FRONTEIRA DO SILÊNCIO
 
                                      Capítulo IV
 
         O sol se levantara no horizonte. A noite estrelada dera lugar a um azul com tons de amarelo avermelhado. Algumas nuvens escondiam as estrelas no céu. O mar agora tinha uma cor azulada. Pequenas ondas balançavam o tablado que me servia de tábua de salvação e eu me deixava levar sem rumo vencido pelo cansaço. Passei toda a noite esperando e não fui resgatado. Amanhecera. Agora, tinha certeza que apareceria o resgate. Olhei em volta e só via o mar, olhava para o horizonte, e só via o céu, nuvens e alguma coisa que me parecia gaivotas. Gaivotas! Estaria sonhando? Fixei o olhar para ver se não me confundira e realmente eram gaivotas. Deus! Então estou perto de terra! Reuni forças e contei com a sorte, pois a corrente marinha me favorecia. Impulsionei o tablado batendo os pés na água procurando seguir em direção ao ponto onde avistei as gaivotas, evitando me cansar para não perder as forças.
 
      Finalmente depois de algumas horas consegui chegar ao local onde avistei aquelas benditas aves que me deram um sinal de sobrevida. Não era costa nem sequer uma ilha. Apenas uma bóia de sinalização no meio daquela imensidão. A bóia era ponto de apoio das gaivotas que voam grandes distâncias à procura de alimento e ali pousavam para descansar e então retornar para seus ninhos. Mas para mim que passara toda a noite e já metade daquela manhã dentro d’água era um palácio. Aproximei-me e após várias tentativas consegui subir na bóia cheia de limo, fezes das aves e mexilhões incrustrados. Não era muito grande mais ali eu poderia aguardar com mais tranquilidade a salvação. Com algum esforço consegui subir na bóia, abandonando o tablado que já começava a se desfazer em conseqüência das ondas.O excremento das gaivotas estava por toda parte e cheirava mal.Tentei limpar jogando água e esfregando os pés, conseguindo retirar boa parte, no entanto ficou alguma coisa, pois o sol e o sal da água se encarregaram de fundir as fezes com a ferrugem. Resolvi aceitar a situação afinal era melhor que ficar na água sobre aquele frágil pedaço de madeira.
 
      O dia foi passando, o sol ficando mais forte e me causando tonteira. Coloquei a camisa sobre a cabeça e amarrei a calça a guisa de sinalização na esperança de ser avistado por algum navio afinal se aquela bóia estava ali era sinal que havia alguma rota de navegação por perto. O tempo passava, a sede aumentava, a minha cabeça pesava, e eu começava a sentir fome. Procurei ficar sentado entre as barras de ferro da bóia, me equilibrando e cuidando para não cair no mar, pois já estava me sentindo fraco. As gaivotas se aproximavam tentando pousar e quando me via alçavam vôo novamente. Mas elas precisavam descansar para retornarem. Sem alternativas pousavam desconfiadas, faziam um breve descanso e voavam novamente. Procurei respeitar o descanso das aves afinal foi graças a elas que consegui chegar até a bóia e me colocar a salvo pelo menos por enquanto. O dia passou e não apareceu nenhum navio. Minha ansiedade aumentou. “Será que não serei salvo? Deus! O que será de mim?” As gaivotas foram embora e o dia foi-se findando. O azul do céu foi dando lugar a uma cor laranja-avermelhada e o sol se recolhia a cada segundo até deitar-se totalmente no horizonte. Eu já havia visto muito por do sol mais nenhum se comparava àquele. Que obra de arte da natureza! Do outro lado a lua já imperava no firmamento com toda sua beleza. O cansaço me dominou e me acomodei do jeito que podia no pequeno espaço sobre a bóia, tentando dormir para recuperar as energias que já se esvaiam.

 
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Cônsul POETAS DELMUNDO – Niterói – RJ
Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 04/08/2011
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