'' CEMITERIOS...acontece tanta coisa, `a noite, por la`...''

Enlevado Martins, ele odiava o nome Enlevado, e muito mais quando, desde pequeno, o chamavam de '' Levado'', e ele mesmo tinha-se colocado o apelido que hoje todos o conheciam ''Paulo ''...se voce em todos os lugares perguntasse pelo Enlevado ninguem conheceria , ate` mesmo se batesse no portão da casa dele nem a familia se lembraria, mas se perguntasse pelo Paulo Martins na hora sabiam...coisa de louco sohh!!!....e Paulo era timido, calado, de poucos amigos, estudava muito, lia muito e era um sonhador, tinha sonhos e ilusões, adorava se deitar , a noite, de barriga para cima na grama que havia no quintal de sua casa e ficar admirando a lua, as estrelas e ficar imaginando o começo de tudo...e por que???

E Paulo sonhava, se imaginava um astronauta viajando pelo espaço sem fim, conhecendo outros planetas, indo 'a lua...e se sua mãe não fosse la' chama-lo, por certo por la', na grama orvalhada, dormiria...e Paulo agora trabalhava duro como balconista do armazem de secos e molhados, um enorme que no bairro havia, eram caixas de bacalhau para carregar, toneis de azeitonas, das verdes e das pretas, atendia o balcão, estocava, era pau para toda obra e 'a noite estudava....Paulo estava nos seus vinte e um anos de idade.

E um fim de ano chegou, mais um, era o ultimo dia do ano e 'a noite haveria uma festa na casa do dono do armazem, e ele Paulo tinha sido convidado, disse que iria, mas vontade nenhuma tinha de ir, preferia ficar em casa, sabia que haveria muita bebida e muitas pessoas bebadas por la' e pior, não tinha carro, teria que ir a pe'

...seriam varias quadras e passar pelo cemiterio, não que ele tivesse medo dos mortos, tinha dos '' vivos'' , de assalto, e os muros do cemiterio eram altos, a rua pouco iluminada, pouco movimentada, e poucas casas em frente ao cemiterio, eram pequenas lojas e a noite ficavam fechadas, e quando disse isto 'a sua mãe ela insistia que ele fosse, que seria bom para ele, bla bla bla...eram onze horas da noite, ele decidiu...se aprontou e saiu.

Chegou aos muros do cemiterio, andava ligeiro, poucos carros passando, algumas motos, gente gritando arruaças, feliz ano novo paspalho gritavam para ele...ele rapido seguia e viu, viu uma mulher, era ja' quase no portão enorme do cemiterio...segurou um pouco o passo, foi indo devagar, pensou em mudar de calçada, algo o impediu, não mudou, seguiu....e viu, era linda a mulher, e não era bem uma '' mulher''...era moça, se vestia com uma roupa, calça comprida, blusa, tudo igual, azul e este azul brilhava , era fosforecente, tinha algo na cabeça que brilhava e piscava , uma pequena luz, na mão tinha um bastão, e sapatos que tambem brilhavam e piscavam, fantasia para brincar em alguma festa de fim de ano...vai ver que estão usando esta cor ao inves do branco este ano, pensava Paulo

.....e Paulo se aproximou, foi passando por ela, olhou no rosto...bonita mesmo, pensou e viu seus olhos...azuis, ele sorriu, ela sorriu, ele passou e ouviu um ....pisssssiiiuuuuu, pode me ajudar?

Paulo se virou e ela sorrindo mostrava o portão , ele chegou mais perto e ela pediu se ele conseguiria abrir o portão...ele examinou, olhou e viu que um potente cadeado com uma corrente grossa fechava o portão pelo lado de dentro...não, eu não consigo não.....ela fez uma cara de desespero, perguntou-lha que horas eram....onze e trinta e cinco, respondeu ele...

Meus amigos viram me apanhar la' dentro a meia noite em ponto, tenho que entrar, se não entrar ficarei por aqui para sempre e isto não e' bom para mim...tenho que entrar, me ajude a pular então o muro, por favor sim...eu preciso, muito!!!! por favor me ajude!!!

Moça, e' crime pular muro de cemiterio, principalmente 'a noite...se pegam nos prendem, pensam que queremos roubar tumulos, de jeito nenhum, e outra, olha a altura do muro...de jeito nenhum eu te ajudo, e Paulo se virou para ir embora, tinha que chegar ate' a festa e ainda teria que andar muito...ouviu ela chorando, soluçava mesmo...e Paulo se pegou dizendo :- venha, vamos andar um pouco mais, perto do necroterio tem uma parte que o muro e` mais baixo um pouco, tem uma grade por la`, e` mais facil subir e pular, venha...e foi apressado na frente, ela seguindo rapida atras.... pensava:- eu a ajudo pular e sigo meu caminho....

Chegaram, ele subiu primeiro na grade, colocou os pe`s firme no muro, estendeu a mão, ela agarrou, subiu pela grade e ficou de pe' em cima do muro, balançava e se agarrou a Paulo e os dois foram ao chão, dentro do cemiterio...havia agua e lama, se sujaram , ele , danado da vida, tentado se limpar....ela indo embora, caminhando apressada sem olhar para tras, ele tentando voltar para fora, o lado de dentro era mais baixo, ele não alcançava a grade para dar impulso, ficou fulo de raiva e olhou e viu aquele vulto azul fosforecente sumindo na escuridão, e de repente ele ouviu um zumbido, forte, como de uma avião se aproximando, sentiu vento forte e uma luz azulada iluminando o cemiterio...nem pensou no que fazia, agora corria e corria mais e mais para dentro do cemiterio e viu que a moça de roupa azul fosforecente tinha ficada parada em uma das ruas largas, era a rua do portão principal, a rua que levava para o fim do cemiterio e todas as outras convergiam para ela...e o ronco, o barulho aumentando e agora mais ainda iluminava todo o cemiterio...ela, a moça ate' parecia agora que era toda branca, seus cabelos que eram escuros pareciam brancos , roupas, tudo....e ele se olhou, estava branco tambem...efeito da luz , pensou....

