Depois de dez anos de namoro,  fazendo sexo duas vezes ao dia, às vezes três, finalmente se casaram.  Agora os dois partilhavam a camaradagem de antigos amantes que não precisam mais fingir. Que alívio, ela pensava, não ter que fingir. E então pensou em algo mais agradável para melhorar sua própria vida. Um marido substituto talvez... A quem ela não precisasse ajudar a desatar o laço da gravata, que tirasse suas roupas rapidinho e entrasse com  entusiasmo... na cama. Ela iria deixar-se possuir porque precisava disso, mesmo sem estar apaixonada.
            Começou a pensar, mas não gostou muito de seus pensamentos, porque eles a faziam ficar com medo. Ergueu-se da cama, atravessou o quarto em direção à cômoda pegou um copo e serviu-se daquela bebida que ele havia inventado: creme de leite, creme de menta, conhaque e vodca. Pegou o copo com as duas mãos e levou-o aos lábios. O copo bateu antes em seus dentes antes que ela conseguisse engolir. Ela sabia que aquilo ia fazê-la vomitar e quanto mais depressa isso acontecesse, melhor ela iria se sentir.
            Vomitaria junto com o líquido branco o amor por pena, a representação. Tinha que chegar até o banheiro e vomitar, mas  o banheiro parecia estar a quilômetros de distância... Além da porta vislumbrava a banheira limpíssima.
            Não acabou –pensou.- Está só começando.
            Tornara-se completamente alheia.