DOMINGO PELA MANHÃ
 
    Ei!!! O que aconteceu? Por que estou aqui em pé e meu corpo está deitado no chão? Que eu me lembre, acordei às 06:00h, fui ao banheiro, esvaziei a bexiga, lavei o rosto para despertar e coloquei água na chaleira para esquentar a fim de fazer café, coisas que faço todos os dias, essa é minha rotina. Agora estou sem entender nada. O que estará acontecendo?
 
   - Vamos, meu corpo, levante daí. A água está fervendo na chaleira. Levante-se para fazer o café.
 
   - O chão da cozinha não é lugar de ficar deitado. Se quiser dormir de novo, volte para a cama.
 
   - Levante, vai. Vamos. Ajudo você a voltar para a cama. Vamos juntos.
 
   - Acorde! Hoje é domingo, viu? Vamos caminhar no calçadão de Icaraí, respirar a brisa do mar, beber água de côco. Vamos, homem! Sei que você quer ir. Levante daí então!
 
   - Olhe, faça o café, vamos tomar um cafezinho para despertar. Depois acorde a esposa. Vamos passear juntos.
 
   - Não adianta. Ele não me ouve!
 
   - Escute: estão acordando. Levante-se, homem!
 
   Minha esposa chega à porta da cozinha, vê meu corpo deitado e se assusta. Abaixa-se e tenta reanimá-lo. Em vão. Ele também não a atende. Ela desespera-se e grita. Meus filhos acordam e também tentam reanimar meu corpo. Tudo em vão. Ele dorme profundamente.
 
   Êta! Corpo preguiçoso esse meu!
 
   Meu filho pega o telefone celular e disca provavelmente 190 para pedir socorro. Não consegue êxito. Liga o número da polícia e nada. Enquanto isso os demais tentam reanimar meu corpo e nada conseguem. Começam a chorar. Então tento acalentá-los.
 
   Não chorem, é só meu corpo que dorme. Eu estou aqui. Acordado e ao lado de vocês. Fiquem tranqüilos. Estranho. Ninguém me ouve. Parece que não estão me vendo.
 
   O meu filho interfona para o porteiro e logo chegam a síndica e alguns vizinhos. Tentam reanimar meu corpo e nada consegue. Ele teima em continuar dormindo no chão da cozinha. É um cabeça dura!
 
   Eu continuo do lado do meu corpo sem entender o que está acontecendo. Quero ajudá-lo a acordar mais não consigo.
 
   Chegaram dois vizinhos que são para-médicos, um deles com um estetoscópio. Encosta o aparelho no coração do meu corpo e balança a cabeça negativamente, olhando para o outro. O desespero toma conta de todos e um clima fúnebre domina o apartamento. Um vizinho aproxima-se do meu filho mais velho e diz que seria melhor levar meu corpo para um hospital a fim de confirmar o que suspeitam. Então levantam meu corpo, carregam-no para o corredor, entram no elevador e chegando ao térreo o colocam no banco traseiro do carro do meu filho. Em seguida levam meu corpo para fora do condomínio. Em vão tento impedi-los pedindo que deixem meu corpo onde estava pois eu tenho a certeza de que ele iria acordar e voltar a sua rotina, fazendo o café e a seguir limpar as gaiolas dos pássaros e colocar comida e água.
 
   Eles se foram. E agora, que faço? Vou ficar aqui mesmo esperando que eles voltem. Sei que voltarão com meu corpo. Preciso dele.
 
   Deus do céu! Como demoram! O telefone toca. Meu outro filho que ficou em casa com minha mulher atende e sem falar nada, começa a chorar. Que será que falaram do outro lado da linha? Por que ele está chorando? E minha mulher, por que chora também?
 
   Por que será que não consigo entender o que está se passando? Levaram meu corpo que teimava em continuar dormindo. Falo com as pessoas, grito, gesticulo e ninguém me dá atenção. Parece que não me vêem. Que coisa estranha!
 
   Ah! Não vou me desesperar. Estou achando que isso tudo é um sonho. Nada disso está acontecendo. Estou é imaginando tudo. Quer saber? Vou é me deitar na cama outra vez e dormir de novo pois com certeza tudo isso não está acontecendo. Quando meu corpo acordar tudo será apenas lembrança. Vou dormir, é o melhor que faço.
                      
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Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 24/09/2010
Reeditado em 24/09/2010
Código do texto: T2518292
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