Chegou perto dela, ela sorria, estava reta, ereta, e ergueu uma das mãos e elevou o bastão para cima, saiu um facho de luz e Paulo foi seguindo esta luz...a luz do bastão subia, subia e iluminou algo la' em cima...algo grande, cheio de luzes....ele olhou para ela, ela sorriu, estendeu a mão....ele pegou a mão que ela estendia, sentiu um choque, um arrepio de frio, depois um calor, ela o foi puxando, ele foi indo ao encontro dela, ficaram face a face, ela, fortemente o enlaçou, se agarrou, ele tambem a enlaçou, se agarrou forte...ela sorriu de novo, nada disse...tinha o braço estendido junto o bastão e a luz forte...e Paulo sentiu, sentiu sendo elevado do chão....a luz os elevava, devagar foram subindo, subindo e Paulo via agora o cemiterio la' em baixo que ia ficando escuro e quanto mais eles se aproximavam do que seria a nave, o avião...ou o que? Paulo via que uma porta no bojo se abria...e a luz os levou para dentro, a porta se fechou...Paulo sentiu um forte puxão, um zumbido forte...nada mais sentiu ou viu.

Paulo acordou, onde estaria, pensava...onde?

E ela veio, se apresentou....Zorah, do planeta Borax, milhões de anos-luz do planeta Terra, percorriam as galaxias em busca de estudos, de conhecimentos , de se aperfeiçoarem....e dias atras eles tinham vindo ate' aquela cidade....havia minerio no sub-solo ainda não aproveitado...seus aparelhos sensiveis lhes tinham demonstrado isto...mas a nave estelar não pode descer naquele ponto...enviaram uma equipe e eles notaram varias pedras em cima do terreno onde o minerio estava localizado, a equipe voltou, menos ela, que ficou encarregada de melhor estudar este terreno, se escondeu durante o dia, e logo ao escurecer viu o portão aberto, saiu para melhor reconhecer por fora daquela fortaleza, decerto os moradores deste lugar sabem do valor e da importancia deste terreno, pensava ela, porisso esta parede alta, portões e grades...e quando tentou voltar o portão fechado, ela não tinha consigo o aparelho de transporte, tinha deixado escondido no abrigo, um tipo de casinha com um pequeno portãozinho....e foi quando viu Paulo vindo, criou coragem e.....agora voce esta' aqui, em nossa nave mãe, e estamos indo em direção ao nosso sistema solar e ao nosso planeta Borax....

Paulo ouvia a explicação e por dentro sorria....aquilo, aquele terreno, aquele ponto a que ela se referia era o cemiterio, lugar sagrado e abençoado...cemiterios tem poderes proprios, tem vida propria, tem energia, tem fogo '' fato'', como dizem, irradiam energias dos corpos por ali enterrados, os ossos são sagrados tambem e não se desintegram assim como cabelos..e tudo isto junto forma uma energia sem fim, sem contar com ...'' fantasmas, espiritos e lendas e lendas...mentirosas ou verdaderias, não importa...'', tudo isto junto cria vida...cria energia...e foi esta energia toda que a nave captou...e Paulo tudo 'a ela explicou, ela ouviu e entendia...ossos!!! cabelos!!! isto ela não entendia e muito menos enterrar...

Nosso mortos colocamos em uma camera de desintegração instantanea, em segundos nada resta, nada fica...apenas sabemos que um dia existiu, nada mais...então era isto, foi isto que aconteceu...captamos esta energia e não sabiamos o que era, como lidar com ela....mais uma lição para aprender, voltaremos a este assunto...mas

Como eu chamarei voce...eu sou Zorah, e voce?

Enlevado, Enlevado Martins....um criado`as suas ordens...

Enlevado....voce não e' obrigado a ir conosco, a seguir viagem, se voce não quiser, devolvemos voce no exato momento em que voce de mim se aproximava de mim e de nada voce se recordara'...a decisão e' sua...o que voce decide?

Paulo fechou os olhos, lembrava-se das horas em que ficava deitado de barriga para cima, enlevado, sonhando com viagens espaciais, chegando ao longe nas vias estelares...sonhando que em alguma galaxia distante haveria uma Stella estelar linda e sensual esperando por ele....nem pensou, muito menos pestanejou.

E hoje no planeta Borax, milhões de anos-luz do planeta Terra tem um terraqueo sonhador chamado Enlevado Martins, casado com Zorah, que na tradução de sua lingua significa '' estrela '' e que no antigo idioma italiano se chamaria '' Stella '', que tambem significa

'' estrela''..., e tem tambem alguns pequenos Enlevados e Zorahs Stellas estrelas por la'...e prometem, os dois, muitos e muitos mais pequenos baixinhos....

A felicidade, a alegria de viver, a vida...pode não estar onde o ser humano quer que esteja...tudo isto pode estar onde menos se espera....aqui na terra ou no espaço sideral...afinal tudo pode acontecer neste mundão sem fim...neste Universo ainda desconhecido e que todos nos ansiamos por descobrir...tem tanta coisa, tanto misterios ainda por desvendar....que ano velho vai embora, ano novo chega, e chegamos 'a conclusão que temos muito ainda por aprender...nada sabemos, hoje...um dia saberemos!!!!

****************************

WILLIAM ROBERTO CUNHA
Enviado por WILLIAM ROBERTO CUNHA em 01/01/2011
Código do texto: T2703094