. Parcelas de maior energia acabavam atraindo as de menor energia, formando astros de núcleo aquecido e outros de crosta mais fria. Alguns de maior energia acabavam quebrando a organização de suas partículas, gerando intenso calor, com núcleo muito mais quente formado por átomos quebrados, e a crosta com átomos em formação. Assim permaneciam quentes e energeticamente ativos, atraindo corpos mais frios. Formaram-se assim os astros: os quentes e luminosos, estrelas, os mais frios e escuros, planetas.

A força de atração dos núcleos das galáxias equilibrou-se com a força de repulsão dos corpos em resfriamento. Por sua vez, as estrelas, energéticas, atraiam os corpos mais frios em sua proximidade até um ponto em que a forte atração da estrela equilibrava-se com a fraca repulsão do corpo frio, ainda aquecido, e todos passaram a circular uns em torno dos outros. Estrelas circulando em torno do núcleo galáctico, astros frios em torno de suas estrelas. Alguns astros menores e mais frios foram atraídos por astros com algum calor, e circulavam em torno deles, formando as órbitas, até que estas se harmonizaram entre si.

Então Deus, olhando para a Terra, viu que era informe e vazia, então disse: formem-se oceanos e terras secas, e uma atmosfera para proteger o planeta. E se formaram oceanos de água entre continentes de terra e rochas. E águas brotavam nas terras e seguiam em direção aos oceanos. Um véu de ar envolveu a terra, e ela tornou-se azulada e de clima agradável. Deus viu que isso era bom, e descansou a terceira eternidade.

Com o esfriamento da superfície dos astros escuros, os planetas, a matéria estabilizou-se cada vez mais, até um ponto de estar quase que totalmente equilibrada, formando átomos de diversas configurações e características. Como o universo todo era formado a partir das mesmas partículas, a matéria estabilizada em todos eles era idêntica, em maior ou menor quantidade, de acordo com o processo de sua formação. Algumas órbitas favoreciam essa estabilidade, outras ainda mantinham instabilidades e desencadeamentos energéticos, estas as mais próximas de sua estrela. As órbitas mais distantes favoreciam a degeneração da matéria, o excessivo resfriamento e perda de energia.

Em situações favoráveis, os planetas proporcionaram aos seus elementos componentes um ambiente que, além do equilíbrio e formação de átomos bem definidos, formavam iterações entre eles, produzindo elementos compostos, uns mais simples, outros bastantes complexos. Essa iteração manifestou-se também em formações mecânicas específicas, dando forma aos elementos complexos.

Os elementos organizados juntaram-se a seus semelhantes, com os quais mantinham relações de equilíbrio, formando os diversos elementos. Os mais pesados, atraídos pela força atrativa remanescente no núcleo do planeta, tendiam a formar as crostas, os mais leves sobre estes e os levíssimos flutuavam livremente, formando um véu no planeta, a atmosfera. Elementos sólidos, líquidos e gasosos surgiram, conformando a Terra.

Então Deus disse: surjam criaturas vivas nas águas. Então surgiram criaturas microscópicas capazes de se movimentarem de forma autônoma e de se reproduzirem. Deus viu que isso era bom e descansou a quinta eternidade.

O movimento e as forças primitivas universais acabaram tendo ressonância com o conjunto, até um ponto que a ação desses movimentos e forças refletiram não somente no elemento em si, mas também entre os elementos, em suas relações uns com os outros. E daí surgiu outra grande força do universo: o espírito, que é a força que rege a interação entre elementos estabilizados. Formaram-se assim os maciços elementares: cadeias e cristais.

Da relação entre algumas estruturas de cadeias surgiu a possibilidade de uma iteração especial entre elas, até o ponto que foram capazes de reagir de forma autônoma em seus movimentos e trocas de energia. Assim o espírito universal acabou criando o animus vivendi, o impulso mais complexo, a vida. Somente com o envelhecimento do universo e seu conseqüente equilíbrio, esse impulso pode ser estabelecido, e por bilhões de anos tornou-se cada vez mais complexo, formando os seres vivos. Quanto mais complexos, mais dependentes do equilíbrio das forças universais.

Então Deus disse: surjam seres capazes de alimentarem-se do calor e da luz, e reproduzirem-se livremente. E surgiram as plantas verdes, tanto na água quanto no mar. E essas plantas evoluíram para formas complexas e povoaram os continentes e oceanos.

Então Deus disse: surja a reprodução sexuada conforme as espécies. E as plantas desenvolveram uma complexa forma de reprodução, gerando flores e sementes conforme suas espécies. Deus viu que isso era bom e descansou a quarta eternidade.

Então Deus disse:surjam toda sorte de animais complexos para povoar os oceanos e continentes. E surgiram protozoários, vermes e insetos, e toda sorte de invertebrados, e animais complexos,peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos, vertebrados, cada um ocupando um espaço no planeta, nos oceanos, cursos d’água e continentes. Deus viu que isso era bom, e descansou a quinta eternidade.

Deus disse: que surja ser humano, dotado de razão para cuidar de toda a criação. E surgiu o homem, dotado de razão e capaz de modificar o curso de sua própria existência, e tomou conta de toda a criação. Deus viu que isso era bom e descansou a sexta eternidade.

E essa foi a história da criação, desde os princípios dos tempos. O ser humano evoluiu, e aos poucos foi adquirindo conhecimento dos mistérios da vida, mas não todos ao mesmo tempo. Apesar da capacidade do homem com sua razão e inteligência, o conhecimento do todo está destinado aos fins dos tempos. Aos poucos, a força do espírito equilibrar-se-á com o todo, até aproximar-se da força divina, onipresente no universo.

Há um movimento universal, no qual as galáxias dirigem-se em uma rota que se afasta cada vez mais do núcleo do universo, o ponto onde ocorreu a explosão universal. Essa órbita tende a desacelerar-se, e em algum momento, parar, quando então o universo, adquirindo o equilíbrio total, simplesmente decompor-se-á. O equilíbrio provocará o cessar do espírito, do movimento e da energia, reduzindo as forças primitivas de atração e repulsão até esgotá-las, quando então as partículas voltarão ao nada, e o universo desaparecerá, até que um novo evento caótico junte duas partículas do nada, e um novo ciclo cósmico terá início. O universo, pulsa entre a existência e a inexistência continuamente, regido pela força divina. Deus, o Caos, o grande organizador do universo...