O RASTEJANTE



Deixe-me ficar aqui nesta mesa ouvindo esta música que fala de lamentos que não sei explicar, mas que consegue adentrar nessas carnes sangrentas que imploram e imploram sem revelar o que querem. Dê-me um gole de algo para aliviar este vácuo e esta secura infindável. Não – não tente me explicar nada, eu não quero saber, não seja tolo, entenda ser semelhante a mim e que apenas não se corrói, talvez, ainda. Sim, eu apenas quero esse silêncio capaz de escurecer minha desfigurada figura. Traga logo minha bebida e vamos dançar pelo salão, mas não acenda a luz para que nossos reflexos não incomodem ninguém, simplesmente vamos nos soltar na desenvoltura lenta de nossas vidas precárias e magníficas. Eu vou me arrastar por ruas e vidas de pessoas e cidades distantes. Não, não pense que choro, isso não é verdade, já descobri que chorar não vai resolver o dilema. Saiba que não há nada a ser feito, não, não há. Pare com essa loucura de querer abrir meus olhos; eles não estão cerrados, eles enxergam tão bem quanto a luz do sol que clareia o concreto lá fora. Eu só quero encontrar o efeito capaz de aniquilar essa aniquilação, só quero saber realmente qual é o caminho que me traga o que de fato consiga suprir-me, suprir-me, suprir-me. Estou tão exausto devido os buracos que já perfurei. Dê-me mais um gole forte desse analgésico, pois ele até consegue me esconder de mim mesmo e não estou a fim de encarar este rosto que não sei a quem pertence...

 


Por: Valdon Nez
28 agosto 2012

Valdon Nez
Enviado por Valdon Nez em 28/08/2012
Reeditado em 28/08/2012
Código do texto: T3853827
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