Vento no campo de trigo
José Passou pela vida como vento no campo de trigo...forte, repentino e breve.
Nasceu sob o sol escaldante do nordeste; mais um José com tão pouco para repartir a fome com tantos.
Foi agraciado pela mão divina por ter alcançado a idade de menino; menino de seis anos que trabalha na carvoaria como metade de seu pai de trinta e recebe um quarto da diária de 10 conto.
Em meio a fumaça sua lágrima se funde com o suor, riscando de branco o pequeno rosto negro de um tom mais preto pelo pó do carvão.
Dois anos se passavam, na labuta de um dia atrás do outro; sem compromisso, na decepção do sol nascendo; no triste fim do sonho de uma noite morrendo.
José no milagre da sobrevivência se encontrava com oito anos...não se revoltava nem ao menos se rebelava...não tinha tempo; era apenas mais um dos dez irmãos que brincava com os ossos brancos da vaca morta a tempo no chão do tempo.
A secura da terra só não era maior que o seco coração menino, e a solidão implacável do agreste abraçava por inteiro sua alma pequena.
Mas a divindade que deu a José o sopro da vida se comoveu com seu presente de nada ter e seu passado de nada tinha...mandou a morte a terra com seu negro e longo manto.
A morte quando na terra encontrou José em meio a capina, lançado semente de trigo no solo infértil que nunca germinaria; e a morte morrendo em seu contidiano sorriu...um raro instante de bondade, levou o pequeno corpo de José, como um pacote, no seu colo e embrulhado em seu manto.
E assim se foi José na morte...como o vento nos campos de trigo que nunca nasceu...suave, infinito e eterno.