Dona Luisa Almeida e a llimpeza

A casa da senhora Luisa Almeida era impecável. Tudo luzia e reluzia, tudo, panelas, pia, fogão, mesas, até o tanque era esfregado diariamente. Flores eram colocadas nos vasos, nunca chegavam a murchar, já eram trocadas de imediato ( credo que a gente não pode nem morrer sossegada, essa louca já vem apressar tudo, diziam as flores ) assim que ela visse alguma pétala meio descompensada. As camisas do marido impecavelmente engomadas, ele sentia certa coçeira na nuca mas deixava passar, afinal ela era tão prestimosa! O jardim era cuidado com zelo, tudo era cuidado com zelo - tudo, menos a senhora Luisa Almeida; foi ficando magrinha, nervosa, não se podia entrar na casa de sapatos, não, não voce vai sujar tudo, trazer bactérias da rua, começou a usar uma espécie de jaleco branco, de pálida tomou um tom esverdeado, voce colocava a xícara de café que ela lhe oferecia e ela já estava de pano em punho para limpar o farelo de pão da mesa, seu semblante adquiriu um ar sofrido e tenso, os filhos não podiam convidar os amigos e nem passar pela sala de jantar que permanecia fechada, engomava até as calcinhas da filha que se irritava sobremaneira com esse hábito, quando se sentava a bendita emitia um som surdo, crec,crec, motivo de riso e desconfiança dos amigos; dona Luisa foi ficando doente, o psiquiatra foi chamado para decidir, não comia para não sujar panelas, só bebia água para não sujar copos com sucos; o marido cansou, arranjou uma senhora simpatica que absolutamente não era prestimosa, deixava tudo jogado, a senhora Luisa Almeida está internada numa clínica para os que sofrem de sistema nervoso abalado. Não, não está mais nervosa, ao contrário - limpa tudo o que encontra pela frente, tudo. Cada um acha seu nicho para ser feliz. Ponto final. Simples como a vida e como o conto.

Vosmecê
Enviado por Vosmecê em 03/10/2012
Reeditado em 04/10/2012
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