Freak Short History

Quando ele percebeu toda a cena ficou realmente estarrecido.

Parecia uma câmara de tortura acolchoada, mas era apenas seu consultório odontológico. A luz estava estranha. Difusa. Dir-se-ia em tom sépia. Olhou novamente ao redor. Ele sentia um misto de estranhamento, desespero e satisfação. Satisfação pela caçada. Pela captura. Pelo tolhimento dos movimentos e da fala. Pela sensação de total controle. Controle. Essa era a palavra mágica que significava tudo naquele momento aterrador.

Sua vítima já estava cansada e mais que desesperada. Atada à cadeira com fita crepe e com a boca amordaça por um lenço de seda caríssimo. Ele olhava para ela. Fitava seus olhos esgazeados e inchados de tanto chorar e de tomar bordoadas. Ele não se lembrava como a tinha seduzido e a tornado sua cativa. No começo ela tentou colaborar com sua brutal fantasia de terror e morte. Até chegou a simular um gemido de excitação quando estava sendo brutalmente estuprada. Tinha visto isso num filme hollywoodiano e tinha dado certo na tela. Na tela. Bem entendido. Hollywood apenas serve para alimentar-nos de ilusão sem sentido. Agora era apenas uma questão de tempo. Iria levar finalmente sua vítima para a morte. Apenas para aquele lugar misterioso que tanto tememos.

Pegou um bisturi de sua vasta coleção. A lâmina por uma fração de segundos pareceu cintilar como nos desenhos animados. Uma parte de seu cérebro não podia conceber toda aquela abominação. Porém outra parte - a maior parte – dizia para ele que era bom, divertido, excitante. E que aquela não era a primeira e nem seria a ultima vez. Seu lado racional tentava entender toda aquela cena de caos. Seu inocente consultório transformado num freak show hediondo que cheirava realmente a homicídio bárbaro. Daqueles que deixam a imprensa em polvorosa e a opinião pública puramente chocada.

A vitima já estava cansada de tanta punição física e psicologia e apenas respirava pesado e emitia fracos murmúrios incompreensíveis por debaixo daquele lenço que firmemente se atava em sua boca. Os pulsos já mostravam equimoses. Seu sexo sangrava. Era isso que dava satisfação ilimitada ao seu captor e algoz que olhava fixamente para lâmina do seu bisturi e preparava para retalha- lá em vários pedaços. Um corte fino de lancinante no ventre daquela fêmea subjugada. Ela tentou gritar e agora ele colocava sua mão enluvada de látex em sua boca e nariz fazendo-a sufocar. Ela iria realmente morrer. Chorava ainda inutilmente implorar por sua vida. Rimbaud dizia que mesmo quem vive a vida mais miserável ainda não quer morrer. Talvez ela tenha se lembrado dessa frase que tinha lido quando era uma adolescente cheia de sonhos. O assassino ainda tentava dialogar consigo mesmo e convencer seu lado Hyde que aquilo estava errado e era muito, muito brutal, quase anti-humano. Mas Hyde lhe mostrava toda a satisfação de ver aquela bela mulher urrando feito um porco no abatedouro. Novamente golpeou-a com o bisturi dessa vez fazendo sangue jorrar até o teto. Seu guarda pó estava tingido de vermelho vivo. A dor de sua vítima fora indescritível, mas ainda restava um fio de vida. Poucos segundos depois o terceiro, certeiro e fatal golpe. Ela iria agora agonizar lentamente. Ela tentava buscar ar, porém a mordaça a impedia. Maldita hora que fora procurar aquele maldito emprego de secretária naquele lugar de terror. Seu chefe parecia jovem, competente profissional e cheio de vida e lições para ensinar. Tudo ocorrera bem até aquele dia. O que teria acontecido, afinal. Sua agonia foi brutal. O seu matador agora estava sentado em uma cadeira contemplando-a com pleno deleite

Ele acordou com um berro. Um grito quase primal, e com as têmporas, o rosto e o peito lavado do suor mais gelado, despertou daquele horrível pesadelo que o tinha acometido.

Geraldo Topera
Enviado por Geraldo Topera em 13/09/2010
Código do texto: T2495385
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