Conto sem título (2)

Um pouco longe das pessoas estava uma garota segurando uma flor e observando o enterro. É Joana a namorada de Jonas antes de ele morrer, foi visitar o túmulo no aniversário de morte do rapaz.

- Até ela está vendo o seu enterro – disse o filho.

- Não sei nem o que falar, eu disse tantos absurdos sobre ela naquele dia.

Carla viu Joana de longe e chamou-o para ficar junto no enterro. Joana chorou tanto pelo aniversário de morte de Jonas, mas Carla disse para ela não se culpar, pois foi uma vítima em quem Álvaro descontava a raiva.

- Lembra dos nossos momentos felizes? Pergunta o filho.

- Claro, como esquecer daquele dia em que com muito custo consegui ensinar você a andar de bicicleta sem as rodinhas.

- Lembra quando aquele valentão sempre queria me intimidar e me metia medo?

- Claro, você chegava em casa chorando, eu te ensinava que não aquilo não era motivo para chorar e que você devia enfrentar o garoto, só assim ele te respeitaria.

- Quando eu resolvi enfrentá-lo levei um soco na cara e mais uma vez voltei chorando para casa. No dia seguinte ele queria me bater de novo, mas você apareceu com o diretor da escola, valentão nunca mais tocou em mim, só para cumprimentar, viramos amigos para sempre.

- Lembro também de outras coisas, da vez em que você ficou um mês tentando me convencer a comprar um videogame novo. Você fazia de tudo, tirava notas altas para mostrar que merecia, fazia coisas pra mim, depois de tudo isso eu comprei o videogame.

- Eu era persistente e batalhador, quando colocava alguma coisa na cabeça não havia quem me fizesse esquecer.

- Nossa relação de pai e filho teve ótimos momentos, mas começamos a nos distanciar.

- Os seus negócios estavam começando a crescer em uma proporção assustadora. Quando eu tinha por volta de 17 anos sentia falta do meu pai, do velho amigo com quem eu podia conversar sobre tudo. Você estava cada vez mais preocupado com o trabalho e com o dinheiro, seu patrimônio cresceu muito em pouco tempo.

- Eu achava que tinha que ganhar muito dinheiro para dar tudo que você quisesse, dei um carro zero km para você, dei roupas de marca. Que ignorante eu era, devia saber que você precisava de outras coisas.

- Lembra do ano do vestibular?

- Claro que sim, briguei com você, pois queria que estudasse para ser um empresário e administrar um de minhas empresas.

- Eu queria passar no vestibular de medicina, sonhava em cuidar das pessoas e melhorar a saúde nesse país. Você duvidou que eu fosse passar em medicina, mas meus estudos mostraram o contrário, Universidade Federal e mais duas universidades estaduais, esse foi o resultado da minha determinação. Depois de provar que eu conseguia você me deu um carro que custava caro e era desejado por muitos garotos. Fiquei feliz por ganhar um carro, mas sentia falta das nossas conversas de antigamente.

- Eu fui me distanciando cada vez mais dos meus entes queridos, minha relação com vocês começou a esfriar, mas minha ambição misturada com a minha ganância me tapou a visão para isso. Eu só pensava em dinheiro e planejava como conseguir mais. Quando foi que nossa relação começou a piorar?

- Quando eu comecei a namorar a Joana.

- Estava tudo muito bem, eu estava muito feliz por você ter achado alguém para namorar. Mas eu descobri que ela era filha do dono de uma empresa que concorria comigo no mercado publicitário, estávamos sempre brigando pelos negócios mais importantes.

- Aí você ficou indignado e começou a descontar nela, acusou-a de me usar para espionar o concorrente de seu pai.

- Eu não tenho orgulho de nada disso que eu fiz, tratei muito mal uma moça inocente que nada tinha a ver com as minhas relações negociais. Se eu pudesse voltar ao passado e consertar tudo.

- Não adianta sofrer por isso agora pai, você teve tempo para se arrepender e pedir desculpas, mas não o fez. O dinheiro te corrompeu de uma forma amedrontadora, de um pai-de-família você se tornou um mero administrador da casa, como se não tivesse qualquer vínculo com os moradores. A mamãe ainda preparava seu jantar, dedicava um carinho enorme por você, pois trabalhava demais e precisava ser cuidado quando chegava em casa. Ela me dava broncas quando eu falava mal de você, a dedicação dela era cada vez menos correspondida e ainda por cima você tratou de arrumar uma amante depois que eu morri. Você já foi um homem valoroso, ligado à família, mas virou apenas mais um homem com muito dinheiro. Você nunca parou para pensar no mal que fez aos que te amam?

Farah
Enviado por Farah em 14/11/2006
Código do texto: T291409
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