O Dia do Meu Silêncio

É noite – especificamente, às 22:37 – e passeio por ruas que se mostram silenciosas, solitárias e um tanto carentes. Em cada passo que sigo, sinto as esquinas mais vivas e, ao mesmo tempo, vejo essa taciturnidade me impulsionando ser, sem avisar, um misantrópico. E quando resolvo cessar essas sensações, um pouco aliviado pelos segundos de liberdade, sento numa mesa de bar. E incorporando a introspecção – SEMPRE -, observo as ações alheias.

Às 23:09 presencio um bêbado expondo o seu melhor potencial "artístico", porém não conseguindo à atenção do público, mas, claro, somente a amabilidade de uma garota bonita e simpática, e de mim. Ao olhar para o outro lado, avisto uma mesa rodeada de meninas me fitando com sondagens nada receptivas e, sem graça, volto o cuidado para o bêbado solitário, procurando explicações sobre aquelas encaradas desconfortantes. Do céu caem as primeiras gotas, anunciando que a chuva não será passageira. Um frio instantâneo toma conta do ambiente. Logo uma garota escolhe uma canção bem dançante, e, com provocações, espanta qualquer inércia e ganha a atenção de todos do local – as chances do bêbado se foram. Coitado!

Já são 23:28, e termino a minha primeira garrafa. O garçom me serve outra cerveja e, neste instante, resolvo olhar e desafiar novamente a mesa das meninas "mal encaradas", mas percebo, agora, outro acolhimento. Percebo sorrisos, piscadas e outras insinuações – vai entender as mulheres! Mesmo tendo certeza do perfeito abrigo que teria com elas, o meu inferno pessoal me impede de qualquer aproximação, pois sinto que a minha introspecção será a única companhia por hoje.

Com o passar dos minutos, o ambiente começa a ficar desinteressante e, então, viajo nos meus pensamentos. No vai e vem das minhas reflexões, procuro ser solicito com os questionamentos que destaco: silêncio, solidão, insegurança, segurança – às vezes, na balança, os dois pesando ao mesmo tempo -, "amizades", amores imperfeitos, etc. Como sempre, não chego a nenhum resultado. Esses pensamentos vão se sustentando e criando forma por um longo e tortuoso tempo. Quando volto em si, já bebi 5 (cinco) cervejas e peço, imediatamente, a sexta. E já são 01:03.

Chega uma turma – 2 (dois) garotos e 3 (três) garotas - de carro, parecendo que vieram de uma festa. Todos felizes, principalmente o casal que, colados, iam em direção à mesa, nem se importando para os amigos. Via algo surpreendente neles, sei lá... Tanta verdade. Tanta cumplicidade... e tanta "sacanagem poética", ali! Bem visível! Bem perceptível! Bem vivo! Com os seus detalhes esparramados por todos os lados. Os outros, conversando, nem se incomodavam com aquela energia contagiante. Que perfeito! Depois de algumas algazarras e duas cervejas, o quinteto foi nessa.

E tudo do nada, paira novamente... E, munido de tédio, me vejo querendo ir embora... Quando, às 01:25, milagrosamente, alguém escolhe a canção "You and I Both", e isso, de imediato, desanuvia a minha mente. Sinto que era tudo o que eu precisava, e que poderia fechar o momento com mais uma cerveja e, então, me desligar daquela noite. E foi isso que aconteceu, no dia em que o silêncio resolveu me abraçar e me levar tão a sério. O silêncio me guiou, através da sua indelicadeza fina e leve, para situações embaraçosas, para conselhos sagazes e "tapas na cara" indispensáveis.

Encerro, então, a madrugada às 01:58...

Rômulo Sousa
Enviado por Rômulo Sousa em 04/04/2013
Reeditado em 15/01/2015
Código do texto: T4222706
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