Avião de papel

Foi por aquele canto. Estava dobrado. Descansava entre os outros avultando um pouco. A mão aproximou-se levada do olho e um dedo deslizou-se entre as páginas. Pegou todo o lote e separou pela marca. Retirou o papel e volveu o resto aonde estava.

Ao começar desdobrou o canto dobrado, o que tinha chamado o seu olhar e este o seu desejo e, por último, a sua mão. Depois dividiu a superfície à metade. Pressionou firme a ondulação enrugada passando os dedos ao longo e ao largo do papel.

Mediu com precisão o triângulo entre uma das abas e o extremo, antes centro, agora limiar. Dobrou. Fez o mesmo com a aba paralela do outro lado. E dilatou de novo a pele estremecida da superfície branca a fim de definir o novo traço.

Um bico tinha aparecido no ponto comum dos dobramentos e verificou pelo tacto que era da natureza prevista. Ligeiro para olhar alto, liso e fino para avançar com precisão. Dobrou novamente pelo mesmo lugar, primeiro um dos triângulos, depois o paralelo do outro lado.

Olhou o resultado. Comprovou de novo a ponta. Equilibrou as asas. O carnoso calor das mãos demorou um pouco aninhando a construção. E, finalmente, lançou-o. Frágil, mas decidido, o avião de papel sulcava o tempestuoso ar de aquela reunião.