(Título)

..e Ela veio em minha direção.

Despenteada, com as maçãs do rosto completamente sujas e um filete de sangue escorrendo pela testa. Ela sorria e dizia coisas sem nexo ou sentido.

Estava completa minha adoração.

A idolatria que sempre me foi ingrata tinha sido laçada uma vez mais.

Adorar tudo aquilo que me dá prazer.

O guia da tv que era religiosamente consultado todas as manhãs, em busca de uma diversão rápida. Um desenho de Hanna-Barbera tão cultuado que aos meus olhos não fazem a menor graça. Um filme cult adorado por todos, mas que me provoca um simples bocejo. E já é o bastante para receber olhares tortos.

Eu adoro tudo o que me dá prazer.

Idolatro o guia publicitário que me mostra as últimas promoções de uma loja de varejo. Adoro comprar coisas que nunca vou precisar, simplesmente pelo prazer de comprar.

Minha paixão me dá prazer.

Agora eu a vejo em minha frente. Com o rosto sujo e coberto por sangue. Percebo que minha paixão era ilusória. Minha realidade não era nada. Cheia de um vazio existencialista (uau! muito filosófico de minha parte).

Mas agora...

...as regras foram quebradas.

Não é amor. É paixão.

Eu a vejo na frente de tudo. Eu a idolatro como um cristão adora seu Deus. Eu adoro. Ela é minha Deusa.

Sangue. Gemido. Lágrimas e dor.

Ela me fala de romance. De encontros. De beijos trocados e sonhos construídos. Casa, filhos, roupas. Comprar um belo enxoval para nossos filhos. Não, essa é minha velha paixão. A minha nova paixão é Ela.

Sujeira. Suspiro. Redenção. Dúvida.

É a ela que eu idolatro de agora em diante. Nada mais de dias perdidos na vídeo locadora adorando pessoas cujo nome mal consigo pronunciar. Nada de literatura rebuscada que faço de conta ler só para depois forçar uma pronuncia que enche os olhos dos outros de inveja.

Agora só há Ela.

E depois veio a morte...

Thom Ficman
Enviado por Thom Ficman em 11/09/2006
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