Noite Bukowskiana

Não se nega um drink oferecido por uma mulher bonita, é um pecado. E eu não estava disposto a heresias naquele momento. Eu sorri de volta e aceitei o líquido vermelho. Quando eu havia puxado o tubo de ensaio, tinha apenas um pouquinho dele dentro. Não dava nem para um gole. Um gole meu. O líquido vermelho saiu de uma garrafa verde, com um rótulo amarelo, eu não me lembro qual era o nome. E também não era ruim, a moça simpática encheu o tubo e eu o matei em duas cacetadas. Achei o tubinho de ensaio bonitinho, resolvi guardá-lo, mas na primeira mesa que encostei eu o larguei.

Até pensei em voltar para buscá-lo, mas esse pensamento foi logo deletado, que se foda o tubinho de ensaio, nosso tempo junto havia terminado. Ele não tinha qualquer utilidade mais para mim além da nostalgia que poderia me provocar. Peguei minha garrafa de cerveja, brindei com meu amigo e fui escolher um LP.

Eu sempre escolhia LP naquele bar. Mesmo que nunca tivesse tido a oportunidade de ouvir minhas escolhas. Havia muita demanda de LP. Mas ficar passando e lendo o nome daqueles discos enfileirados, era para mim uma grande atração. Tudo combinava: cerveja gelada e LPs. E para combinar mais ainda, a garotinha ruivinha se encostou em mim. Chamou a minha atenção e começou a dançar levantando o vestido. Achei interessante, dei um grande gole e um sorriso imenso para ela. Sua dança ficou mais frenética o vestido subiu ainda mais. Eu tava quase de pau duro.

Dei outro grande gole na cerveja e minha garrafa acabou. A ruivinha se esfregava em outro também, um grandalhão que parecia estar entretido com outra coisa e nem sentia o corpo da ruivinha. Eu dei duas batidas no ombro dele, John Lennon cantava Help:

- Ei cara, - eu disse um pouco mais alto – arranja uma moedinha ai.

Apontei para a ruivinha e saí. Meu pau ficou normal de novo. Começou a faltar alguma coisa e o cenário já não combinava mais tanto. Fui buscar outra cerveja. Outra atendente bonita e simpática, mas desta vez não me ofereceu nada além do que pedi. Voltei para o meu amigo.

Ele era simpático, sentava-se sempre com um sorriso na cara e as vezes dava uns bons goles na cerveja. Eu admirava caras que davam bons goles na cerveja, por isso saía com ele. Mas ele conseguia ficar quieto, eu não. Eu estava sempre andando, dançando, mijando, pegando cerveja, conversando com uma menininha, ou olhando a bunda delas dançarem.

Meu amigo tinha uns amigos que eu pouco me entrosei. Muitos eram casais com mulheres bonitas e eu já estava bêbado a muito tempo, poderia não dar certo. Preferia me afastar dos casais com mulheres bonitas.

Meu amigo Mark quis ir embora. Eu só saio de bar quando os outros me levam. Ou quando sou expulso. Mark preocupava-se com a fila enorme para pagar que se formava. Eu não gosto de filas. Detesto filas, acho patético pessoas enfileiradas, ansiosas e esperando algo. Neste caso, era para pagar, o que me fazia odiar mais ainda a fila.

- Eu tenho um atalho.

Falei para ele. Ele duvidou, mas eu tinha. Era um atalho por trás, com um balcãozinho e uma mulher bonita segurando uma maquininha de cartão. Poucos sabiam da existência dela. Eu era um deles, e me senti orgulhoso por isso. Tão orgulhoso que peguei outra cerveja. Já nem agüentava mais beber, estava fazendo isso desde quando tinha acordado. Eram quase quatro da manhã. Mas o meu orgulho estava inspirado.

Pagamos. Saímos do bar, meu amigo se despediu de mim. Íamos cada um pra um lado da cidade. Vi meu amigo chamar um táxi. Eu gostava dele. Cara legal, bebia cerveja. Olhei para o bar. Era uma casa antiga, tinha uma luz verde iluminando a fachada. Lembrei que eu também gostava daquele bar e seus LPs.

Comecei a andar em direção à minha casa, estava muito bêbado, mas ainda tinha uma cerveja e, enquanto a tivesse, beberia até a última gota. Vi um velho sem dente vomitar ao meu lado. Ele quase cai, eu sorri e dei o maior gole que eu podia aguentar na minha cerveja.

Dei boa noite para o velho e segui caminhando. O sol ainda nem fazia sinal de sua existência, eu ainda mamava da minha garrafa, não havia mais bundas, não havia mais LPs. Eu seguia só. Com minha garrafa.

Malluco Beleza
Enviado por Malluco Beleza em 28/04/2012
Reeditado em 06/05/2014
Código do texto: T3637739
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