FRONTEIRA DO SILÊNCIO 
 
                                     Capítulo I

 
   Vovô! Que bom que o senhor está comigo. Eu pensei que ia ficar sozinho, porém mamãe disse-me que o encontraria aqui. Eu não queria vir, mas escutei o médico falar baixinho para minha mãe que não havia mais chance de cura. Vi muitas vezes minha mãezinha cabisbaixa e chorosa tentando esconder a tristeza. Eu ficava triste também, no entanto tinha esperança de ficar bom. Acabei vindo para cá e a última coisa que me recordo foi de mamãe dizendo que eu o encontraria e que o senhor cuidaria de mim. Fico feliz de tê-lo encontrado, assim não me sentirei tão só.
 
   Raimundo estava feliz. Apesar da tristeza do acontecimento com o neto que desencarnara em tenra infância vítima de uma leucemia, pelo menos estava lá para cuidar do menino a quem nutria grande afeto e que não ficaria desamparado entre os demais irmãos da colônia. Não obstante a fraternidade dos demais, a presença do avô deixaria a criança mais segura por sentir-se protegido pela figura do avô paterno.
 
   Aquela manhã de primavera transbordava paz por todos os cantos. Os jardins floridos e as borboletas bailando sobre as flores, os pássaros em frêmitos de galanteios às fêmeas com seus cantos maviosos, as abelhas em busca de néctar, o sol brilhando e iluminando tudo e as pessoas confraternizando-se e sorrindo. Raimundo estava feliz por ter finalmente recebido o neto que tanto amava.
 
   Sentados à beira do riacho enquanto atirava pedrinhas na água límpida e transparente, Miguel conversava com o avô e perguntava que lugar era aquele e por que estavam ali, como foram parar lá. Sua cabeça era puro questionamento e esperava a resposta do avô. Raimundo olhou para um lado distante, franziu a testa e disse para o neto que ele havia ido para lá por causa da enfermidade que o acometera e que o tirou da companhia de sua querida mamãe, contando-lhe tudo desde a descoberta da doença, o tratamento realizado sem resultado satisfatório e o desfecho com seu desencarne. Sobre o lugar em que estavam, limitou-se a dizer ao neto que era naquele lugar que a vida continuava depois que as pessoas deixam a vida na Terra, sem entrar em detalhes por entender que o neto não compreenderia e que o futuro se encarregaria de fazê-lo descobrir tudo. Quanto à vinda do avô, este se propôs a contar desde que o neto ouvisse com atenção os detalhes da narrativa, por tratar-se de uma longa história.
 
   Miguel conformado em saber que havia desencarnado por causa da leucemia, não pediu outros esclarecimentos ao avô, cobrando deste que narrasse como havia chegado àquele lugar. Sentadoao lado do avô e fez-se de ouvinte atento a narração da história. Soprava uma brisa suave enquanto Raimundo em silêncio parecia rebuscar na memória os detalhes de sua desventura que culminou com seu desencarne. Em seguida olhou para o neto ao seu lado e começou a relembrar os fatos.

 
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Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 01/08/2011
Reeditado em 04/08/2011
Código do texto: T3133340
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