O resgate do Pardal



Não sei se pelo meu en (canto), como disse um amigo do Fotolog, mas os pássaros me namoram.
A foto é a frente de casa. Lá em cima havia um espaço sob as telhas que pedi para colocarem cilindros de jornais. Eram muitos ninhos e muito cocô também, que caia em qualquer coisa que estivesse embaixo: plantas, cabeças, cadeiras, caqueiros, etc...
Adiantou? Não. Os jornais viraram algo cimentado e não saem mais e eles continuam entrando, saindo, dançando e cantando. Dizem qu é ruim ter pardal em casa, mas nem dou crédito.

Outro dia ouvi um alvoroço, ou guerra ou namoro, ou festa, entre eles... Fui ver e um estava pendurado, preso em um pedaço de linha de novelo para crochê, uns 20 cm. biquinho aberto e pulmões a estourar. Cheguei à varanda e a gritaria dobrou; voavam em torno de mim e diziam: tira, tira, salva, salva! Rápido, rápido! Escada colocada, mas sem ninguém para segurar, não subi.

Chamei a neta da vizinha, 16 anos, aparentemente disposta e resolvida, mas com medo de entrar por causa de Isabeau (a cadelinha) e também de subir na escada, de segurar a tesoura e do pardal pendurado também. Resultado: agradeci e ela foi para casa.

A cobrança triplicou. Peguei um graveto grande, que trouxe do mato faz quatro anos e tem uma fenda em uma das pontas; graveto em uma mão e tesoura na outra. Consegui fazer com que o cordão entrasse na fenda e fui girando o graveto até o cordão desprender-se do ninho, porém, com o coração aos pulos, porque o pardal podia cair ou o cordão  soltar-se do graveto e ele rodar, rodar...até ficar tonto coitado.

A estória é longa, vou resumi. Arranjei mais duas mãos não sei onde; com uma segurei a avezinha com carinho, com outra cortei a linha, a outra baixava o graveto sem deixá-lo balançar e a outra tentava afastar os biquinhos diversos, perto de mim. Eu dizia: calma, calma, estou livrando seu amigo e falava baixinho com o que estava em minha mão. Era um alvoroço total!
mas eles confiavam em mim e eu neles.

Ninho de pardal tem de tudo, quem vê, sabe. Fui cortando fio aqui, palha ali, plástico, papel de picolé, uma variedade de coisas que iam caindo ou grudavam. E os amigos: Chega, tá bom! Solta ele! Tudo livre, mas uma pulseira na perna de um fio mais grosso ficou; era preciso uma tesourinha e muito cuidado; Ele não esperou, talvez por encantamento, e inflado de alegria, debateu-se e, virando a cabecinha em minha direção, gritou obrigado! E os outros fizeram uma passeata aérea com o amigo, que durou o resto do dia.

A varanda silenciou.


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(Imagem: Pardais no cajueiro do quintal, hora de dormir)
(inspirado em um comentário de Erton, amigo fotologuista)